Angola utiliza pouco cimento
Presidente de Direcção da Associação da Indústria Cimenteira de Angola antecipa para 2018 uma réplica da quebra de consumo verificado em 2017, devido à desaceleração das empreitadas de obras públicas
Mais de 70 por cento do cimento produzido em Angola não é utilizado no país devido à paralisação da maioria das obras, revelou o presidente de direcção da Associação da Indústria Cimenteira de Angola (AICA), Manuel Pacavira Júnior.
O mercado absorve menos de 30 por cento do cimento produzido em Angola devido à paralisação da imensa maioria das obras públicas no país, segundo dados avançadas na III Expo Indústria e XV Projeckta pelo presidente de Direcção da Associação da Indústria Cimenteira de Angola (AICA).
Manuel Pacavira Júnior afirmou ao Jornal de Angola que, de Janeiro a Outubro, o mercado consumiu apenas 2,3 milhões de toneladas de cimento, ou 26 por cento do total produzido no país durante aquele período.
A produção de 2017 foi de 6,5 milhões de toneladas de clinquer e 8,64 milhões de toneladas de cimento, mas o consumo interno foi de apenas 2,63 milhões, ou 30 por cento do total, um desempenho que se prevê agravado este ano, quando Manuel Pacavira Júnior estima que o consumo vai ser ainda mais reduzido.
As cimenteiras CIF e Nova Cimangola (Luanda), FCKS (Cuanza-Sul), Cimenfort (Benguela) e Secil (Lobito) continuam a trabalhar, mas com limitações por falta de mercado, embora também estejam projectadas exportações, principalmente de clinquer, para escoar o excedente.
Empresa detentora de uma assinalável carteira de obras públicas, a construtora Carmon tem apenas três empreitadas em curso em Luanda, nomeadamente as obras dos acessos ao Novo Aeroporto Internacional de Luanda (NAIL), o viaduto da Corimba e a passagem de nível superior do Cazenga.
A coordenadora administrativa da Carmon, Júlia Gonçalves, afirmou à nossa reportagem, durante o certame, que a companhia implantada no mercado há 11 anos, também tem obras em curso no Namibe, Malanje e Soyo, mas se debate com dificuldades ligadas à aquisição de divisas para a importação de matéria-prima.
O director comercial do Banco de Poupança e Crédito (BPC), Manuel Júnior, garantiu que a instituição dispõe de cerca de 120 milhões de dólares de mais 320 milhões disponibilizados pelo Banco Africano de Investimento (BAD) para o financiamento das empresas do sector produtivo.
O responsável, que falava à imprensa na Expo-Indústria e Projekta, explicou que, para o financiamento, o BPC estabeleceu um tecto de cinco milhões de dólares e que, para se habilitarem ao crédito, é fundamental que as empresas avancem 20 por cento do valor do financiamento a solicitar, bem como um estudo de viabilidade do projecto e outro de impacto ambiental.
Apesar de as solicitações de financiamento para o sector industrial terem aumentado, desde 2017, entre 50 e 60 por cento, segundo o gerente do Centro de Empresas do BPC, Emílio Livengue, na verdade, a adesão ao crédito bancário depende muito das condições propostas pelo credor, como disse o presidente da Associação das Indústrias de Materiais de Construção de Angola (AIMCA), José Mangueira
Criada há três anos, com 30 filiados, a AIMCA está apostada na produção de materiais de qualidade “para poderem satisfazer o mercado nacional e competir no mercado internacional.”
O país já fabrica todo o tipo de material de construção disponível no país, desde tintas, blocos, derivados de aço e cerâmicas, incluindo o cimento.
José Mangueira considerou que empresas filiadas à AIMCA, como as siderúrgicas, já têm capacidade de satisfazer o mercado nacional. “O problema é que o nosso mercado não absorve na totalidade os materiais de construção produzidos no país”, disse.
Preços altos
A oferta nacional também é desfavorecida pelos preços que os produtores se obrigam a impor por falta de abastecimento regular de energia e água e a utilização de fontes alternativas que elevam os custos. A dificuldade de transportação dos produtos foi também apontada como um dos factores que contribuem para a elevação dos preços, uma vez que as estradas nem sempre estão em condições adequadas. A Olympic Steel, fábrica angolana de tubos, chapas e derivados de aço, a funcionar há mais de 20 anos, prevê investir cerca de dez milhões de dólares para a montagem de uma linha de produção de malha-sol, anunciou o director da companhia, Alberto Paulista.
Alberto Paulista lamentou uma baixa de produção de 60 por cento da capacidade instalada, observada desde 2015, devido à queda da procura e à falta de divisas para a importação de matéria-prima.
A produção de 2017 foi de 6,5 milhões de toneladas de clinquer e 8,64 milhões de toneladas de cimento, mas o consumo interno foi de apenas 2,63 milhões, ou 30 por cento do total