Constitucional inicia exame do recurso do MDC
Uma denunciada cumplicidade entre traficantes de corno de rinoceronte a agentes da Justiça colocados na província sul-africana do Kwazulu-Natal, está a ser investigada pelas autoridades em mais uma tentativa de desmantelar a rede que também inclui caçadores furtivos e tem tentáculos na própria administração do Estado
As autoridades sul-africanas estão na fase final da investigação de uma denúncia que apontava para a existência de uma conexão entre traficantes de corno de rinoceronte e agentes da Justiça na província de KwazuluNatal, que teria por intermediário um advogado local, Welcome Ngwenya, que se encontra já detido.
A denúncia da existência dessa rede foi feita pela cadeia britânica de televisão BBC, que ouviu várias das pessoas que estão a ser acusadas pelas autoridades sul-africanas, incluindo o próprio advogado que tinha desmentido o seu envolvimento no caso.
Porém, a verdade é que a Polícia o deteve e está agora a investigar a forma como ele conseguiu “driblar” um detector de mentiras, suspeitando-se que esse exame lhe tenha sido feito por pessoas envolvidas na rede e que fariam parte do grupo de elementos da Justiça que estão agora a ser investigados.
O advogado está a ser acusado de receber dinheiro dos traficantes para o entregar a pessoas ligadas à Justiça, por intermédio de um tio que funciona na delegação judicial de KwazuluNatal e que se encarregaria de subornar os juízes que investigavam os casos onde estavam envolvidos determinados traficantes.
De acordo com a BBC, o principal traficante envolvido neste processo é Dumisani Gwala, que quando foi detido pela Polícia tinha na sua posse uma arma ilegal e um corno de rinoceronte que se preparava para enviar para o estrangeiro.
Depois de detido, o traficante terá confessado à Polícia que tinha entregue dinheiro ao referido advogado para este o fazer chegar à juíza que tratou de um processo onde esteve anteriormente envolvido e do qual acabou sendo absolvido.
Antes de chegar ao juiz, Kwazi Shandu, o dinheiro passou pelas mãos de uma advogada, Mpume Linda, encarregue de defender o traficante e que acabou por conseguir a absolvição do seu cliente.
Desconfiança nos desmentidos
Ouvido pela BBC, o juiz desmentiu as acusações e referiu não ter recebido dinheiro para viciar um único processo judicial ao longo dos seus 30 anos de carreira.
As autoridades, porém, não estão convencidas da sua inocência e embora não o tenham ainda detido impuseram-lhe uma medida de coação que o impossibilita de sair da província sem prévia autorização superior.
As investigações sobre o envolvimento de elementos do sector de Justiça nesta rede de traficantes está agora nas mãos da Comissão de Magistrados, que já elaborou um primeiro relatório confidencial a ser entregue hoje ou amanhã à Polícia e ao Governo central.
Este relatório, ainda segundo a BBC, envolve o mais antigo magistrado da província, Eric Nzimande, apontado como tendo recebido dinheiro para se encontrar no seu escritório com alguns dos principais actores do processo, aos quais terá dado aconselhamento sobre a melhor forma de efectuarem os procedimentos judiciais com o objectivo de prolongar o desfecho de determinados casos.
Entretanto, o vice-ministro da Justiça do Governo de Cyril Ramaphosa, John Jeffery, confirmou ter conhecimento de todas estas denúncias e garantiu o apoio pessoal do Presidente da República para que tudo se esclareça, “doa a quem doer”.
“Infelizmente, as investigações que envolvem magistrados demoram muito tempo, mas a Justiça acaba sempre por ser feita”, disse John Jeffery.
O tráfico de corno de rinoceronte e de marfim são dois dos “negócios” que mais rendem na África do Sul, onde muito raramente a Justiça consegue confirmar em tribunal as detenções que a Polícia ainda vai conseguindo fazer. Talvez agora, com a descoberta e possível desmantelamento desta rede, as coisas mudem e o crime deixe de compensar para um grupo de pessoas que tem actuado com uma total e incompreensível impunidade.