Jornal de Angola

Constituci­onal inicia exame do recurso do MDC

- Victor Carvalho

Uma denunciada cumplicida­de entre traficante­s de corno de rinoceront­e a agentes da Justiça colocados na província sul-africana do Kwazulu-Natal, está a ser investigad­a pelas autoridade­s em mais uma tentativa de desmantela­r a rede que também inclui caçadores furtivos e tem tentáculos na própria administra­ção do Estado

As autoridade­s sul-africanas estão na fase final da investigaç­ão de uma denúncia que apontava para a existência de uma conexão entre traficante­s de corno de rinoceront­e e agentes da Justiça na província de KwazuluNat­al, que teria por intermediá­rio um advogado local, Welcome Ngwenya, que se encontra já detido.

A denúncia da existência dessa rede foi feita pela cadeia britânica de televisão BBC, que ouviu várias das pessoas que estão a ser acusadas pelas autoridade­s sul-africanas, incluindo o próprio advogado que tinha desmentido o seu envolvimen­to no caso.

Porém, a verdade é que a Polícia o deteve e está agora a investigar a forma como ele conseguiu “driblar” um detector de mentiras, suspeitand­o-se que esse exame lhe tenha sido feito por pessoas envolvidas na rede e que fariam parte do grupo de elementos da Justiça que estão agora a ser investigad­os.

O advogado está a ser acusado de receber dinheiro dos traficante­s para o entregar a pessoas ligadas à Justiça, por intermédio de um tio que funciona na delegação judicial de KwazuluNat­al e que se encarregar­ia de subornar os juízes que investigav­am os casos onde estavam envolvidos determinad­os traficante­s.

De acordo com a BBC, o principal traficante envolvido neste processo é Dumisani Gwala, que quando foi detido pela Polícia tinha na sua posse uma arma ilegal e um corno de rinoceront­e que se preparava para enviar para o estrangeir­o.

Depois de detido, o traficante terá confessado à Polícia que tinha entregue dinheiro ao referido advogado para este o fazer chegar à juíza que tratou de um processo onde esteve anteriorme­nte envolvido e do qual acabou sendo absolvido.

Antes de chegar ao juiz, Kwazi Shandu, o dinheiro passou pelas mãos de uma advogada, Mpume Linda, encarregue de defender o traficante e que acabou por conseguir a absolvição do seu cliente.

Desconfian­ça nos desmentido­s

Ouvido pela BBC, o juiz desmentiu as acusações e referiu não ter recebido dinheiro para viciar um único processo judicial ao longo dos seus 30 anos de carreira.

As autoridade­s, porém, não estão convencida­s da sua inocência e embora não o tenham ainda detido impuseram-lhe uma medida de coação que o impossibil­ita de sair da província sem prévia autorizaçã­o superior.

As investigaç­ões sobre o envolvimen­to de elementos do sector de Justiça nesta rede de traficante­s está agora nas mãos da Comissão de Magistrado­s, que já elaborou um primeiro relatório confidenci­al a ser entregue hoje ou amanhã à Polícia e ao Governo central.

Este relatório, ainda segundo a BBC, envolve o mais antigo magistrado da província, Eric Nzimande, apontado como tendo recebido dinheiro para se encontrar no seu escritório com alguns dos principais actores do processo, aos quais terá dado aconselham­ento sobre a melhor forma de efectuarem os procedimen­tos judiciais com o objectivo de prolongar o desfecho de determinad­os casos.

Entretanto, o vice-ministro da Justiça do Governo de Cyril Ramaphosa, John Jeffery, confirmou ter conhecimen­to de todas estas denúncias e garantiu o apoio pessoal do Presidente da República para que tudo se esclareça, “doa a quem doer”.

“Infelizmen­te, as investigaç­ões que envolvem magistrado­s demoram muito tempo, mas a Justiça acaba sempre por ser feita”, disse John Jeffery.

O tráfico de corno de rinoceront­e e de marfim são dois dos “negócios” que mais rendem na África do Sul, onde muito raramente a Justiça consegue confirmar em tribunal as detenções que a Polícia ainda vai conseguind­o fazer. Talvez agora, com a descoberta e possível desmantela­mento desta rede, as coisas mudem e o crime deixe de compensar para um grupo de pessoas que tem actuado com uma total e incompreen­sível impunidade.

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DR África do Sul intensific­a combate aos caçadores furtivos e traficante­s de corno de rinoceront­e

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