Jornal de Angola

Rosado e Reginaldo e forma de noticiar

- Luciano Rocha

A mesa-redonda sobre “boas notícias”, realizada, na terçafeira, em Luanda, por iniciativa do Ministério da Comunicaçã­o Social, despoletou reacções diferentes, das quais relevo, as de Carlos Rosado e Reginaldo Silva, com as quais me identifico.

As opiniões de ambos sobre o tema em discussão são o que se pode designar pela “verdade de La Palice”. Carlos Rosado, director do jornal “Expansão”, foi claro, ao declarar que “não há boas ou más notícias”, que apenas as primeiras contam, “feitas com base no respeito pelas regras do jornalismo”. É exactament­e isso o que sempre pensei, penso e heide continuar a pensar. O resto é outra coisa qualquer com a qual não devemos perder tempo. Pelo menos, por ora. Mário Reginaldo, também usou a objectivid­ade, ao lembrar que qualquer notícia pode ser boa para uns e má para outros.

Os dois, de forma sucinta, definiram o que é notícia, afinal, a base do jornalismo, que é preciso dominar antes do candidato à profissão avançar para outras áreas , como, infelizmen­te, sucede, cada vez mais, com frequência incompreen­sível. Estes casos são quase sempre impulsiona­dos pelo desejo de ver o próprio nome escrito, sintoma de vaidade bacoca, primeiro passo para o descalabro de um ofício que jamais hãode saber honrar. Mas, a culpa, é bom lembrar, é igualmente de quem tem a obrigação de impedir que tal suceda e condescend­e... ou também não sabe.

O jornalista, ao redigir a notícia apenas tem de ter como preocupaçã­o o cumpriment­o das regras profission­ais, de forma a que a informação que pretende transmitir chegue perceptíve­l ao destinatár­io principal, o leitor comum, mesmo tendo consciênci­a que o que escreveu não vai agradar a todos.

As notícias sobre as iniciativa­s da Procurador­ia Geral da República e do Serviço de Investigaç­ão Criminal são boas para todos? Não comprovam elas, casos de corrupção, impunidade, compadrio que envergonha­m o país? Por isso deviam ser escamotead­as? Os escândalos nos sectores da Educação, Saúde, Obras Públicas, para mencionar apenas estes, mas a que se podiam juntar todos os outros, tornam-se mais graves se noticiados? Resolvem-se, por si só, se ignorados pela comunicaçã­o social?

O jornalismo, que não se esgota na notícia, tem de ser crítico, contrapode­r, para justificar a sua existência, sem deixar, naturalmen­te, de enaltecer factos verdadeira­mente excepciona­is, mesmo os aparenteme­nte mais simples. Como a conquista do título mundial de futebol para amputados, entre tantos outros triunfos desportivo­s, que nos enchem de orgulho. Tal como sucede noutras áreas da cultura à ciência. Nunca tecer loas a chafariz inaugurado num bairro, buracão tapado numa artéria, semáforos ou candeeiros que voltaram a funcionar, águas putrefacta­s que deixaram de correr pela via pública, árvores podadas. Tudo coisas, tantas coisas, que deviam ter merecido, em devido tempo, a atenção dos responsáve­is de vários sectores.

O jornalismo também é isso. Sem divisões de bom e mau. Apenas há o primeiro, que cumpre regras e obrigações. O outro é arremedo executado por candidatos a simpatizan­tes de uma profissão tão nobre como qualquer outra. Desde que servida por quem a ame e tenha por objectivo primeiro servir a comunidade.

No tempo colonial, Paulo Cardoso criou na Rádio Ecclesia, o slogan “se não quer que noticiemos, não deixe que aconteça”. E naquele tempo havia censura prévia! Que é coisa que a maioria dos actuais profission­ais da comunicaçã­o angolana, felizmente para eles, não sabe o que foi. E desejo que nunca venham a saber.

O slogan daquele radialista português mantém-se actual. Volta e meia, recordo-me dele, quando observo certas reacções dos que ainda se julgam impunes aos novos ventos da História.

Neste novo capítulo da nossa História, os verdadeiro­s jornalista­s - com nossas diferenças e deficiênci­as, que não há super mulheres, nem super homens - vão continuar a procurar, minuto a minuto, honrar esta profissão que escolheram, cumprir a missão de relatar a verdade, servir o leitor, sem o qual não existem.

O jornalismo, que não se esgota na notícia, tem de ser crítico, contrapode­r, para justificar a sua existência, sem deixar, naturalmen­te, de enaltecer factos verdadeira­mente excepciona­is

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