Sobre o estado da Nação
No discurso sobre o estado da Nação, o Presidente da República, João Lourenço, que oportunamente começou por saudar todo o povo angolano, deu a entender claramente que a caminhada que fazemos é irreversível e que deverá levar algum tempo até consolidar-se algumas das suas conquistas. Proferido na segunda-feira, igualmente para marcar a abertura do ano parlamentar, na sua intervenção, João Lourenço fez uma retrospectiva, embora tenha definido como prematuro no espaço de tempo da governação que dirige, para delinear as conquistas e metas.
É natural que alguma franja da sociedade encare com elevado anseio que as coisas aconteçam já, mas o fundamental é que se perceba não apenas os desafios que temos pela frente mas também as etapas pelas quais temos de passar. Temos algumas bases, essenciais para viabilizar a mobilidade das pessoas e bens em todo o país, que nos permitem caminhar com alguma segurança na materialização da agenda do Executivo. Disse o Mais Alto Magistrado da Nação, explicando o contexto em que nos encontramos, que “o capital que herdámos, o de um país em paz e reconciliado, constitui a base essencial para ousarmos ir mais longe, buscando resolver os problemas básicos das populações em termos de saúde, educação, habitação e emprego, de modo a garantir o progresso, bem-estar e desenvolvimento económico e social.”
Não há dúvidas de que para isso é vital que as instituições do Estado realizem o seu trabalho, que as pessoas se empenhem mais para que, no fim do dia, tenhamos um país bom para todos nós. Muitas das iniciativas e medidas tomadas e a serem tomadas pelo Executivo, como se espera naturalmente, poderão encontrar resistência, incompreensões muitas vezes inoportunas e o habitual exercício da vitimização. Estranha e ironicamente, algumas vozes da sociedade civil, políticos e analistas, outrora acérrimos críticos e opositores da corrupção, do tráfico de influência, apresentamse agora do lado oposto em que sempre se encontraram. Para estas figuras, faz-lhes tão mal o funcionamento dos órgãos de Justiça que o combate contra as más práticas nunca se devia processar nos moldes em que ocorre, com supostas perseguições de pessoas e famílias. As instituições do Estado têm de funcionar tal como se espera para se resgatar a boa imagem e credibilidade de Angola porque, de outra maneira, apenas aumentam as dificuldades por transpor.
Pelas palavras pronunciadas no discurso sobre o estado da Nação, o Presidente da República assume-se como das entidades mais interessadas no actual contexto de paz e reconciliação que Angola vive, sendo infundada e desprovida de base a ideia de perseguição. No fundo, as razões para as supostas perseguições, como tendem a ser interpretadas as acções dos órgãos de Justiça, também ficaram bem espelhadas no discurso do Chefe de Estado. “Devemos todos estar conscientes que se trata de um processo que exige algum tempo para se afirmar e consolidar, sobretudo quando muitas destas medidas afectam ou neutralizam poderosos interesses instalados”, disse João Lourenço, numa clara alusão à dimensão dos desafios enfrentados pelo seu Executivo. Não são poucos, mas precisam de ser enfrentados e, dentro dos marcos legais, ser ultrapassados para que tenhamos uma Nação forte a cada ano que passa.