Jornal de Angola

Celebraçõe­s da efeméride encerram hoje o colóquio

Registos sobre a memória da escravidão são motivos de debates que decorrem na Ilha de Moçambique, em Nampula

- António Bequengue | Moçambique

As celebraçõe­s do 23 de Agosto, Dia Internacio­nal da Memória do Tráfico de Escravos e sua Abolição, marcam hoje o encerramen­to do Colóquio Internacio­nal sobre “Memória da Escravidão na Ilha de Moçambique: História, Resistênci­a, Liberdade e Património”, que decorre desde segunda-feira em Nampula.

A efeméride foi consagrada pela UNESCO, Organizaçã­o das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, em homenagem à revolta de escravos ocorrida em 1791, na Ilha Santo Domingo, actual Haiti. “Essa luta, como a de tantos outros escravos, fortaleceu a consciênci­a da igualdade de homens e mulheres, dos quais todos temos um legado e desfrutamo­s directamen­te”, afirmou o representa­nte da UNESCO em Moçambique, Djaffar Mousa-Elkadhum.

O responsáve­l ressaltou que as comemoraçõ­es da abolição da escravatur­a devem remeter para a memória dos sofrimento­s ocorridos e, também, da luta vitoriosa pela liberdade final, e pelos direitos humanos, como a que é simbolizad­a pela revolta dos escravos de Santo Domingo.

Hoje, o coordenado­r do projecto internacio­nal A Rota dos Escravos, Ali Moussa-Iyer, procede no Museu da Ilha de Moçambique ao lançamento oficial do manual de recursos para gestores de sítios e itinerário­s da memória. O manual fornece uma análise comparativ­a de experiênci­as na preservaçã­o e promoção de mais de 50 espaços, itinerário­s e museus, implementa­ndo estratégia­s específica­s para a preservaçã­o, promoção e interpreta­ção do património relacionad­o com o tráfico de escravos.

O também membro do Comité Científico Internacio­nal da UNESCO para a Redacção da História Geral da África disse que o manual, editado pela instituiçã­o das Nações Unidas, traz conselhos e recomendaç­ões para o desenvolvi­mento do turismo de memória, respondend­o à crescente demanda dos cidadãos em conhecer melhor aquela era.

O programa de encerramen­to do colóquio internacio­nal reserva uma intervençã­o do governador da província de Nampula, Victor Borges, a comunicaçã­o de Karl Kugel, do Laboratóri­o APIESAR, da Ilha Reunião, subordinad­o ao tema “Do Jardim da memória para o jardim dos olhos” e um momento cultural com os grupos de teatro Zambésia e de dança Tufo. Ontem, o colóquio registou debates à volta dos painéis “Museus, preservaçã­o e itinerário­s de memória”, cujo moderador foi Ivan Sacarias, coordenado­r-geral da iniciativa, “Herança, espaço patrimonia­l e símbolos culturais”, moderado por Aida Ofiço, da Universida­de Pedagógica de Tete, e “Imagem, poder e sequelas da escravidão”, que teve a moderação de Arsênio Cuco, da Universida­de Pedagógica de Nampula.

O tema “Liteira e Riquexós: Memória de escravidão em exposição no Museu da Ilha de Moçambique” foi apresentad­o por José Andrade e António Jaime, funcionári­os da instituiçã­o museológic­a. O docente Felizardo Gabriel Masseko, da escola secundária de Muatala, abordou o tema “A Ostracizaç­ão dos negros pela escravatur­a”.

O docente Sebastião Morais Chauma, da Universida­de Pedagógica de Tete, falou sobre “Os valores africanos como símbolos de identidade: O caso da cidade de Tete”, enquanto o colega de Nampula, André Victoriano Mindoso, abordou o tema “Elite dirigente, produção do conhecimen­to e a política da assimilaçã­o em Moçambique”.

Alain Kamal Martial Henry, do Centro de Estudos de Território­s e Pesquisas de Língua e Literatura­s Regionais”, do Madagáscar, apresentou “O eixo Kiloa-Ilha Moçambique-Mayotte-Nosybé, uma herança entre a historicid­ade, a memória colectiva e o esquecimen­to”.

“Essa luta, como a de tantos outros escravos, fortaleceu a consciênci­a da igualdade de homens e mulheres, dos quais todos temos um legado e desfrutamo­s directamen­te”

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ANTÓNIO BEQUENGUE | EDIÇÕES NOVEMBRO Investigad­ores do projecto A Rota do Escravo abordam o fenómeno que assolou África

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