Mudanças estão a ser sentidas
O cantor e compositor angolano Barceló de Carvalho “Bonga” afirmou que as mudanças que o Presidente João Lourenço efectua “estão a ser sentidas pelos angolanos”, que já vêem algo mais do que a “cepa torta” em que o país caiu.
Numa entrevista à agência Lusa, o autor de “Lágrima no Canto do Olho”, 76 anos, recusou a ideia de ser propagandista. “Não o fui no passado, não o sou agora” , mas destacou que as acções de João Lourenço estão a ter “grande impacto”, quer interna quer externamente.
“Se temos hoje como número um da política angolana, um novo Presidente, que mudou, e está a fazer o que está a fazer, sentido pelos angolanos todos e pelo mundo, principalmente pelos países por onde já andou, as impressões que deixou tiveram um impacto tremendo”, explicou.
Barceló de Carvalho destacou que o impacto “não é o falado”, mas sim o que “está a ser praticado em função daquilo que João Lourenço diz”, realçando que é “realista e não propagandista”, com base no que está a observar no país, fruto também das “dicas” de compatriotas que lhe vão dando conta das alterações.
“Dizem-me: 'agora estamos a sentir, pá, o homem está aí a falar sério e a realizar, com algumas dificuldades, pois estávamos habituados àquela cepa torta, em que não íamos a lado nenhum e o país estava a degenerar”, referiu.
Dois desses exemplos, disse, são as operações “Transparência” (de combate à imigração ilegal e de exploração selvagem de diamantes) e “Resgate” (para impor a autoridade do Estado em todo o país), que, apesar de terem sido organizadas pelo Governo, “é da responsabilidade de todos os angolanos”.
“Quem não quer uma casa limpa, os filhos assistidos com medicamentos e na escola? Quem não quer o fim da fome e da precariedade? Todos nós queremos isso. E isso está a ser feito, o que é muio importante”, assinalou, indicando que não interessa o tempo que vai demorar a mudar a mentalidade dos angolanos.
Trajando um "t-shirt" com a frase“Nunca desistas!”, Bonga assumiu que, durante o período em que foi considerado como“maldito” nunca desistiu, "mesmo em situações conturbadas".
“Esta terra é nossa, dos angolanos, por conseguinte, a terra de origem nunca pode ser abandonada. Nem pensar”, frisou.
“Qualquer que seja o passante das ruas, verifica-se que tem mágoas muito grandes, de crianças que desapareceram, de grandes homens, da política, da literatura, da música e de outras artes, para não falar do anonimato, enfim, fez com que tivéssemos a tal 'lágrima no canto do olho', condoídos com esse sofrimento, com a colaboração e conivência de muitos estrangeiros que venderam para aqui armamento bélico e não só”, afirmou.
Esses muitos estrangeiros, explicou, vieram porque Angola é uma terra “rica e apetecida”e “não porque gostavam dos angolanos, mas para fazerem o 'business' com lucros chorudos. Isso tem as suas consequências e é complicado quando está em causa um povo que lutou, teve a sua Independência e viveu ainda com dificuldades. Isso é muito aborrecido e não há quem não sinta esta mágoa que trazemos no peito”, notou.
Sobre se, aos 76 anos, tenciona regressar definitivamente a Angola, Bonga, cujo nome, Bonga Kuenda adoptou na adolescência, que apontou como o seu “verdadeiro eu”, disse tratar-se de uma questão “complexa”, mas admitiu que, se tudo continuar a evoluir no bom caminho, pode vir a pensar no assunto.