Derrube de árvores no Soyo cria desequilíbrio ambiental
Garimpeiros nacionais e estrangeiros estão a criar enormes estragos ao devastarem milhares de hectares de florestas
A devastação de milhares de hectares de florestas, protagonizada por garimpeiros nacionais e estrangeiros, no município do Soyo, província do Zaire, para o fabrico de carvão vegetal, está a provocar um desequilíbrio ambiental assustador na região, segundo a administradora Lúcia Tomás.
Para constatar “in loco” o nível de devastação nas áreas do Lumueno, Finda Nkunku e Cavalos, a administradora municipal do Soyo, à frente de uma comissão multissectorial, integrada pelos comandantes da Região Naval Norte, da Polícia Nacional, 2º comandante da 71ª Brigada do Nzombo, os chefes do SIC e do SME locais, deslocou-se terça-feira às zonas afectadas e manifestou preocupação com o derrube desenfreado de árvores.
Como medida inicial, o SIC deteve 22 cidadãos, entre nacionais e estrangeiros, com destaque para os da RDC, apanhados em flagrante a confeccionarem grandes quantidades de carvão vegetal, para fins comerciais, na localidade do Lumueno, a cerca de 20 quilómetros da cidade do Soyo.
Os referidos garimpeiros acusam alguns sobas de os autorizar a explorar a flora em troca de dinheiro e bebidas (gasosa, cerveja e vinho).
Paulo Juliana, cidadão nacional e carvoeiro há dez anos, apanhado em flagrante a devastar a flora do Lumueno, alegou que enveredou na prá- tica de exploração ilegal da flora para confeccionar carvão por falta de emprego.“Eu sei que o abate indiscriminado de árvores provoca graves problemas à nossa floresta, mas é a forma que encontramos para ganhar a vida.
Se ficarmos na cidade, vamos roubar e para evitar isso achamos por bem desenrascar a vida fazendo carvão, onde num forno podemos conseguir até 50 mil kwanzas”, explicou.
De acordo com o carvoeiro, as áreas onde fazem os cortes ilegais de árvores têm sido autorizadas pelos sobas, que alegam serem competentes e possuem direitos para o efeito.
Paulo Juliana fez saber que o processo de desmatamento ilegal que o município do Soyo tem sido vítima beneficia uma série de pessoas, com destaque para os fiscais do Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF), alguns agentes da Polícia Nacional e efectivos das Forças Armadas Angolanas destacados em postos de controlo.
“Depois de produzirmos o carvão aqui no Lumueno, ao transportarmos para o mercado, em motas de três rodas, pelo caminho pagamos dois mil kwanzas por carregamento de dez sacos, sendo mil para a Agricultura e outros mil aos efectivos das FAA, que ficam nos controlos, e ao longo do trajecto o motoqueiro paga também aos agentes da Polícia Nacional”, acusou.
Por seu turno, Celestino Angelina, outro cidadão nacional que enveredou também pela prática de derrube ilegal de árvores na localidade do Lumueno, para a confecção de carvão, disse que a falta de emprego está na base das suas acções, afirmando terem pago aos sobas e afectivos de diferentes instituições que deveriam fiscalizar o mal.
“Estou aqui há dois anos a fazer carvão, por falta de emprego. Portanto, estamos aqui, por termos sido autorizados pelos velhos antes de entrarmos na mata. Só cumprimos a lei dos velhos, damos aos sobas uma grade de gasosa e quatro mil kwanzas em dinheiro, para sermos autorizados a trabalhar. Pagamos também à Agricultura e aos tropas, que cobram cada saco kz.200,00, num total de dez que a moto transporta, perfazendo dois mil kwanzas que entregamos”, informou.
Os fiscais do IDF, acrescentou, não entram nas zonas de exploração de árvores, apenas ficam nos postos de controlo, criados por eles ao longo das vias, onde são pagos valores aos efectivos das instituições acima referidas.
“Estou aqui a fazer carvão há dois anos por falta de emprego. Portanto, estamos aqui por termos sido autorizados pelos velhos antes de entrarmos na mata. Só cumprimos a lei dos velhos”