Angola sem cofres vazios para as gerações futuras?
A reconstrução total de Angola, não há quem com bom senso duvide, vai demorar muito mais tempo do que uns quantos querem fazer crer e outros dizem acreditar, tais as evidências que nos entram pelos olhos. Não há operação nenhuma, tenha ela o nome que lhe queiram dar, com o efeito de magia, por mais rezas que se façam, bruxos a que se recorram. Mesmo que se evoquem os deuses todos. Os dos vivos, mortos, das profundezas da terra, mares, rios, lagoas, céus. Os factos quanto às dificuldades, que apenas começámos a viver, são indesmentíveis. De uma ponta a outra do país. Preparemo-nos, pois, todos os interessados em deixar uma Angola menos má às próximas gerações, para grandes sacrifícios e não corramos o risco de querer imitar a avestruz que enterra a cabeça na areia. Desenganem-se os que julgam que podem voltar a viver os tempos da bonança desregrada. Ilusoriamente destinada a todos, mas que mais não foram do que cortinas de fumo estonteante que permitiram dividir a nossa sociedade em castas. Que se acentuam cada vez mais. Ao ponto de alguns, que, na altura, se deixaram arrastar pelo clima do facilitismo que imperava, começarem agora a perceber que, afinal, o sonho que viveram, pintado com todas as cores bonitas do arco-íris, foi somente isso. A Angola solidária, que a maioria dos seus filhos deseja, tem agora a oportunidade de começar a surgir. Desde que não sejam os mesmos de sempre, os menos bafejados pela sorte, a pagar o preço mais alto. Por isso mesmo, na hora de “ximbicar” o país para águas menos revoltas, que se pense neles em primeiro lugar, criando-lhes condições que nunca tiveram, aligeirandolhes a carga que todos, sem excepção, que amam esta terra estão obrigados a carregar. Como? Cerrando fileiras no combate ao nepotismo, peculato, corrupção, o tripé diabólico que transformou a nação nesta caldeira de maldade, egoísmo, petulância, insensibilidade, cujos efeitos se fazem sentir a todo o instante. Nesta fase de voltar a ter esperança numa Angola nova, eternamente adiada, é preciso que percebamos todos que não basta ser portador de um bilhete de “alguém bem colocado” ou pertencer a determinadas famílias para se arranjar “emprego” numa empresa, que não se pode continuar a pagar salários a quem prima pelo absentismo no trabalho, que não se pode nomear pessoas para cargos para os quais não estão minimamente preparadas. A alteração deste estado de coisas pode ser o primeiro passo para a normalização da nossa sociedade, mas não é o único. Impõem-se outros, para podermos deixar às gerações futuras um país onde não se vendam edifícios que são património nacional, não haja artérias com nomes evocativos do regime que oprimiu o nosso povo, províncias onde grupos de malfeitores estrangeiros se instalem e pilhem a bel-prazer nossas riquezas, prédios a taparem museus, construções de gosto duvidoso em cima de praças e jardins, pessoas a pagar com a vida por não terem dinheiro suficiente para serem assistidos em unidades hospitalares, cartas de condução compradas, diplomas académicos obtidos da mesma forma. O país que devemos deixar às gerações vindouras também não pode ser aquele onde haja bancas públicas de venda ilegal de moeda que falta nas casas de câmbio ou nos bancos comerciais, do qual saem para o estrangeiro, de forma ilícita, fortunas incalculáveis para o angolano comum, onde qualquer amigo ou familiar “de alguém” viaja com passaporte diplomático, enquanto, por exemplo, o autor da letra do Hino Nacional - porventura, igualmente, o da melodia - um dos nossos símbolos sagrados, não tem! O país que vamos deixar aos angolanos de amanhã não pode ter, como este onde vivemos, os cofres vazios. Se isso suceder é a nossa falência como nação, que não fizemos por merecer.
Preparemo-nos, pois, todos os interessados em deixar uma Angola menos má às próximas gerações, para grandes sacrifícios e não corramos o risco de querer imitar a avestruz que enterra a cabeça na areia