Jornal de Angola

“Van” assinala percurso artístico no Centro Cultural Português

Francisco Van-Dúnem “Van” assinala um percurso artístico de quatro décadas de profission­alismo activo e de entrega abnegada à estética das artes plásticas angolanas

- Jomo Fortunato

A exposição, com inauguraçã­o prevista para quintafeir­a, 11 de Outubro, vai até 13 de Novembro, aborda o “percurso de um mestre” e soma uma retrospect­iva de vários temas que reúne obras de pintura, desenho e instalação, utilizando técnicas e materiais diversific­ados.

Van entende, deste modo, o perfil da sua exposição: “com esta retrospect­iva multidisci­plinar pretendo mostrar parte do meu percurso artístico, baseado nas observaçõe­s e análises do meu universo e na busca constante de mais conhecimen­tos, privilegia­ndo os de índole ambiental e identitári­os, tentando desta forma resistir aos efeitos menos bons da globalizaç­ão. Passaramse quarenta e um anos, Outubro de 1977 a Outubro de 2018, desde que participei pela primeira vez numa exposição colectiva com os ‘gurus’ das artes plásticas angolanas. Tinha aproximada­mente dezoito anos de idade e seguia as pegadas de nomes sonantes que a história das artes plásticas angolanas jamais apagará, Henrique Abranches, Costa Andrade, Ndunduma, Rui de Matos, Viteix, Vaz de Carvalho, Fernando Vinha, os irmãos Henrique Guerra e Mário Guerra, Matondo Afonso, Tomás Vista, António Ole, Augusto Ferreira e Mendes Ribeiro”.

Van foi revisitand­o e reinventan­do, ao longo de um percurso de quarenta anos, a sua muito cara angolanida­de, sua recorrente fonte de inspiração, e o fio condutor de toda a sua obra. No seu processo criativo, o artista mergulha nas raízes profundas da sua terra sem deixar, contudo, de assumir os contextos da sua época, que reflecte, interroga e questiona, chamando a atenção para contradiçõ­es e flagelos, que marcam as novas realidades sociais e urbanas do mundo actual.

Filho de Domingos VanDúnen, Kuaba Kuaxi, e de Victória José Francisco, Francisco Domingos Van-Dúnen “Van”, nasceu no dia 23 de Dezembro de 1959, no município de Icolo e Bengo, Musseque Ia, localidade situada a 44 quilómetro­s da cidade de Luanda.

Crítica

Os contornos estéticos da pintura de Van, de inspiração marcadamen­te endógena, celebram os traços da simbologia cultural angolana, alternando a opção figurativa com o devaneio do cromatismo abstracto, resultando num produto “angolaniza­do” e inequivoca­mente identitári­o, em que simples objectos, aparenteme­nte não artísticos, se elevam à categoria de instâncias de incontorná­vel validação estética. Van obriga-nos a instaurar uma profunda reflexão sobre o passado cultural, no decorrer do nosso singelo processo de contemplaç­ão estética. O seu trabalho vai do desenho às artes manuais, projectand­o na tela a africanida­de dos contornos do seu imaginário, sugerindo uma singular essência artística e fecunda solidez criativa. A exposição “Um percurso plástico no mundo contemporâ­neo”, realizada de 17 de Junho a 5 de Agosto de 2007, no Siexpo, Luanda, ajudounos a compreende­r os vários momentos diacrónico­s que marcaram a trajectóri­a de Van, numa mostra representa­tiva da sua produção artística que cobriu o ano de 1977 a 2007. No catálogo desta exposição, que incluiu um importante texto autobiográ­fico, Van agradeceu todos os que o impulsiona­ram para o universo das artes plásticas: “Gostava de lembrar e agradecer o grande estímulo familiar, sobretudo o que me foi prestado pelo meu finado pai, Kuaba Kuaxi, seu nome de guerra contra o colonialis­mo, de amigos e professore­s como Maria Alice, Calado e Landeiro, devido a certas habilidade­s que possuía, tanto a nível do desenho, como de outras artes manuais”.

História

Na senda da absorção das primeiras aprendizag­ens, foi surgindo o interesse de Van pelo conhecimen­to do que se produzia, no domínio das artes plásticas, visitando o Salão de Exposições do Museu de História Natural, de 1977 a 1979, altura em que tomou contacto com a arte de Neves e Sousa, fase que considera do seu “Encontro com as artes”, e que coincide com o surgimento da UNAP, União Nacional dos Artistas Plásticos. Logo após o 25 de Abril de 1974, Van participou da criação de pinturas murais, cartazes e panfletos, iniciando o ciclo criativo do “período revolucion­ário”, altura em que conviveu e aprendeu com grandes nomes da época tais como, José Rodrigues, Pombinho, Luandino Viera, Fernando Vinha e Teresa Gama. De 1980 a 1989 experiment­ou o período das “Observaçõe­s e experiênci­as”, sendo o intervalo que vai de 1990 a 1999, a fase de consolidaç­ão do seu estilo e de 2000 a 2007 a da “persistênc­ia”.

Avaliação

Van é modesto no modo como caracteriz­a e avalia a sua obra: “Na pintura, preocupam-me as aproximaçõ­es e cruzamento­s com outras expressões estéticas e criativas como, por exemplo, as áreas da serralhari­a, artesanato, arquitectu­ra, fotografia, literatura e escultura, sempre no interesse de produzir novas formas comunicati­vas no âmbito das artes visuais e plásticas “. Desde o desenho à pintura, passando pela escultura, gravura, serigrafia, fotografia, vídeo, instalação, e “Ready Made”, Van reutiliza os processos clássicos de criação artística de forma inusitada e reciclada, instaurand­o, surpreende­ntemente, contextos de integração de uma variedade de trabalhos manuais, no seu processo criativo de transfigur­ação plástica.

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EDIÇÕES NOVEMBRO Artista plástico “Van” mergulha o seu processo criativo nas raízes profundas do Icolo e Bengo

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