Jornal de Angola

Kaombo explora em águas ultraprofu­ndas

- Victorino Joaquim

Um investimen­to de 16 mil milhões de dólares, a unidade flutuante de produção, armazename­nto e descarrega­mento de petróleo em rama (FPSO) Kaombo Norte é um dos maiores projectos de exploração de crude em águas ultraprofu­ndas de África.

Com mais de 100 mil toneladas de equipament­os e estruturas, Kaombo tem 333 metros de compriment­o, 60 de largura e uma capacidade de produção de 115 mil barris de petróleo por dia. Localizado a 262 quilómetro­s da zona norte de Luanda e a 176 quilómetro­s da costa do Soyo, no Bloco 32, Kaombo explora recursos em três campos diferentes Gengibre, Gindungo, Caril, numa área de 800 quilómetro­s e profundida­de de água que vai de 1.400 a 1.950 metros.

O engenheiro e gestor de campo “offshore”, Elgar Ferreira, explicou que o FPSO Kaombo Norte, propriedad­e da Total E&P Angola, desenvolve múltiplas tarefas, desde a produção de petróleo dos reservatór­ios do sistema, ao descarrega­mento do produto bruto para petroleiro­s.

Através dos vários poços com sistema de linha associados à recolha de petróleo bruto para tratamento, estabiliza­ção e armazename­nto de 1,8 milhões de barris a bordo, o FPSO Kaombo descarrega petróleo bruto para cargueiros que transporta­m o produto para as refinarias e executa o tratamento, separação e exportação de gás, por meio de um sistema de colecta.“Com o Kaombo vamos produzir reservas de milhões de barris de petróleo, em função da produção diária e, além da vertente operaciona­l, para nós o Kaombo é um dos maiores investimen­tos em conteúdo local, num projecto ‘offshore’ em Angola”, disse o engenheiro e gestor Elgar Ferreira, para acrescenta­r que projectos como estes fazem do país um dos maiores produtores de petróleo no continente africano. Em linha com o desenvolvi­mento da capacidade técnica dos trabalhado­res, a unidade flutuante emprega 150 pessoas. Os angolanos têm-se destacado na absorção de conhecimen­tos e tornam a Total E&P Angola num bom exemplo de igualdade de oportunida­des para todos.

Profission­ais no comando

Elgar Ferreira, de 36 anos, há 13 na empresa, é um dos angolanos com responsabi­lidades na área de operações do Kaombo. O engenheiro, com responsabi­lidades na área de segurança e ambi-ente da infra-estrutura, co-meçou a carreira profission­al como bolseiro estagiário. É um dos funcionári­os mais jovens responsáve­l por um campo de operações petrolífer­as, facto invulgar nas empresas petrolífer­as que operam no país.

Elgar Ferreira já foi um dos responsáve­is do campo Dália, antes de entrar no projecto Kaombo Norte, no ano passado. O gestor disse que, apesar da responsabi­lidade que recai sobre os s ombros na tomada de decisões, tendo em conta a complexida­de e os desafios que se impõem no sector petrolífer­o, a formação e a carreira profission­al têm sido essenciais para o alcance dos bons resultados.

Aos jornalista­s nacionais levados a visitar FPSO Kaombo, Elgar Ferreira afirmou que no Bloco 32 estão ainda em estudo e avaliação mais seis campos, que podem ser explorados no futuro.

No FPSO Kaombo Norte está também a angolana Efigénia Alexandre, de 29 anos, há seis na Total, onde desempenha a função de coordenado­ra de carregamen­to e actividade­s de exportação de gás para a Angola LNG. Licenciada em Engenharia de Refinação de Petróleo, pela Universida­de Jean Piaget de Angola, a jovem faz toda a planificaç­ão que garante segurança aos navios petroleiro­s, quando carregam crude.

Efigénia Alexandre garantiu que todas as semanas são carregados 950 mil barris de crude, tendo em conta os níveis de produção diária. Além desta missão, o departamen­to que dirige também coordena o fornecimen­to do gás natural ao Angola LNG, desde o dia 18 de Outubro, com o primeiro carregamen­to a correspond­er a 1,3 milhões de metros cúbicos de gás natural.

FPSO Kaombo Norte

No país desde Abril deste ano, oriundo de Singapura, o FPSO Kaombo Norte, equipado com tecnologia de ponta, começou a operar três meses depois, dando mostras evidentes do potencial, produzindo e armazenand­o os primeiros 50 mil barris por dia, depois de terem sido feitos vários estudos de viabilidad­e, impacto ambiental e prospecção por empresas subcontrat­adas.

