Enviado do Papa Francisco foi recebido na Cidade Alta
Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos foi recebido em audiência pelo Presidente João Lourenço
O prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos da Igreja Católica, cardeal Fernando Filoni, teceu ontem, em Luanda, duras críticas a todos quantos usam a Igreja para fins escusos e disse ser inaceitável que tal ocorra, já que a religião deve estar ao serviço da dignidade humana.
Em declarações à imprensa no termo de uma audiência que lhe foi concedida pelo Presidente da República, João Lourenço, D. Fernando Filoni disse ser pela adopção de medidas legais para travar esta tendência.
“É correcto que um Estado tenha uma Lei capaz de defender o povo deste tipo de comportamentos”, sustentou o prelado.
Para o enviado do Papa Francisco, a religião é parte essencial da vida dos homens, defendendo, por isso, que os “Estados devem ter leis que permitam uma melhor organização e funcionamento das congregações religiosas”.
Segundo Fernando Filoni, esta é uma questão que deve abranger todas as igrejas, desde que salvaguarde a liberdade de consciência e respeite o povo de Deus, bem como a essência da doutrina de cada igreja.
O prefeito da Congregação da Propagação do Evangelho da Igreja Católica falou da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), que assinala no dia 20 deste mês 50 anos de existência. Dom Filoni lembrou que tal remete para um momento de reflexão e de avaliação do trabalho já feito ao longo destes anos.
“Estes 50 anos nos instigam a pensar como serão os 50 anos que aí vêm”, disse o cardeal, que se congratulou com a recepção que mereceu do Presidente da República, considerando a sua deslocação a Angola como “uma visita com significados diversos”.
Com o Presidente João Lourenço, o cardeal falou sobre a visão do Papa Francisco sobre o que deve ser a Igreja do Futuro. Durante a sua visita a Angola, Fernando Filoni deve transmitir a mesma mensagem a bispos, sacerdotes, madres e leigos.
“Esta é uma Conferência Episcopal onde temos uma Igreja jovem muito empenhada em todos os aspectos, particularmente religiosos, sem marginalizar a educação, cultura, saúde e outros aspectos”, realçou Fernando Filoni, para quem a CEAST continua empenhada a favorecer o povo de Deus. “Este povo angolano espera da nossa parte um contributo que vem do Evangelho”, lembrou.
A Congregação para a Evangelização dos Povos (Congregatio pro Gentium Evangelizatione) é um dicastério da Cúria Romana, ocupa-se das questões referentes à propagação da fé católica no mundo inteiro. Está sediada no Palazzo di Propaganda Fide, na Piazza di Spagna, em Roma.
Dignidade humana
A ministra da Cultura, que acompanhou o cardeal na audiência, frisou que o Executivo está, neste momento, a proceder à legalização de instituições religiosas. Para tal, lembrou Carolina Cerqueira, foi já criada uma comissão.
A ministra lembrou que já foram tomadas medidas que se basearam no encerramento de sítios e locais de cultos religiosos ilegais nas províncias de Cabinda, Malanje e Luanda.
Carolina Cerqueira anunciou, para breve, a reunião da referida comissão, para fazer uma avaliação sobre as visitas efectuadas a algumas províncias. No final do mês, a comissão deve fazer uma informação pública sobre os resultados obtidos, adiantou.
A ministra da Cultura explicou que a Proposta de Lei sobre a Religião já foi discutida na generalidade, no Parlamento, aguardandose que a mesma seja aprovada pela “Casa das Leis”.
Carolina Cerqueira reafirmou o compromisso de se continuar a trabalhar para que o exercício da actividade religiosa tenha como fundamento a missão, a visão e os valores da pessoa e da dignidade humanas, da coesão social e, sobretudo, da paz social.
Histórico recente da cooperação
Em Março o Presidente João Lourenço criou uma comissão interministerial para tratar das negociações relativas ao Acordo-Quadro, que vai ser celebrado com a Santa Sé. As negociações estavam paralisadas desde 2015.
Em Janeiro, foram discutidas as condições para a assinatura do Acordo-Quadro de Cooperação.
Na ocasião, o Núncio Apostólico em Angola, Dom Petar Rajic explicou à comunicação social que, quando for assinado o Acordo-Quadro, que antes era designado por Concordata, Angola vai entrar na lista de países com relações privilegiadas com a Santa Sé.
“É correcto que um Estado tenha uma Lei capaz de defender o povo contra aqueles que usam a Igreja para fins escusos”