Itália quer relançar indústria alimentar
Presidentes João Lourenço e Sergio Mattarella analisaram ontem as vantagens comuns na cooperação entre os dois países. Questões da política internacional foram igualmente abordadas, com destaque para a actual situação na Venezuela
Os Governos de Angola e de Itália assinaram ontem, em Luanda, um memorando de entendimento no domínio económico e comercial, no quadro da visita de Estado de três dias ao país do Presidente italiano, Sergio Mattarella, a convite do homólogo João Lourenço. O memorando tem como foco prioritário os sectores de agro-negócio, pesqueiro, zootecnia, turístico, manufactureiro e energético, com destaque para o desenvolvimento de fontes de energia renováveis, infra-estruturas sociais, logísticas e de transportes. Os dois Governos pretendem ainda estudar, identificar e avaliar a possibilidade de implementação de projectos integrados de produção agrícola sustentável, transformação industrial e distribuição alimentar.
O Presidente da República, João Lourenço, encorajou ontem, em Luanda, empresas italianas, além da ENI e outras já instaladas em Angola, a investirem em diversos domínios onde ainda não é expressiva a sua presença empresarial.
João Lourenço, que discursava no Salão Nobre da Cidade Alta depois de breves declarações à imprensa nos jardins do Palácio Presidencial, pediu que o homólogo italiano Sergio Mattarella “use o seu prestígio e influência para sensibilizar os investidores italianos”.
No discurso, João Lourenço pediu igualmente que o Chefe de Estado italiano interceda junto dos empresários italianos para que encarem “sem hesitação” as inúmeras oportunidades que o mercado angolano oferece e das quais podem colher grandes benefícios.
“Creio que o Memorando de Entendimento entre o Ministério das Finanças de Angola e a Caixa de Depósitos e Empréstimos da Itália constitui um instrumento que vai promover e apoiar as empresas italianas na realização de negócios e investimentos em Angola e de angolanas na Itália”, referiu o Chefe de Estado, para quem este quadro abre novas perspectivas para o estabelecimento de parcerias em sectores de interesse comum.
Para o Presidente da República, é importante que actualmente se olhe para Angola numa óptica positiva, numa altura em que foram tomadas medidas que tornam mais atractivo o investimento externo e os negócios em geral. Neste sentido, falou da colaboração entre o Governo angolano e o Fundo Monetário Internacional no âmbito da qual está a ser implementado um programa de reformas económicas. Estas reformas, referiu, têm permitido melhorar gradualmente os principais indicadores económicos e tornar mais sólidas as bases da economia angolana.
“Sei que tem um vasto conhecimento da realidade angolana e, por isso, está a par do potencial que Angola dispõe em termos de recursos naturais de vária ordem”, disse João Lourenço, que, de seguida, destacou os investimentos e a participação significativa da ENI no sector petrolífero e com boas perspectivas para a exploração de gás natural.
No quadro dos esforços de cooperação, João Lourenço lembrou que, em finais de 2017, durante a visita efectuada a Angola pelo então Primeiro-Ministro italiano, Matteo Renzi, acordou-se em acelerar os mecanismos necessários para o reforço da cooperação e em domínios prioritários relativos à diversificação da economia, particularmente nos sectores da agricultura, energia e águas, indústria transformadora, turismo, transporte e infra-estruturas.
João Lourenço sublinhou o facto de, apesar de o enfoque dos dois países ser a consolidação da cooperação económica que garante o desenvolvimento económico e social dos dois países, a cooperação abrange o domínio da defesa, com fornecimento a tempo dos helicópteros “Augusta” e equipamento dos Centros de Coordenação Marítima. Estes, segundo o Presidente da República, estão ainda por executar como parte do mais amplo “Projecto Kalunga” de vigilância marítima e protecção da costa e águas territoriais.
João Lourenço lembrou que esta intensa actividade diplomática resultou na assinatura de vários instrumentos jurídicos que reflectem a vontade dos dois governos em promover o relançamento e a dinamização da cooperação económica e o intercâmbio empresarial com base no respeito mútuo, igualdade e na reciprocidade de vantagens.
O Chefe de Estado angolano realçou o desempenho da Itália na altura da proclamação da Independência Nacional, “um importante papel na formação do país como nação soberana ao ter sido o primeiro ao nível da Europa a reconhecer sem hesitação o surgimento de um novo Estado em África”. Nisso, o Presidente da República agradeceu o apoio da Itália ao povo angolano num dos momentos mais difíceis da sua história.
Situação na Venezuela
Na plano internacional, João Lourenço voltou a falar do desenrolar do conflito israelopalestino cuja solução deve ser pacífica, como é conhecida e recomendada pela comunidade internacional.
O Presidente da República disse que, lamentavelmente, quando existem outros focos de tensão por debelar, como é o caso da Síria, Afeganistão, Iémen, Sahel e do corno da África, eis que parece estar a incubar mais um conflito na América Latina, mais concretamente na Venezuela. Para o Chefe de Estado angolano, “é preciso que o bom senso prevaleça, deixando que os actores políticos e o povo venezuelano encontrem eles próprios os melhores caminhos para a paz e o regresso à normalidade democrática, únicas garantias para o desenvolvimento económico e social do país”.
Visita à Itália
O Presidente da Itália, Sergio Mattarella, agradeceu a hospitalidade e o que considerou “amáveis e eloquentes expressões de amizade” de João Lourenço dirigidas à Itália.
O estadista, que ontem visitou o Hospital “Divina Providência”, disse que existem novas oportunidades de cooperação entre empresas angolanas e italianas em vários sectores, nomeadamente agro-alimentar, infraestruturas, energia e turismo.
“Creio que o Memorando de Entendimento entre o Ministério das Finanças de Angola e a Caixa de Depósitos e Empréstimos da Itália constitui um instrumento que vai promover e apoiar as empresas italianas na realização de negócios e investimentos em Angola e de angolanas na Itália”, referiu o Chefe de Estado