Álcool e drogas levam centenas de jovens aos serviços psiquiátricos
A maior divulgação e consciencialização da população, através de palestras e entrevistas nos meios de comunicação social, sobre a existência dos serviços psiquiátricos também contribui para o aumento da presença de pacientes no hospital
Especialistas pedem maior cuidado com a saúde mental, uma vez que centenas de pessoas, principalmente com idade economicamente activa, estão a ser afectadas por transtornos psíquicos. O número de doentes cresce anualmente, revelou a chefe de departamento de Saúde Mental da Direcção Nacional de Saúde Pública
Um pedaço de pano húmido está meio embutido na boca do rapaz, de 15 anos. O farrapo, que era branco, assumiu agora um tom acastanhado, por estar todo embebido em gasolina.
Enquanto apoia o trapo com a mão esquerda, talvez, para o esconder dos transeuntes, o rapaz, que mora na rua, nas proximidades da Praça da Independência e a Escola Njinga Mbandi, tem a mão direita estendida à caridade, a pedir esmola.
O apelo à ajuda, para conseguir um pão naquele segundo que retira o pano molhado em gasolina da boca, quase que não se ouve. Com a voz morta, o rapaz nem consegue segurar o próprio corpo, que, por forçado desequilíbrio, algumas vezes, cai para a estrada.
Pedrinho, quer apenas que seja identificado como alguém que parou na quinta classe, há quatro anos, o mesmo tempo que vive nas ruas de Luanda, depois de abandonar a casa dos tios, em Viana, por alegados maus tratos. Deixou os pais em Benguela, ainda uma criança com apenas seis anos.
Em Luanda, os tios trouxeram-no, com o propósito inicial de estudar. Mas, anos depois, a relação azedou e Pedrinho preferiu trocar o conforto familiar pelas ruas da capital do país. Aqui, o adolescente aprendeu a fumar, beber e a roubar, às vezes, coisas pequenas quando a fome apertasse.
“Não uso drogas caras. Apenas cheiro gasolina e, quando os kotas podem, me pagam uma liamba”, confessa, para avançar que vai continuar na rua, porque se voltar a casa dos tios é capaz de “fazer guerra com eles, porque me maltrataram muito.”
De tronco nu, e camisa amarrada à cintura, os chinelos, já muito gastos, trazem sinais de uso frequente; os dentes muito amarelados, alguns já caídos, e o rosto envelhecido deixam transparecer o sofrimento que é a rua, mas para Pedrinho e seus pares “é o melhor lugar do mundo.”
“Aqui, nos entendemos bem. Bocado de um serve para todos”, disse. Mas, uma coisa tem ele certeza: “Quero abandonar as drogas, porque muitos dos meus amigos andam ‘tarlas’. Não quero chegar nesse ponto”, confessa o rapaz, que é o terceiro de seis irmãos.
Pedrinho ainda tem noção dos perigos do consumo excessivo de bebidas alcoólicas e de outras drogas. Mas, centenas de jovens e adolescentes como ele, infelizmente, só despertaram para essa realidade depois de estarem sob cuidados dos serviços psiquiátricos. Em Luanda, o hospital de referência para o tratamento de doenças mentais recebe, em média, entre 90 a 120 pacientes por dia, só no banco de urgência.
A directora-geral do Hospital Psiquiátrico de Luanda (HPL), Antónia de Sousa, explicou que o número de jovens ali atendidos tem aumentado cada vez mais, por causas relacionadas ao uso de bebidas alcoólicas e de drogas mais pesadas.
Neste momento, revelou a psiquiatra, os problemas ligados ao consumo excessivo de álcool e de drogas ilícitas são já a segunda grande causa de doenças mentais a nível do hospital, afectando, em larga escala, adolescentes e jovens dos 15 aos 35 anos.
“O número deles, todos descontrolados, por causa da bebida e droga, está a crescer”, lamentou para avançar que os casos de doentes com problemas mentais por esses factores é um problema que deixa para trás as estatísticas de pessoas que acorrem por causa de tendências suicidas e homicidas.
As pessoas do sexo masculino lideram as estatísticas, embora entre igualmente um número elevado de senhoras, jovens e adolescentes ao hospital, com graves problemas mentais, por uso de bebidas alcoólicas e drogas pesadas.
Dado o estado avançado como os doentes chegam ao hospital, boa parte deles são atendidos no banco de urgência. Mas, nas consultas externas, são assistidos 120 a 130 pacientes por dia. A tendência é verificar-se o aumento de casos, uma vez que, neste período, há mais casos de paludismo.
A maior divulgação e consciencialização da população, através de palestras e entrevistas nos meios de comunicação social, sobre a existência dos serviços psiquiátricos também contribui para o aumento da presença de pacientes no hospital.
Por esse facto, assiste-se ao aumento de pessoas individuais e acompanhadas por familiares a procurar pelos serviços do HPL, devido a problemas ligados