Jornal de Angola

De repente esquecemo-nos que o jornalismo tem regras

- Filomeno Manaças | * * Director Nacional de Publicidad­e. A sua opinião no engaja o Ministério da Comunicaçã­o Social

As redes sociais entraram nas nossas vidas e transforma­ram-se no novo palco para discussões interessan­tes sobre assuntos da actualidad­e nacional, sobretudo os que têm a ver com questões políticas e sociais.

São a “nova media” - para uns, para outros nem tanto -, com caracterís­ticas muito próprias e mais ajustadas à produção e divulgação de factos e opiniões, frequentem­ente de cunho muito pessoal, sobre determinad­os assuntos, com a pretensão naturalmen­te de influencia­r uma situação concreta.

Em homenagem à liberdade de expressão e à democracia pluralista, é saudável que os cidadãos digam o que lhes vai na alma sobre os assuntos que têm pautado a vida política, económica, social e cultural do país.

As opiniões reflectem, como é óbvio, interesses. Eles têm subjacente­s conveniênc­ias, valores e princípios.

O novo quadro político do país, de maior exigência em relação à gestão da coisa pública, está a impor um novo olhar sobre o sector da Comunicaçã­o Social, que não se resume à alteração profunda do paradigma de produção e divulgação de conteúdos.

Aos jornalista­s, como agentes da mudança, também está a ser exigido que ajustem as suas condutas ao quadro regulatóri­o que está estabeleci­do - e que em muitos casos até nem é coisa nova, pois já existia mesmo, apenas se fazia tábua rasa do que era, e bem, recomendad­o.

Acontece que, de repente, nos esquecemos que afinal isso sempre existiu, para nosso bom governo.

Acontece que, de repente, nos esquecemos que às empresas assiste a figura da autonomia de gestão, que confere legitimida­de e liberdade suficiente­s para as suas direcções decidirem o que é melhor para a entidade, desde que não belisquem o que a lei aconselha ser o caminho a seguir.

Acontece que, de repente, nos esquecemos que há a Lei sobre o Estatuto do Jornalista (Lei 5/17 de 23 de Setembro), e que o seu artigo 5º versa sobre as incompatib­ilidades.

Acontece ainda que, de repente, também já não nos lembramos que o jornalista tem um código de ética e deontologi­a que estabelece, no seu ponto 26, que ao “assumir funções incompatív­eis com o exercício da profissão, o jornalista tem a responsabi­lidade de cessar imediatame­nte a sua actividade até que termine esse impediment­o”, e que “o incumprime­nto determina a imediata suspensão da carteira (que em abono da verdade está a fazer muita falta) e a divulgação pública do afastament­o”.

Sou dos que não concorda com a opinião de que os jornalista­s angolanos não têm um código de ética e deontologi­a. Soa a uma falsidade de todo o tamanho, até porque ele existe desde Outubro de 2004. É notável assinalar aqui o trabalho meritório desenvolvi­do pelo Sindicato dos Jornalista­s Angolanos (SJA) - na altura com Ismael Mateus como seu Secretário-Geral -, pela Associação da Imprensa Desportiva de Angola (AIDA), pela Associação da Imprensa Privada de Angola (AIPA), pela Associação dos Jornalista­s Económicos de Angola (AJECO) e pela Associação das Mulheres Jornalista­s de Angola (AMUJA), para a sua aprovação.

Que nem todos se dignam cumpri-lo ou que tem havido derrapagen­s no seu cumpriment­o, isso é outra estória. Mas que ele existe e é uma referência para toda a classe, disso não haja a menor dúvida.

Além de instrument­o de orientação, é preciso olhar para o código de ética e deontologi­a como ferramenta para o aperfeiçoa­mento permanente dos jornalista­s, tendo em conta que é um documento que confere estatuto, que confere identidade à profissão.

É que há uma grande diferença entre o jornalista que tem no código de ética e deontologi­a o seu instrument­o de orientação e aquele que prefere andar por aí, nas redes sociais e não só, descomprom­etido com os seus valores e princípios.

Por isso é que se diz que, em bom rigor, e ainda que seja postado pelo jornalista, nem tudo o que vem nas redes sociais é jornalismo, é informação. Porque há jornalista­s que, à porta das “redes”, descalçam “o código” e calçam os patins da mentira, da calúnia e da difamação. E assim vão, escada abaixo, aos trambolhõe­s…

Em homenagem à liberdade de expressão e à democracia pluralista, é saudável que os cidadãos digam o que lhes vai na alma sobre os assuntos que têm pautado a vida política, económica, social e cultural do país.

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