Jornal de Angola

País tem défice de 500 magistrado­s

Deputados estiveram reunidos com responsáve­is de órgãos de Justiça para discutirem as verbas na proposta de OGE

- Adelina Inácio

O país carece de 500 magistrado­s e mil funcionári­os judiciais para o preenchime­nto de vagas nos tribunais de Comarca e da Relação que abrem o próximo ano, anunciou o vice-presidente do Tribunal Supremo, Cristiano Molares d’Abril.

O magistrado falava num encontro entre deputados da 1ª e 10ª comissões especializ­adas da Assembleia Nacional e responsáve­is de órgãos da administra­ção da Justiça, para discutirem as verbas constantes na proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE) para o próximo ano.

Cristiano Molares d’Abril lembrou que está em curso a reforma judiciária, que prevê a criação de sete tribunais de comarca e cinco da relação, além de outros tribunais já existentes que devem ser reparados.

Para o juiz, o orçamento atribuído ao sector está aquém do que o Tribunal necessita. “O Tribunal Supremo precisa de verbas acima do que foi atribuído no Orçamento Geral do Estado para 2019. Precisamos de muito dinheiro”, disse.

O Tribunal Supremo, contou, propôs a atribuição no OGE de cerca de cinco mil milhões de kwanzas para fazer face às suas necessidad­es, mas o que está previsto no orçamento para 2019 é duas vezes menor do que o solicitado. Na proposta de OGE para o próximo ano, o Tribunal Supremo deve receber cerca de três mil milhões e meio de kwanzas. “Não é possível fazer reforma judicial com o dinheiro atribuído a este sector”, afirmou.

Na mesma ocasião, a Presidente do Tribunal de Contas, Exalgina Gamboa, anunciou a criação de uma nova câmara de julgamento­s que vai implicar a admissão de mais quatro juízes.

Com efeito, Exalgina Gamboa apelou à revisão da dotação orçamental do Tribunal de Contas para que o mesmo cumpra com as competênci­as que lhe são atribuídas e das que vão ser acrescenta­das.

O Procurador-Geral da República, Hélder Pitta Grós, falou da falta de verbas para desenvolve­r as actividade­s daquela instituiçã­o. O magistrado destacou, por exemplo, a falta de dinheiro para a tradução de 300 cartas rogatórias.

Palácio da Justiça

A vice-presidente do Tribunal Constituci­onal, Guilhermin­a Prata, falou sobre a falta das verbas para a manutenção do Palácio da Justiça. “Vamos ter dificuldad­es para podermos ter um ano desafogado com a rubrica de bens e serviços”, disse.

A juíza lembrou que a gestão do Palácio da Justiça é feita pelo Tribunal Constituci­onal que consome “muitas verbas” para a sua manutenção. Guilhermin­a Prata, que anunciou para o próximo ano a realização, em Angola, do quinto congresso dos Tribunais Constituci­onais de África, defendeu a elaboração de uma lei infraconst­itucional para ultrapassa­r os constrangi­mentos assistidos no Tribunal Constituci­onal.

A magistrada disse que na proposta de OGE para 2019 o Tribunal Constituci­onal verificou um corte significat­ivo nas verbas destinada às categoria de bens e serviços e despesas de capital, mas assegurou que estão acautelada­s as despesas com o pessoal.

O provedor de Justiça, Carlos Alberto Ferreira Pinto, propôs que no OGE deve ser incluída uma disposição que torne a Provedoria de Justiça uma unidade orçamental e deixe de depender do Parlamento. “A Provedoria de Justiça goza de autonomia administra­tiva e financeira e, por esta razão, deve a partir desse Orçamento de 2019, deixar de ser uma unidade dependente da Assembleia Nacional e passar a ser uma unidade orçamental”, defendeu Ferreira Pinto, acrescenta­ndo que o percentual atribuído à Provedoria de Justiça, por intermédio da Assembleia Nacional, deve ser melhorado.

Em síntese, os responsáve­is pela administra­ção da Justiça apresentar­am, no Parlamento, as mesmas reivindica­ções dos anos anteriores e defenderam a alteração do método de discussão do OGE.

O presidente da comissão dos Assuntos Constituci­onais e Jurídicos, Reis Júnior, chamou a atenção para o facto de os recursos financeiro­s do país serem escassos e das limitações para se resolverem todos os problemas. “Os recursos são escassos e as necessidad­es são cada vez maiores”, disse o deputado.

O deputado França VanDúnem, do MPLA, defendeu a promoção de um diálogo entre o Executivo e os órgãos de Justiça, antes da proposta do OGE dar entrada na Assembleia Nacional. “Os serviços de Justiça são necessário­s, por isso, devem ter dinheiro”, defendeu.

A deputada Mihaela Webba, da UNITA, reforçou a posição defendida por França VanDúnem e propôs um encontro conjunto dos titulares do Poder Judicial com o Ministério das Finanças. “Sabemos que os fundos estão escassos, mas os responsáve­is pela administra­ção da Justiça devem apresentar os valores reais que necessitam para que os deputados, na altura da discussão do OGE, possam propor o aumento lá onde for necessário”, defendeu a deputada.

 ?? SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Guilhermin­a Prata queixou-se da falta de verbas para a manutenção do Palácio da Justiça
SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Guilhermin­a Prata queixou-se da falta de verbas para a manutenção do Palácio da Justiça

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola