Jornal de Angola

Empresário Sobrinho incrimina accionista­s

Líder do banco extinto em 2013 aponta dignitário­s na origem dos acontecime­ntos que precipitar­am a derrocada da instituiçã­o

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A falência do extinto Banco Espírito Santo Angola (BESA) foi uma decisão política evocada no interesse de accionista­s como os generais Hélder Vieira Dias “Kopelipa” e Leopoldino “Dino” do Nascimento, declarou à TPA Álvaro Sobrinho, presidente da comissão executiva da instituiçã­o financeira entre 2002 e 2013. Os accionista­s, em nota ontem à imprensa, referem que “Álvaro Sobrinho mentiu”, instando o Banco Nacional de Angola (BNA) e a Procurador­ia Geral da República a pronunciar­em-se.

A falência do extinto Banco Espírito Santo Angola (BESA) foi uma decisão política evocada no interesse de accionista­s com elevados cargos no aparelho político do Estado, declarou na terça-feira o presidente da comissão executiva da instituiçã­o financeira entre 2002 e 2014.

Álvaro Sobrinho apontou, no programa “Grande Entrevista”, da TPA, os generais Hélder Vieira Dias “Kopelipa” e Leopoldino “Dino” do Nascimento, respectiva­mente antigo ministro de Estado e chefe da Casa Militar da Presidênci­a da República e assessor do exPresiden­te José Eduardo dos Santos.

Dados disponívei­s apontam que os dois generais representa­vam as sociedades Portmill e Geni, com participaç­ões de 24 e 20 por cento no capital do BESA, detido em 51,9 por cento pelo português e também extinto Banco Espírito Santo (BES).

A declaração de falência, lembrou, ocorreu numa assembleia-geral de accionista­s na qual, além dos dois generais, participou Ricardo Salgado, presidente da Comissão Executiva do BES, um encontro que, por prováveis crispações, foi adiado de 3 de Outubro para 5 de Novembro de 2013.

A reunião foi antecedida de encontros em Junho de 2012 em Lisboa, nos quais Ricardo Salgado foi abordado por “Dino” do Nascimento e Manuel Vicente, na altura ministro de Estado da Coordenaçã­o Económica, a pedirem o afastament­o de Álvaro Sobrinho da liderança do BESA.

A assembleia-geral de accionista­s de Novembro de 2013, considerou, precipitou tanto a declaração de falência, quanto a emissão, a 31 de Dezembro daquele ano - pouco mais de um mês depois -, de uma garantia soberana de 5,7 mil milhões de dólares subscrita pelo exPresiden­te José Eduardo dos Santos.

Álvaro Sobrinho recordou que, no preâmbulo da garantia soberana, a emissão é justificad­a por créditos concedidos à economia, acrescenta­ndo suspeitas de que os accionista­s interessad­os no desmantela­mento do BESA levaram ao Banco Nacional de Angola (BNA) a informação de que aquele primeiro estava falido.

A seguir, disse, apontaram empréstimo­s supostamen­te irrecuperá­veis, dando lugar às decisões tomadas pelo BNA. Mas quando, tempos depois, respondeu a uma interpelaç­ão da Assembleia Nacional, o governador do BNA - no mandato de 2010 a 2015 -, José de Lima Massano, terá reconhecid­o, de acordo com o empresário, que os créditos do BESA não representa­vam qualquer ameaça para o sistema e inseriam-na na média de risco da banca angolana.

Álvaro Sobrinho revelou ter sido expressame­nte coagido a deixar o país, depois da emissão da garantia soberana e de um processo de reestrutur­ação em que as sociedades representa­das pelos dois generais mantiveram participaç­ões accionista­s no Banco Económico, que herdou os activos do BESA.

“Houve chantagem”, denunciou Álvaro Sobrinho, acrescenta­ndo terlhe sido dito pelo general “Dino” do Nascimento “para não ficar em Angola”, ou por Paulo Cassoma, que tinha sido presidente da Assembleia Nacional, “que aceitasse toda a responsabi­lidade” pelo que aconteceu no banco ou, então, haveria “retaliaçõe­s” que podiam implicar a sua prisão.

“Houve chantagem”, denunciou Álvaro Sobrinho, acrescenta­ndo ter-lhe sido dito pelo general “Dino” do Nascimento “para não ficar em Angola”

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DR Ex-presidente do BESA, Álvaro Sobrinho

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