De repente esquecemo-nos que o jornalismo tem regras
As redes sociais entraram nas nossas vidas e transformaram-se no novo palco para discussões interessantes sobre assuntos da actualidade nacional, sobretudo os que têm a ver com questões políticas e sociais.
São a “nova media” - para uns, para outros nem tanto -, com características muito próprias e mais ajustadas à produção e divulgação de factos e opiniões, frequentemente de cunho muito pessoal, sobre determinados assuntos, com a pretensão naturalmente de influenciar uma situação concreta.
Em homenagem à liberdade de expressão e à democracia pluralista, é saudável que os cidadãos digam o que lhes vai na alma sobre os assuntos que têm pautado a vida política, económica, social e cultural do país.
As opiniões reflectem, como é óbvio, interesses. Eles têm subjacentes conveniências, valores e princípios.
O novo quadro político do país, de maior exigência em relação à gestão da coisa pública, está a impor um novo olhar sobre o sector da Comunicação Social, que não se resume à alteração profunda do paradigma de produção e divulgação de conteúdos.
Aos jornalistas, como agentes da mudança, também está a ser exigido que ajustem as suas condutas ao quadro regulatório que está estabelecido - e que em muitos casos até nem é coisa nova, pois já existia mesmo, apenas se fazia tábua rasa do que era, e bem, recomendado.
Acontece que, de repente, nos esquecemos que afinal isso sempre existiu, para nosso bom governo.
Acontece que, de repente, nos esquecemos que às empresas assiste a figura da autonomia de gestão, que confere legitimidade e liberdade suficientes para as suas direcções decidirem o que é melhor para a entidade, desde que não belisquem o que a lei aconselha ser o caminho a seguir.
Acontece que, de repente, nos esquecemos que há a Lei sobre o Estatuto do Jornalista (Lei 5/17 de 23 de Setembro), e que o seu artigo 5º versa sobre as incompatibilidades.
Acontece ainda que, de repente, também já não nos lembramos que o jornalista tem um código de ética e deontologia que estabelece, no seu ponto 26, que ao “assumir funções incompatíveis com o exercício da profissão, o jornalista tem a responsabilidade de cessar imediatamente a sua actividade até que termine esse impedimento”, e que “o incumprimento determina a imediata suspensão da carteira (que em abono da verdade está a fazer muita falta) e a divulgação pública do afastamento”.
Sou dos que não concorda com a opinião de que os jornalistas angolanos não têm um código de ética e deontologia. Soa a uma falsidade de todo o tamanho, até porque ele existe desde Outubro de 2004. É notável assinalar aqui o trabalho meritório desenvolvido pelo Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) - na altura com Ismael Mateus como seu Secretário-Geral -, pela Associação da Imprensa Desportiva de Angola (AIDA), pela Associação da Imprensa Privada de Angola (AIPA), pela Associação dos Jornalistas Económicos de Angola (AJECO) e pela Associação das Mulheres Jornalistas de Angola (AMUJA), para a sua aprovação.
Que nem todos se dignam cumpri-lo ou que tem havido derrapagens no seu cumprimento, isso é outra estória. Mas que ele existe e é uma referência para toda a classe, disso não haja a menor dúvida.
Além de instrumento de orientação, é preciso olhar para o código de ética e deontologia como ferramenta para o aperfeiçoamento permanente dos jornalistas, tendo em conta que é um documento que confere estatuto, que confere identidade à profissão.
É que há uma grande diferença entre o jornalista que tem no código de ética e deontologia o seu instrumento de orientação e aquele que prefere andar por aí, nas redes sociais e não só, descomprometido com os seus valores e princípios.
Por isso é que se diz que, em bom rigor, e ainda que seja postado pelo jornalista, nem tudo o que vem nas redes sociais é jornalismo, é informação. Porque há jornalistas que, à porta das “redes”, descalçam “o código” e calçam os patins da mentira, da calúnia e da difamação. E assim vão, escada abaixo, aos trambolhões…
Em homenagem à liberdade de expressão e à democracia pluralista, é saudável que os cidadãos digam o que lhes vai na alma sobre os assuntos que têm pautado a vida política, económica, social e cultural do país.