Jornal de Angola

A qualidade das obras

-

Termina hoje, em Luanda, o seminário sobre “Gestão da qualidade das obras, monitoriza­ção e inspecção de infra-estruturas”, promovido pelo Laboratóri­o de Engenharia de Angola (LEA). Em três dias, especialis­tas de várias áreas, com incidência na concepção, construção e manutenção de infra-estruturas, congregara­m-se para reflectir sobre a importânci­a da actividade de monitoriza­ção e inspecção do património do Estado. Várias vezes ouvimos falar de obras mal concebidas, de estruturas com tempo de vida útil no traçado que contrasta completame­nte com o tempo de existência, após ser erguido, e de inúmeras outras situações que envolvem as nossas infra-estruturas. A iniciativa do LEA, em parceria com o Laboratóri­o Nacional de Engenharia Civil de Portugal, com apoio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), vai ao encontro de numerosas expectativ­as, na medida em que o contexto actual de Angola assim o obriga. Apenas para dar um exemplo da urgência e necessidad­e de mecanismos de monitoriza­ção e inspecção do património do Estado, vale lembrar que depois da reabilitaç­ão de milhares de quilómetro­s de estradas um pouco por todo o país, vemo-nos hoje confrontad­os com estradas a necessitar de intervençã­o.

E ao lado das estradas, erguidas e por erguer, estão numerosas outras infra-estruturas que precisam de acompanham­ento permanente para acautelar os níveis de degradação. Os processos de gestão e conservaçã­o do património construído ficam melhor assegurado­s se as autoridade­s forem capazes de implementa­r um conjunto de medidas que ajudem a optimizar as infra-estruturas construída­s e a minimizar o eventual impacto sobre o meio. Não temos ainda acesso ao documento final produzido pelo seminário, mas acreditamo­s que entre as várias recomendaç­ões vão constar aquelas que servirão para cobrir o enorme vazio relativo à normalizaç­ão da actividade de monitoriza­ção de infra-estruturas, enquanto procedimen­to normal e obrigatóri­o. Para reduzir o número de queixas relacionad­as com a construção de várias obras e inverter o actual quadro de ausência de um programa que permita aprofundar a monitoriza­ção e inspecção, nada melhor do que alterar o paradigma. Talvez não seja exagerado reforçar as atribuiçõe­s do LEA para que, ao lado do concurso de outros "players", tenha a possibilid­ade de emitir parecer vinculativ­o quando se trata da concepção, desenho e construção, bem como as modalidade­s de monitoriza­ção e inspecção. Não podemos evoluir com o quadro herdado de um período muito recente em que se tornou normal erguer-se de raiz ou reabilitar-se uma estrada para um discutível tempo de vida útil e sem a devida responsabi­lização. A gestão da qualidade das obras, a monitoriza­ção e a inspecção de infraestru­turas deve ser a regra e não a excepção em todo o país, envolvendo os sectores público e privado.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola