Cidadãos acorrem ao Hospital Geral para terem de volta a saúde visual
Várias pessoas, entre crianças e adultos, pernoitaram ontem no Hospital Geral de Luanda para estarem entre os primeiros da fila, na ânsia de voltarem a enxergar melhor. Médicos espanhóis estão em Luanda para fazer cirurgias
Mais de 1.500 pessoas saídas de vários pontos da província de Luanda fizeram fila, desde as primeiras horas de ontem, junto ao Hospital Geral de Luanda, município do Kilamba Kiaxi, para terem acesso gratuitamente a consultas de oftalmologia e cirurgias a cataratas feitas por médicos espanhóis.
A moldura humana registada ontem é um indicativo de que a publicidade feita à volta da presença em Luanda, durante uma semana, de médicos espanhóis ao serviço da Fundação Elena Barraquer, destapou a existência de muitos habitantes da capital angolana com a saúde visual comprometida.
No rol de cidadãos ansiosos por melhorar a visão estava Madalena Rafael, de 15 anos, levada pelo pai ao Hospital Geral de Luanda, onde chegaram por volta das cinco horas da manhã.
O problema de Madalena Rafael começou com uma pequena inflamação no olho direito. A adolescente sentia como se tivesse grãos de areia nos olhos e, às vezes, algumas dores.
No ano passado, viajou para a província de Benguela, onde fez uma consulta de oftalmologia numa unidade de referência, que lhe recomendou o uso de lentes graduadas para corrigir os problemas de visão.
Com o passar do tempo, o problema de saúde agravou-se. Hoje Madalena Rafael está com catarata, uma patologia que pode levar à cegueira.
"Na escola, os meus colegas e amigos insultam-me porque não consigo ver com os dois olhos", lamentou Madalena Rafael, que disse estar convicta de que, se chegar aos médicos espanhóis, vai voltar a ver como antes e assim deixar de ser motivo de insulto.
À semelhança de Madalena Rafael, a pequena Feliciana Amadeu, de cinco anos, também estava ontem à espera de ser operada à catarata que desenvolveu no olho esquerdo. A diferença entre as duas está no facto de Madalena Rafael ter perdido totalmente a visão do olho esquerdo, enquanto Feliciana Amadeu ainda enxerga um pouco.
A doença de Feliciana Amadeu já dura um ano. No início, teve dores intensas e uma inflamação nos dois olhos. "Fizemos uma consulta no Hospital Divina Pro- vidência, onde a médica prescreveu um medicamento líquido, que fez piorar a inflamação", contou a mãe de Feliciana Amadeu.
Pela saúde da filha, a senhora chegou às 04H00 da manhã ao Hospital Geral de Luanda, depois de ter ouvido pela rádio a presença de médicos espanhóis para fazerem cirurgia de catarata.
Até às 12H00 de ontem foram realizadas 150 consultas. Até sábado, vão ser realizadas mais de 200 cirurgias, à razão de 50 ou 55 por dia. As cirurgias são feitas com recurso a técnicas inovadoras.
"Temos já inscritos mais de mil pacientes, que vão ser atendidos ao longo desta semana", informou a médica Elena Barraquer, que está em Angola pela quarta vez, no âmbito de um programa sustentável que visa a erradicação da cegueira provocada pela catarata.
A presidente da fundação garantiu que a equipa de médicos está mobilizada para responder à procura que se vai registar até sábado. A vinda de médicos da fundação deve-se a um pedido das empresas Oschen Healthcare e ABO Capital, para ajudar a combater a cegueira por catarata em Angola.
A médica oftalmologista disse que o Hospital Geral de Luanda foi escolhido por reunir condições adequadas para a realização de cirurgias. Elena Barraquer alertou que muitas pessoas vivem com catarata até perderem a visão total. A especialista em oftalmologia garantiu que o acompanhamento póscirúrgico está assegurado e o trabalho vai ser feito por médicos angolanos.
Até sábado, foram realizadas, no Hospital Geral de Luanda, mais de 200 cirurgias, à razão de 50 por dia. As cirurgias são feitas com recurso a técnicas inovadoras