Combate à fome em Angola depende do sector agrícola
A declaração de Maputo recomenda que os países africanos devem destinar 10% do orçamento para a agricultura
A agricultura deve ocupar um lugar de destaque na política orçamental de Angola, para que se atinja um desenvolvimento sócio-económico e combate à fome e pobreza, num curto espaço de tempo, defendeu o assistente de programas da FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.
Em declarações ao Jornal de Angola, a propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se assinala hoje, Afonso Zola admitiu que os países desenvolvidos cresceram devido aos investimentos feitos no sector da Agricultura e das pescas.
Sobre um relatório, publicado recentemente, que indica que 50% da população é pobre, o quadro sénior da FAO em Angola disse: “creio que não é esta situação que todos esperávamos, pois não foi possível alcançar a redução da pobreza em 15% como tinha sido previsto em 2015, mas, de facto, nenhum país africano conseguiu”.
Ao referir que cada país tem as suas razões de não ter alcançado a meta, Afonso Zola acrescentou que, no que refere a Angola, os passos positivos que o país vinha alcançando, desde 2002, conheceram um desalento significativo. “Mas não podemos esquecer que as marcas da guerra ainda não se apagaram completamente, e as alterações não podem ser em tempo recorde”, disse.
Para o especialista em programas de agricultura, a queda do preço do petróleo foi um golpe severo para a economia nacional, bem como as variações climáticas, no sul do país.
Nesta senda, Afonso Zola sublinhou que a pobreza, em algumas partes do país, é circunstancial, por haver produção alimentar em determinadas localidades, mas com limitação de vias de comunicação para o seu escoamento, assim como falta de verdadeiros mercados rurais.
O especialista da FAO afirmou que o conhecimento da situação da pobreza em determinados países africanos e os esforços desencadeados pelo governo de Angola, levam à FAO avaliar de forma positiva as políticas do país.
Admitiu que Angola está a implementar o Programa Municipal Integrado do Desenvolvimento Rural (PMIDR) e a Estratégia Nacional de Segurança Alimentar (ENSA) e de Combate à Pobreza, bem como o Programa de Produção, Diversificação das Exportações e Substituição de Importações (PRODESI).
Sobre as orientações internacionais de combate à fome e pobreza, indicou oito objectivos de desenvolvimento do milénio, nomeadamente erradicar a Pobreza extrema e a fome, alcançar o ensino primário universal, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde materna, combater o VIH/Sida, a malária e outras doenças, promover a igualdade de género e o empoderamento das mulheres e garantir a sustentabilidade ambiental.
Questionado se África é o espaço claro da pobreza mundial, respondeu que a pobreza não é absoluta, pois é em África onde sai a matéria prima para as industrias mundiais.
“África está em dificuldades como esteve a Ásia, como estiveram muitos países da América latina. África deve ter a coragem de reconhecer que está numa situação difícil e deve trabalhar, arduamente, para inverter a tendência, tal como os outros continentes o fizeram”.
Declaração de Maputo
A declaração de Maputo recomenda que os países africanos signatários devem destinar 10% do orçamento para a agricultura de modo a se reduzir a fome e a pobreza.
“Desde 2003 até hoje, menos de dez países africanos conseguiram atingir à meta e, na sua maioria, anglófonos da região austral, nomeadamente Zâmbia, Zimbabwe, Botswana e Malawi”.
“A instabilidade política e mudanças climáticas estão entre os motivos que impediram o cumprimento da referida orientação”, disse, apontando que Angola apresentou, no seu último orçamento, verbas muito abaixo.
Afonso Zola apelou aos países para prestarem mais atenção ao sector da Agricultura e desenvolverem mais esforço para cumprir com a declaração de Maputo.
Defendeu ser importante que o orçamento, atribuído à agricultura, seja reforçado por se tratar de um dos pilares para a diversificação da economia do país.
Em termos de segurança alimentar, admitiu: “o país não está tão mal, embora se reconheça alguma dificuldade, uma vez que o país está a produzir mas, ainda, está sem grande capacidade para cobrir todas as necessidades nacionais.
“Desde 2003 até hoje, menos de dez países africanos conseguiram atingir à meta e, na sua maioria, anglófonos da região austral, nomeadamente Zâmbia, Zimbabwe, Botswana e Malawi”