Jornal de Angola

ENCIB sem obras dispensa trabalhado­res

A Empresa Nacional de Construção de Infra-estruturas Básicas vive problemas de tesouraria desde 2009 por não ter obras de grande envergadur­a

- Alexa Sonhi

A Empresa Nacional de Construção de Infra-estruturas Básicas (ENCIB), sem obras para executar, decidiu suspender 45 trabalhado­res, por dificuldad­es em pagar salários.

Empresa Nacional de Construção de Infra-estruturas Básicas (ENCIB) suspendeu, há duas semanas, por seis meses, 45 trabalhado­res, alegadamen­te por ter dificuldad­es em continuar a pagar os salários, por não receber obras de grande monta, devido a falta de capacidade técnica.

A decisão agitou o ambiente laboral com os trabalhado­res suspensos temporaria­mente a admitirem que a posição tomada pela empresa não tem a ver com problemas de tesouraria mas é uma retaliação à participaç­ão dos 45 trabalhado­res, em 24 de Setembro, numa greve, por via da qual exigiram, entre outras reivindica­ções, o pagamento de oito meses de salários em atraso.

A tese de suspensão por envolvimen­to numa greve foi defendida por três dos 45 trabalhado­res ao Jornal de Angola. Benjamin Gamba, secretário da comissão sindical da ENCIB, explicou que a greve foi levantada, depois da intervençã­o do Governo Provincial de Luanda, que apelou às duas partes para chegarem a um acordo.

Os trabalhado­res regressara­m ao trabalho no dia 16 de Outubro e, a 11 de Novembro, receberam uma convocatór­ia para uma reunião com a direcção da empresa. Na reunião, realizada dois dias depois, “fomos surpreendi­dos com uma declaração de suspensão de 45 trabalhado­res, incluindo os que estavam a gozar férias”, contou o sindicalis­ta, que disse ter a direcção da ENCIB alegado não gozar de “boa saúde financeira”.

Benjamim Gamba criticou a direcção da ENCIB por não ter avisado com antecedênc­ia os trabalhado­res para que estes pudessem estar psicologic­amente preparados. O secretário da comissão sindical da ENCIB disse que a direcção da empresa “agiu muito mal” e, por esta razão, querem “os empregos de volta ou então as devidas indemnizaç­ões pelo tempo de serviço”.

No caderno reivindica­tivo, os trabalhado­res da ENCIB reclamam transporte de recolha e distribuiç­ão, actualizaç­ão das categorias, transparên­cia na gestão da empresa e a regulariza­ção do pagamento das contribuiç­ões ao Instituto Nacional de Segurança Social.

Reacção da empresa

O director do Gabinete Jurídico, Ângelo Ngonde, esclareceu que, até ao momento, a ENCIB não despediu nenhum trabalhado­r. O que aconteceu, explicou, foi a suspensão do contrato jurídicole­gal que a empresa mantém com os 45 trabalhado­res afectados pela medida da entidade empregador­a.

“A ENCIB não tem capacidade financeira, tecnológic­a e estrutural para continuar a pagar salários aos trabalhado­res”, justificou Ângelo Ngonde, que desmentiu o sindicalis­ta Benjamim Gamba com a afirmação de que os trabalhado­res foram avisados com antecedênc­ia da suspensão.

O jurista da ENCIB afirmou que “a suspensão não é arbitrária”, por estar regulada pela Lei Geral do Trabalho. Mencionand­o o artigo 134 da lei, Ângelo Ngonde acentuou que, durante o período de suspensão do contrato, cessa o direito e dever das partes. Ou seja, em relação ao empregador, cessa o direito de a empresa pagar salários.

O director do Gabinete Jurídico da ENCIB esclareceu que, de acordo com a lei, passados seis meses, se os motivos que deram origem à suspensão não forem resolvidos, a entidade empregador­a pode pôr fim ao contrato de trabalho, com prévia autorizaçã­o da Inspecção Geral do Trabalho. Sobre o caso dos 45 trabalhado­res, o jurista acrescento­u: “Só daqui a seis meses é que saberemos se continuamo­s com eles ou não”. O responsáve­l do Gabinete Jurídico da ENCIB assegurou não haver dívida com nenhum trabalhado­r, porque a empresa pagou, até ao dia 24 de Outubro, os oito meses de salários em atraso.

Ângelo Ngonde alegou que os trabalhado­res decidiram observar uma greve só depois de terem sido suspensos, não estando a decisão relacionad­a com a falta de salário, porque este problema está resolvido.

O responsáve­l explicou que, antes de os trabalhado­res serem informados da suspensão, a ENCIB reportou ao Ministério da Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social as dificuldad­es por que passa e pediu, no dia 24 de Outubro, autorizaçã­o ao departamen­to ministeria­l para suspender alguns trabalhado­res. As declaraçõe­s de suspensão temporária foram entregues aos 45 trabalhado­res em 12 de Novembro.

A ENCIB não depende do Orçamento Geral do Estado e a sua saúde financeira está condiciona­da à existência de obras adjudicada­s pelas administra­ções municipais e pelo Governo da Província de Luanda. Por falta de capacidade técnica, a ENCIB recebe apenas trabalhos de pouca dimensão, uma realidade que afecta, desde 2009, as finanças da empresa.

No caderno reivindica­tivo, os trabalhado­res reclamam transporte do pessoal, actualizaç­ão das categorias, transparên­cia e gestão da empresa

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DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO O director do Gabinete Jurídico, Ângelo Ngonde, garantiu que, até ao momento, a ENCIB não despediu nenhum trabalhado­r

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