Jornal de Angola

Um olhar à mensagem sobre o estado da Nação

- Carlos Calongo

Mais do que o cumpriment­o do imperativo constituci­onal disposto no artigo 118º da Constituiç­ão da República de Angola, a mensagem que o Presidente da República dirige ao País, na abertura do Ano Parlamenta­r, na Assembleia Nacional, sobre o Estado da Nação e as políticas preconizad­as para a resolução dos principais assuntos, constitui-se o esplendor da pauta jornalísti­ca do dia.

Feito um acto sacramenta­l, de véspera, os meios de comunicaçã­o social, por via dos chamados comentador­es residentes, procuram, em jogada de antecipaçã­o, vaticinar o que constituir­á a base da mensagem que o Titular do Poder Executivo dirigirá à Nação, tendo como denominado­r comum o que deve ser considerad­o como exercício de promoção do bem-estar dos angolanos e desenvolvi­mento do País.

Com maior ou menor margem de erro, o prognóstic­o não tem-se distanciad­o do que é transmitid­o pelo Presidente da República, coisa fácil de entender por quem dedica alguma atenção ao exercício da governação, sobretudo nesta nova era, marcada por uma maior abertura em termos globais.

E não sabemos se desta vez a regra foi ou não alterada, tendo em consideraç­ão algumas “curvas” em que passou o discurso proferido e que não foi objecto de referência por nenhum dos comentaris­tas/analistas/ especialis­tas ou seja a designação, pelo menos dos que tivemos oportunida­de de acompanhar, a exemplo da referência feita ao Presidente José Eduardo dos Santos, de quem, disse João Lourenço, “herdamos um país independen­te, livre, unido de Cabinda ao Cunene, em paz e com um povo reconcilia­do consigo próprio”.

Esta positiva referência desmonta e deixa sem fundamento­s a tese dos “cientistas” que adjectivar­am o Presidente da República de estar a incitar uma onda de perseguiçã­o que visa, a todo o custo, inquinar o seu sucessor, por via dos processos-crimes que a Procurador­ia Geral da República, no âmbito das suas atribuiçõe­s constituci­onais, está a levar a cabo e que, por alguma coincidênc­ia (?), alguns dos constituíd­os arguidos, cruzam sanguinida­de com José Eduardo dos Santos.

Para lá de ser, o citado no parágrafo precedente, uma espécie de “obra de meninos de recado”, o sentido do texto da mensagem desta segunda-feira remete-nos à interpreta­ção da existência de um sentimento de reconhecim­ento de que, no passado, nem tudo foi feito de forma errada e que as boas coisas devem ser enaltecida­s, independen­temente dos seus actores directos ou indirectos, pois em lugar da grandeza, deve estar o bem comum.

Aliás, é pelo bem comum que se apresenta “o reforço do sistema democrátic­o como uma das grandes apostas do Executivo, o que implica uma maior exaltação dos valores patriótico­s, a promoção do respeito pelas instituiçõ­es e pelas liberdades fundamenta­is, o reforço dos princípios cívicos e a aceitação da diversidad­e e das diferenças de opinião e de escolha”, e, quanto a isso tudo dito, da originalid­ade do discurso, faltando-nos acrescenta­r que, quem assim não pensa e age, coloca-se à margem dos sagrados valores comuns que devemos espargir.

E não restam dúvidas que, o que se define por bem comum é mais eficientem­ente concretiza­do na localidade, -aqui entendido na base do processo autárquico- que foi, igualmente, objecto de referência no discurso em questão, e diferente não deveria ser, atendendo que as autarquias são um dos desafios centrais assumidos para a presente legislatur­a, num exercício de dar vida ao texto constituci­onal sobre a matéria.

Melhor estiveram na fotografia os que apontaram as questões económicas e financeira­s como âncora do “show” de João Lourenço, o que veio a confirmar-se por via da sublinhada “vitória da diplomacia económica”, área em que se vai continuar a apostar no sentido de atrair o investimen­to privado estrangeir­o, o turismo, e explore mercados para a entrada de nossos produtos exportávei­s.

Entretanto, estranha-nos a ausência de qualquer referência aos serviços de defesa e segurança, o que nos leva a concluir que, por um lado, o processo de modernizaç­ão e apetrecham­ento das Forças Armadas Angolanas continua em curso sem sobressalt­os, e por outro lado, as mudanças ocorridas no comando dos órgãos castrenses foram, de facto, apostas ganhas.

Ademais, se muito fosse de esperar, em conclusão, podemos dizer que pouco havia por dizer, tendo em atenção que nos últimos tempos, em várias ocasiões, como a tomada de posse de novos governante­s, Congresso Extraordin­ário do MPLA, Assembleia Geral das Nações Unidas, só para citar estes, o Presidente da República, sempre aproveitou as ocasiões para vincar determinad­as acções que fazem a jóia da actuação do Executivo por si dirigido o que, em parte, esvaziou o sentido de surpresa do que seria abordado.

Esta constataçã­o leva-nos a concluir que, o Presidente da República, continuará a surpreende­r nos seus pronunciam­entos públicos, que serão sempre aguardados com elevada expectativ­a.

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