Crédito malparado representa risco à banca
O Banco Central não prevê alterações à taxa de câmbio que possam gerar instabilidade ou condicionar o curso de redução da inflação
Como é que vai evoluir a reforma cambial? - Esse é um processo de contínuo ajustamento em função das forças do mercado. O sentido de flexibilização da taxa de câmbio há-de ganhar maior dinamismo com um número maior de participantes do lado da oferta, sobretudo num cenário de diversificação, ainda que progressiva, das exportações. Angola vai agora iniciar um programa com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e alguns acertos poderão ter que ser feitos, particularmente ao nível da operacionalização da conta corrente, podendo impactar na formação da taxa de câmbio. De qualquer modo, e pese embora a dependência das exportações petrolíferas, não estamos a antever alterações que possam provocar instabilidade ou novas incertezas no mercado cambial. Se este cenário se concretizar, as divisas voltarão a ser suficientes? Não posso responder com base na concretização de cenários, mas posso assegurar que iremos acentuar as acções de monitorização das transacções que ocorrem na economia para assegurarmos uma eficiência cada vez maior no mercado. Até ao momento já conseguimos progredir na regularização de uma série de operações que estavam atrasadas – poderemos ter ainda casos para serem tratados, mas a larga maioria das situações foi resolvida e já não temos muito “ruído” em torno de pendentes que vinham de anos anteriores. Procurámos, no fundo, normalizar o mercado, atribuindo aos bancos comerciais o seu papel de identificarem e atenderem as necessidades dos seus clientes dentro do quadro regulamentar, para que nós possamos assegurar que a moeda continua a ser utilizada onde e por quem dela precisa.Do ponto de vista operacional, os bancos também estão a reforçar a sua capacidade para termos em Angola um mercado mais dinâmico, mais fluído, mais estável, capaz de gerar mais confiança aos operadores económicos. Qual vai ser a tendência da evolução das taxas de juro? A nossa grande meta é o controlo da inflação. Temos uma forte preocupação com a estabilidade dos preços e, na medida em que formos capazes de reduzir a inflação, as taxas de juro haverão de diminuir também. Digamos que as taxas de juro são uma importante referência para os objectivos da política económica e um instrumento para nos ajudar a gerir o crescimento dos meios de pagamento. São um instrumento a que nós chamamos de transmissão de política monetária. Repare que este ano nós baixamos a taxa directora de juro exactamente porque assistimos a esta tendência de redução da inflação.
É um processo que queremos consolidar, como já referi. Queremos atingir uma taxa de inflação de um dígito em 2020.Uma taxa de juro mais no imediato, passa, eventualmente, pelos programas que estão a ser implementados pelas autoridades angolanas, em que se poderá encontrar regimes de taxas de juro bonificadas para sectores ou projectos específicos no âmbito do Prodesi [Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações]. Os elevados juros pagos sobre a dívida titulada do Governo não desviam os fluxos de capital de outros sectores da economia? Sim, pode também assim ser visto. Mas há ainda uma percepção de risco de crédito para o sector privado. Os níveis de incumprimento são elevados e rondam os 26 por cento. É claro que, com uma taxa de incumprimento tão elevada, o sistema retrai-se e refugia-se na dívida pública ou no mercado cambial. O crédito malparado é de facto uma preocupação. Temos estado a dialogar, inclusivamente, com a Associação Angolana de Bancos para em conjunto encontrarmos os melhores caminhos. Há temas e preocupações da mais variada ordem, que vão desde as dívidas que o sector público tem em relação ao sector privado aos ligados ao sistema de justiça, em que por exemplo a execução de garantias é bastante morosa, o que retrai também os credores. O último relatório do Banco Mundial sobre o “Doing Business” também nos mostra que o acesso ao crédito em Angola é um dos elementos que não nos permite dar um salto maior no “ranking”. Por isso, esta é uma das preocupações que está no centro das nossas atenções e que queremos ajudar a resolver.
Angola vai iniciar um programa com o FMI e alguns acertos poderão ter que ser feitos, ao nível da operacionalizaçã o da conta corrente, podendo impactar na formação da taxa de câmbio ”