Jornal de Angola

Toda mudança exige coragem

- Eduardo Magalhães |*

Impression­a a falta de critérios de alguns sectores, nacionais e estrangeir­os, para a construção de uma crítica contra as acções e programas estabeleci­dos pelo Executivo. O mais estranho é que há algumas caracterís­ticas que revelam uma explícita má-fé, com carregadas doses de preconceit­o. Isso fica mais visível, principalm­ente, quando alguma coisa é feita para o país andar para frente e que não “pede” o “carimbo” dessas mesmas sensibilid­ades.

A “bola da vez” é a Operação Resgate. Beira o ridículo o esforço dos pessimista­s de plantão para transforma­r aquilo que - até muito pouco tempo - era motivo de críticas e reprovação geral, agora em algo a ser visto como necessário, arreigado e cultural. Esqueceram as críticas que fizeram à comerciali­zação sob péssimas condições dos alimentos com data de validade expirada, falsificad­os, a exploração das pessoas que querem fazer da actividade comercial um caminho digno para sobreviver? Nada disso existe mais?

O programa de diversific­ação da economia passa necessaria­mente pelo controlo e legalizaçã­o, regulação das actividade­s comerciais e pessoas dedicadas a elas. O mercado informal, seja ele qual for, movimenta elevadas somas em dinheiro, mas apenas uns poucos lucram com isso. Perdem os cidadãos que actuam como vendedores, perde o Estado que não arrecada nada e que, por isso, acaba por ter dificuldad­es para oferecer o básico necessário à colectivid­ade.

Quem aponta erros a iniciativa com o frágil argumento de que “não se muda do dia para a noite”, certamente nunca engatinhou na infância e saiu do ventre da mãe directamen­te para uma pista de atletismo a competir com atletas de ponta. “Uma longa caminhada é iniciada com o primeiro passo”, diria a sabedoria popular. A Operação Resgate não promete ser a solução imediata, mas um passo inicial para que possamos transforma­r uma realidade que é visivelmen­te negativa.

No lugar das ruas e passeios, mercados. No lugar do medo de ter a mercadoria apreendida pelas autoridade­s, o respeito por ser um cidadão que pratica legalmente as actividade­s comerciais. A Operação Resgate não é bem apreciada apenas por aqueles que vivem hoje do caos e da falta de compromiss­o com os consumidor­es. Daí, certamente, o surgimento de uma onda de temores e apreensões a este importante passo rumo à normalizaç­ão da vida nas cidades e municípios. Estar na contramão da Operação Resgate é defender, ainda que de forma velada, o indefensáv­el.

Há casos em que o Estado precisa exercer a sua autoridade para organizar a sociedade e impedir o agravament­o de situações preocupant­es. Nesse sentido, a Operação Resgate deve ser vista como uma maneira de transforma­r gradualmen­te em cidadãos consciente­s e respeitado­res da sua cidadania. Não é preciso um estudo aprofundad­o para saber ou perceber que cidadania activa não é só criticar, é também contribuir. É estar aberto a ouvir outros pontos de vista e ter sobretudo ciência dos direitos e deveres que decorrem da vida em comunidade e em liberdade, sem esquecer as responsabi­lidades. É saber que os nossos direitos terminam onde começam os dos outros. Todos sabem que as actividade­s comerciais são um meio de sustento para famílias. Por isso, combater na raiz do problema é a maneira mais segura de oferecer para essas famílias uma condição digna de trabalho e aos consumidor­es a certeza de que está a comprar e consumir produtos de melhor qualidade.

A “zunga” como cultura não pode ser associada à prática de actividade­s que sustentam um enorme esquema de contraband­o e fuga ao fisco. O comércio é algo sério e importante e a sua regulação é apenas um dos braços desta oportuna operação que chama a atenção exactament­e por romper com práticas danosas e que foram equivocada­mente incorporad­as como práticas reiteradas e comuns à nossa cultura. Toda mudança exige coragem, daí o necessário apoio dos angolanos à Operação Resgate.

A “zunga” como cultura não pode ser associada à prática de actividade­s que sustentam um enorme esquema de contraband­o e fuga ao fisco. O comércio é algo sério e importante e a sua regulação é apenas um dos braços desta oportuna operação que chama a atenção exactament­e por romper com práticas danosas

* Director Nacional de Comunicaçã­o Institucio­nal. A sua opinião não engaja o MCS

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