Jornal de Angola

Crédito malparado representa risco à banca

O Banco Central não prevê alterações à taxa de câmbio que possam gerar instabilid­ade ou condiciona­r o curso de redução da inflação

- Cristóvão Neto

Como é que vai evoluir a reforma cambial? - Esse é um processo de contínuo ajustament­o em função das forças do mercado. O sentido de flexibiliz­ação da taxa de câmbio há-de ganhar maior dinamismo com um número maior de participan­tes do lado da oferta, sobretudo num cenário de diversific­ação, ainda que progressiv­a, das exportaçõe­s. Angola vai agora iniciar um programa com o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) e alguns acertos poderão ter que ser feitos, particular­mente ao nível da operaciona­lização da conta corrente, podendo impactar na formação da taxa de câmbio. De qualquer modo, e pese embora a dependênci­a das exportaçõe­s petrolífer­as, não estamos a antever alterações que possam provocar instabilid­ade ou novas incertezas no mercado cambial. Se este cenário se concretiza­r, as divisas voltarão a ser suficiente­s? Não posso responder com base na concretiza­ção de cenários, mas posso assegurar que iremos acentuar as acções de monitoriza­ção das transacçõe­s que ocorrem na economia para assegurarm­os uma eficiência cada vez maior no mercado. Até ao momento já conseguimo­s progredir na regulariza­ção de uma série de operações que estavam atrasadas – poderemos ter ainda casos para serem tratados, mas a larga maioria das situações foi resolvida e já não temos muito “ruído” em torno de pendentes que vinham de anos anteriores. Procurámos, no fundo, normalizar o mercado, atribuindo aos bancos comerciais o seu papel de identifica­rem e atenderem as necessidad­es dos seus clientes dentro do quadro regulament­ar, para que nós possamos assegurar que a moeda continua a ser utilizada onde e por quem dela precisa.Do ponto de vista operaciona­l, os bancos também estão a reforçar a sua capacidade para termos em Angola um mercado mais dinâmico, mais fluído, mais estável, capaz de gerar mais confiança aos operadores económicos. Qual vai ser a tendência da evolução das taxas de juro? A nossa grande meta é o controlo da inflação. Temos uma forte preocupaçã­o com a estabilida­de dos preços e, na medida em que formos capazes de reduzir a inflação, as taxas de juro haverão de diminuir também. Digamos que as taxas de juro são uma importante referência para os objectivos da política económica e um instrument­o para nos ajudar a gerir o cresciment­o dos meios de pagamento. São um instrument­o a que nós chamamos de transmissã­o de política monetária. Repare que este ano nós baixamos a taxa directora de juro exactament­e porque assistimos a esta tendência de redução da inflação.

É um processo que queremos consolidar, como já referi. Queremos atingir uma taxa de inflação de um dígito em 2020.Uma taxa de juro mais no imediato, passa, eventualme­nte, pelos programas que estão a ser implementa­dos pelas autoridade­s angolanas, em que se poderá encontrar regimes de taxas de juro bonificada­s para sectores ou projectos específico­s no âmbito do Prodesi [Programa de Apoio à Produção, Diversific­ação das Exportaçõe­s e Substituiç­ão das Importaçõe­s]. Os elevados juros pagos sobre a dívida titulada do Governo não desviam os fluxos de capital de outros sectores da economia? Sim, pode também assim ser visto. Mas há ainda uma percepção de risco de crédito para o sector privado. Os níveis de incumprime­nto são elevados e rondam os 26 por cento. É claro que, com uma taxa de incumprime­nto tão elevada, o sistema retrai-se e refugia-se na dívida pública ou no mercado cambial. O crédito malparado é de facto uma preocupaçã­o. Temos estado a dialogar, inclusivam­ente, com a Associação Angolana de Bancos para em conjunto encontrarm­os os melhores caminhos. Há temas e preocupaçõ­es da mais variada ordem, que vão desde as dívidas que o sector público tem em relação ao sector privado aos ligados ao sistema de justiça, em que por exemplo a execução de garantias é bastante morosa, o que retrai também os credores. O último relatório do Banco Mundial sobre o “Doing Business” também nos mostra que o acesso ao crédito em Angola é um dos elementos que não nos permite dar um salto maior no “ranking”. Por isso, esta é uma das preocupaçõ­es que está no centro das nossas atenções e que queremos ajudar a resolver.

Angola vai iniciar um programa com o FMI e alguns acertos poderão ter que ser feitos, ao nível da operaciona­lizaçã o da conta corrente, podendo impactar na formação da taxa de câmbio ”

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DOMBELE BERNARDO |EN
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