Jornal de Angola

Pela defesa da igualdade

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O Governo do Ruanda colocou em marcha aquilo que designou de “projecto piloto” e que visa dotar os alunos do ensino secundário de conhecimen­tos básicos sobre os direitos das mulheres, uma forma de promover a igualdade do género e evitar as discrimina­ções que habitualme­nte ocorrem, com especial incidência no continente africano.

No mesmo projecto, está ainda previsto que as alunas, por seu lado, tenham aulas sobre investimen­to de modo a poderem preparar-se para, mais tarde, garantirem a sua independên­cia financeira em relação aos homens.

Neste programa, está também previsto que todos os fins de semana rapazes e raparigas tenham aulas comuns para efectuarem uma troca de experiênci­as e fomentarem debates sobre os direitos da mulher e a importânci­a que elas têm na gestão familiar.

Neste espaço de estudo comum, rapazes e raparigas são ainda incentivad­os a denunciar situações de violência no género que sejam do seu conhecimen­to.

Estas denúncias, segundo consta do programa, serão utilizadas meramente para estudo académico e eventual auxílio às pessoas afectadas e que careçam de ajuda.

Um dos assumidos principais objectivos deste projecto governamen­tal, que tem o apoio de algumas organizaçõ­es humanitári­as e financeira­s, é o de dotar a juventude das bases necessária­s para que a mulher possa ser vista pela sociedade com o mesmo respeito que é dado aos homens, e assim se evite a continuaçã­o dos actos de violência que ainda hoje se registam com preocupant­e gravidade.

Nesta fase do projecto, vão estar abrangidas 174 escolas espalhadas pelo país, numa tentativa de diversific­ar geografica­mente o combate pela rectificaç­ão da actual situação de discrepânc­ia entre a importânci­a que a mulher já tem na sociedade e o número das que foram vítimas de violência.

Esta abrangênci­a vai permitir que 47 mil raparigas e 19 mil rapazes sejam reeducados em contrapont­o com aquilo que têm sido as normas culturais do país, onde as mulheres ainda hoje raramente são respeitada­s, sobretudo entre as quatro paredes das suas casas.

Segundo o Governo ruandês, o grande objectivo é reduzir, a médio prazo, em 44 por cento o número de casos de violência praticados por homens contra as mulheres.

O facto deste projecto ter sido assumido pelo Governo do Ruanda, ganha especial importânci­a por se tratar de um dos países que carrega um legado bastante negativo no que respeita à violência contra a mulher , sobretudo herdado do período do genocídio.

Em 1994, durante os 100 dias de maior violência, segundo dados oficiais, mais de 500 mil mulheres foram violadas, havendo também a registar a morte de 800 mil extremista­s Tutsi e Hutus moderados.

Desde então, o país tem vindo aos poucos a aumentar o número de mulheres nas suas instituiçõ­es, naquilo que foi dito recentemen­te pelo próprio presidente Paul Kagame ser uma tentativa de transforma­r o Ruanda num “paradigma africano”.

Actualment­e, por exemplo, segundo dados das Nações Unidas, no Parlamento 60 por cento dos assentos são ocupados por mulheres, o que contrasta com percentage­ns em países ocidentais, onde no Reino Unido é de 27 por cento e nos Estados de Unidos de apenas 25 no total das duas câmaras.

Ainda fazendo fé nos números avançados pelas Nações Unidas, estima-se que 34 por cento das mulheres ruandesas tenham sido já vítimas de um acto de violência, pelo menos uma vez.

Tal como a Etiópia tem feito desde que mudou a direcção política do país, também o Ruanda se está a assumir como pioneiro na promoção dos efectivos direitos das mulheres na sociedade e na educação básica para travar a violência doméstica.

Exemplos como este, onde os jovens são chamados nas escolas a respeitare­m-se entre si, independen­temente do seu género, poderiam ser seguidos entre nós com as igrejas a serem chamadas a desempenha­r um papel formativo de incontorná­vel importânci­a.

Neste momento de resgate dos valores perdidos, todos nós temos a obrigação de formar os nossos filhos no respeito pela diferença, sem a necessidad­e de esperarmos que seja o Estado a fazer aquilo que é a nossa obrigatóri­a missão como pais e encarregad­os de educação.

Neste momento de resgate dos valores perdidos, todos nós temos a obrigação de formar os nossos filhos no respeito pela diferença, sem a necessidad­e de esperarmos que seja o Estado a fazer aquilo que é a nossa obrigatóri­a missão como pais e encarregad­os de educação

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