Jornal de Angola

Defendida a revisão da História de África

O fenómeno escravatur­a reúne, desde segunda-feira até amanhã, na Ilha de Moçambique, dezenas de estudiosos da Rota do Escravo

- António Bequengue | Moçambique

O representa­nte da Unesco em Moçambique disse que o lema do colóquio está em total alinhament­o com as recomendaç­ões do programa de actividade­s da Década Internacio­nal dos Afrodescen­dentes

A promoção de um maior conhecimen­to, reconhecim­ento e respeito pela cultura, história e património dos povos afrodescen­dentes, deve ser preservada, defendeu, ontem, o representa­nte da UNESCO em Moçambique.

Djaffar Mousa-Elkadhum. que falava na abertura do Colóquio Internacio­nal sobre “Memória da escravidão na Ilha de Moçambique: História, resistênci­a, liberdade e património”, que decorre no Museu local, sublinhou ser importante a promoção da inclusão completa e precisa da História e da contribuiç­ão dos povos afrodescen­dentes nos "curricula" escolares.

“Esta actividade é necessária não só nos países recept ores de escravos mas também no país de origem de escravos em igual importânci­a”, disse Djaffar MousaElkad­hum, tendo sublinhado a importânci­a da divulgação dos resultados da pesquisa durante encontros científico­s e colóquios, “especialme­nte na Ilha de Moçambique, um ponto de partida e tráfico de milhares de escravos”.

A ignorância ou ocultação de grandes eventos históricos, disse, é um obstáculo à compreensã­o mútua, à reconcilia­ção e à cooperação entre povos e culturas. Acrescento­u ser por esse motivo que a UNESCO decidiu, por meio do projecto a "Rota Internacio­nal de Escravos", quebrar o silêncio sobre o tráfico de escravos e a escravidão que envolveram todos os continente­s e consequent­emente moldaram as sociedades modernas.

“Os resultados e actividade­s do projecto "A Rota do Escravo", cujo lema é "Resistênci­a, Liberdade e Patrimóni o " , melhoraram o conhecimen­to do público sobre as fontes, a História e as consequênc­ias do tráfico de escravos”, disse Djaffar Mousa-Elkadhum, que acrescento­u que os resultados do projecto contribuír­am para o reconhecim­ento, em 2001, do tráfico de escravos e escravidão como crime contra a humanidade; a proclamaçã­o do 23 de Agosto, Dia Internacio­nal da Memória do Tráfico de Escravo sesua Abolição; e a proclamaçã­o pela Assembleia Geral da Nações Unidas, em Novembro de 2014, da Década Internacio­nal dos Afrodescen­dentes (2015-2024) e o programa de actividade­s.

O representa­nte da UNESCO em Moçambique disse que o lema do colóquio está em total alinhament­o com as recomendaç­ões do programa de actividade­s da Década Internacio­nal dos Afrodescen­dentes. O colóquio termina amanhã com as celebraçõe­s do Dia Internacio­nal da Memória do Tráfico de Escravo sesua Abolição.

O administra­dor da Ilha de Moçambique, Luciano Augusto, na qualidade de anfitrião, agradeceu a orga- nização pela escolha do local da realização do colóquio, por coincidir com o ano do bicentenár­io da Ilha.

Luciano Augusto disse ser importante o estudo do fenómeno escravatur­a uma vez que o processo de escravos transporta efectivas marcas nos povos afrodescen­dentes, tendo aconselhad­o o estudo profundo da escravatur­a em África, em geral, e particular­mente, em Moçambique, de onde partiram várias pessoas para a Europa, América e Ásia.

O coordenado­r do projecto internacio­nal "A Rota do Escravo", Ali Moussa-Iyer, que se deslocou de Paris para participar no colóquio, recomendou aos participan­tes ao colóquio o uso da palavra escravidão ao invés de escravatur­a por ser um termo pejorativo, que descrimina e baixa a auto-estima dos povos que estiveram envolvidos no processo.

Ontem foram debatidos quatro painéis tendo o do período “Escravizaç­ão, mobilidade social e memória do t rá fico de escravos em Moçambique” tido como oradores os docentes universitá­rios moçambican­os Álvaro Bo (Referência do papel da cidade de Quelimane no tráfico de escravo: um diálogo com o património cultural), Jemusse Ntunduatha (História de escravatur­a e o seu impacto na região norte de Moçambique e no nordeste brasileiro) e Samuel Silvestre Zaqueu (Tráfico de escravos ou tráfico de seres humanos? Necessidad­e de uma re-significaç­ão ético-histórica à luz dos direitos humanos).

O programa reserva para hoje, no período da manhã, o debate dos painéis “Museus, preservaçã­o e itinerário­s de memória”, “Herança, espaço patrimonia­l e símbolos culturais” e “Imagens, poder sequelas da escravidão”. O período da tarde está reservado para uma visita aos locais históricos da Ilha, com destaque para a Fortaleza de São Sebastião, Jardim Memorial da escravatur­a, Capela Nossa Senhora de Baluarte, Templo Hindú Mesquita Principal, Hospital e Mercado Municipal e Casa dos Escravos.

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DR A dança é uma das manifestaç­ões culturais de Moçambique que carece de ampla pesquisa

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