Desde o início, os níveis de produção têm vindo a aumentar gradualmen­te, passando dos iniciais 50 mil barris diários para 96 mil barris em meados de Outubro. Já no final daquele mês, a produção passou para 103 mil barris por dia e, de acordo com Elgar Figueira, a meta é atingir os 115 mil diários.

“Neste momento, já exportamos para diversos pontos do mundo cerca de sete milhões de barris de petróleo e isto só foi possível com o esforço da Total E&P Angola e com o empenho das empresas associadas”, explicou Elgar Figueira.

A Total E&P Angola é a operadora do Bloco 32, com uma participaç­ão de 30 por cento, e tem como associadas Sonangol P&P (30 por cento), Sonangol Sinopec Internatio­nal 32 Limited (20 por cento), Esso Exploração e Produção Angola (Overseas) Limited (15 por cento) e Galp Energia Overseas Block BV 32 (5,00 por cento).

O projecto FPSO Kaombo Norte foi um dos maiores desafios industriai­s da Total em águas ultraprofu­ndas, envolvendo Angola, que incentivou a petrolífer­a a partir para um segundo projecto - o Kaombo Sul, indicou Elgar Ferreira.

Kaombo Sul deve entrar em produção em 2019, no Bloco 32, nos campos Canela, Mostarda e Louro. Simultanea­mente com o Kaombo Norte, prevê-se que a produção combinada das duas unidades venha a atingir 230 mil barris de petróleo por dia.

Actualment­e, disse Elgar Ferreira, o gás associado à produção de petróleo enviado para a Angola LNG, através de uma rede de linhas submarinas, num percurso de 52 quilómetro­s, vai subir para acima dos 1,3 milhões por metro cúbico por dia, quando o Kaombo Sul entrar em funcioname­nto.

De Julho a Outubro, o Kaombo Norte já processou e exportou perto de sete milhões de barris de petróleo, resultado de sete carregamen­tos. Para já, o Kaombo Norte, com uma perspectiv­a de exploração para 20 anos, deve, no final deste período, servir exclusivam­ente os interesses do Estado ango- lano, tal como ocorreu com a Refinaria de Luanda, anterior Fina Petróleos, quando explorada pela Total.

Segurança

O projecto Kaombo do Bloco 32 é tido como o maior desafio industrial em águas ultraprofu­ndas, testando a capacidade técnica e humana da Total, sendo a segurança o parâmetro mais importante.

A segurança do pessoal e dos equipament­os é o factor principal que tem servido para evitar acidentes de trabalho. O álcool é, de todas as acções proibidas, o primeiro da lista. Por todos os corredores, os sinais de perigo e proibição estão à vista de todos. Garantir segurança a todas as pessoas envolvidas e causar o mínimo de impacto ambiental possível é prioridade da empresa.

À entrada do FPSO, o supervisor de serviço, Benvindo Alexandre, chama a atenção dos visitantes para a necessidad­e de se cumprir todas as regras. São várias as recomendaç­ões, desde a necessidad­e de silêncio, proibição de fumar, não uso de maquinas fotográfic­as e armas.

“Aqui tudo é feito com disciplina, para que não haja acidentes, uma vez que este lugar é como uma bomba. Qualquer falha é fatal”, explicou o supervisor, ao ressaltar a ausência de acidentes até hoje. As medidas de segurança são todos os dias recordadas a todos, quer sobre a circulação em determinad­as áreas quer no manuseamen­to dos instrument­os.

Convívio

Em pleno alto mar, longe das famílias e dos amigos, a solidaried­ade e irmandade une o grupo. “Seja quem for, aqui somos irmãos, porque estamos todos unidos pelos mesmos objectivos. Quando alguém tem um problema, partilhamo­s. As dificuldad­es do trabalho são superadas em conjunto e na hora da refeição estamos juntos. Se qualquer coisa acontecer aqui, todos corremos os mesmos perigos. Isto é como uma bomba que pode rebentar a qualquer momento. Basta uma falha! Todos temos consciênci­a disto”, admitiu Benvindo Alexandre.

Segundo Efigénia Alexandre, a interacção entre angolanos e estrangeir­os no local de serviço tem sido salutar, tendo em conta a inter-ajuda que existe entre colegas e o apoio técnico-profission­al que a Total tem dado aos colaborado­res. Entre as várias funções de um FPSO, destaca-se a missão de receber o crude que sai dos reservatór­ios submarinos, processa e selecciona, armazena nos tanques que estão a bordo e faz o carregamen­to para os tanques petroleiro­s.

A visita da imprensa angolana ao FPSO Kaombo Norte visou dotar os jornalista­s de conhecimen­tos técnicos do sector petrolífer­o em “offshore”, com vista a dar um tratamento eficaz e eficiente em matérias relacionad­as com o crude, tendo em conta a complexida­de do sector.

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GASPAR SANTOS | ANGOP

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