Jornal de Angola

Mais de 260 mil ilegais deixaram o país

Mais de 260 mil imigrantes ilegais, que se dedicavam ao garimpo de diamantes em sete províncias do país, deixaram Angola, no quadro da “Operação Transparên­cia”.

- José Bule |Dundo

Não quer sair. Apesar de reconhecer a sua condição migratória, Samano Tianzi está triste. O jovem de 22 anos, que vivia na zona A do Chiluaca, no Dundo, ainda não sabe o que fazer quando chegar ao Congo. A vida de garimpeiro dava-lhe algum conforto financeiro. “Eu tinha sempre dinheiro. Agora vou fazer como para sobreviver?”, questiona.

Com o dinheiro que ganhava, Tianzi pagava o aluguer da casa, comprava roupa e alimentos. O resto enviava para os familiares que o aguardam cheios de tristeza, no Congo. O rio secou. “Estou a ir embora. Tchau. Já não tenho mais nada para fazer aqui. Acabaram com o nosso negócio. Nunca mais volto para Angola. Aqui, já não tem mais nada para o congolês”, disse amargurado.

Biju Bassanga vê, à distância, o marido e os dois filhos que sobem rapidament­e no camião. Corre para entregar o colchão e uma cadeira que ficou no chão. Tem uma filha ao colo e diz que não sai de Angola sem vender os cadeirões e a mesa de seis cadeiras.

“Me dói muito sair de Angola. Aqui, eu construí uma cantina e comprei cinco terrenos. Agora, vou embora assim mesmo, sem nada? Me ajudam só”, pediu. De 33 anos de idade, Biju Bassanga vivia nas imediações de Santa Isabel, no Mulepi. “Os meus filhos estão a ir com o pai deles. Já estão no carro. Eu ainda vou ficar até vender o sofá e a mesa”, disse.

“Eu sou angolano. A Polícia queimou os meus documentos. Estou a sair hoje, mas amanhã volto com 70 dólares para pagar aos efectivos que encontrar na fronteira”, disse Manuel Sakitambal­a, 44 anos.

Da capital da LundaNorte, Dundo, até a fronteira do Chissanda, a distância é de apenas sete quilómetro­s. Na estrada asfaltada e devidament­e sinalizada, passam camiões e carrinhas, que transporta­m os imigrantes e seus haveres, como malas, colchões de espuma, baldes, cadeiras plásticas e outros objectos.

Alguns ilegais vendem o mobiliário para reduzir o peso. Houve quem viajasse de motorizada. Os imigrantes saem livremente do país.

“A retirada dessas pessoas está a ser feita de forma voluntária. Não há polícia nenhum que os acompanha. Muitos cidadãos da RDC andam sozinhos, de carro ou de motorizada­s de três rodas. Tomaram conhecimen­to de que o Estado angolano alugou meios que facilitam a transporta­ção e, por isso, todos os dias chegam milhares aos pontos de partida”, disse o porta-voz da operação “Transparên­cia”. “Bosses” que pagam bem Os gestores das casas de compra e venda de diamantes, conhecidos como “bosses”, estimulava­m o negócio para atrair milhares de pessoas vindas de todas as partes de Angola e de vários pontos do mundo. Os donos do negócio de diamantes eram altas figuras do Estado angolano e generais do Exército, por isso, permanecia­m intocáveis.

Os “bosses” pagavam bem e eram facilmente identifica­dos. As imagens dos seus rostos, impressos em papel vinil, estão coladas nas viaturas publicitár­ias. Se alguém levasse uma pedra de diamante avaliada entre 10 e 15 mil dólares, tinha direito a uma viatura de marca Land Cruiser e, para que levasse pedras avaliadas em três mil dólares recebia um I 10.

Os bosses Marcos, Clement, Wissam, Prince Arik, Miguel, Malek, Salifu e Leo, conhecido como o irmão dos garimpeiro­s, comandavam as operações ilícitas de exploração de diamantes nesta região do país.

“Aqui mesmo, na LundaNorte, chegámos a deter dois bosses, um inglês e um alemão, cujos processos já foram encaminhad­os ao Ministério Público, para o devido tratamento”, disse o porta-voz da operação “Transparên­cia”, comissário António Bernardo, tendo avançado que os mesmos se encontram em liberdade, sob termo de

Alguns ilegais vendem o mobiliário para reduzir o peso. Houve quem viajasse de motorizada. Os imigrantes saem livremente do país. Não há polícias a acompanha-los. Muitos cidadãos da RDC andam sozinhos, de carro ou de motorizada de três rodas.

 ?? KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO ??
KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO
 ??  ?? Imigrantes ilegais saem livremente do país transporta­dos em camiões ou carrinhas até a fronteira com a RDC que dista cerca de sete quilómetro­s da cidade do Dundo, na Lunda-Norte
Imigrantes ilegais saem livremente do país transporta­dos em camiões ou carrinhas até a fronteira com a RDC que dista cerca de sete quilómetro­s da cidade do Dundo, na Lunda-Norte
 ?? KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Mais de 200 mil pessoas da República Democrátic­a do Congo já regressara­m àquele país
KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO Mais de 200 mil pessoas da República Democrátic­a do Congo já regressara­m àquele país

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola