Jornal de Angola

EUA congelam e Austrália derrete

- Osvaldo Gonçalves

Diante da onda de frio que assola os Estados Unidos da América (EUA), com temperatur­as até 50 graus negativos, o Presidente Donald Trump recorre à rede social Twitter para ironizar, reforçando dessa forma o seu cepticismo em relação ao aqueciment­o global. Enquanto isso, na Austrália, o calor bate recordes e chegou já perto dos 50 graus Celsius. De ambos os lados, há relatos de dezenas de mortes.

Num título algo cómico, mas bastante ilustrativ­o da situação, o site brasileiro de curiosidad­es, novidades e notícias megacurios­o.com.br escrevia recentemen­te: “Enquanto répteis congelam nos EUA, morcegos morrem de calor na Austrália.”

Temos dúvidas se essa matéria foi lida por Donald Trump, ocupado a “twittar”: “No lindo Midwest, as temperatur­as geladas chegam aos 50 graus negativos, o mais frio de sempre. Nos dias que aí vêm ainda pode ficar mais frio.”

“As pessoas não conseguem estar no exterior uns minutos que seja. O que raio se passa com o aqueciment­o global? Por favor, volta depressa, precisamos de ti”, acrescento­u.

Não foi a primeira vez que Donald Trump fez esse tipo de comentário­s sobre o aqueciment­o global. Para o Presidente norte-americano, é estranho que um fenómeno à escala global poderia suceder quando numa parte dos EUA está mais frio do que o normal. “Se o Mundo está a ficar mais quente, por que, então, está a fazer tanto frio nos EUA?”, perguntou o actual inquilino da Casa Branca, que considera exageradas as preocupaçõ­es com o aumento médio de temperatur­as no Mundo.

Tempo e clima

As respostas às dúvidas de Donald Trump vieram de cientistas do Mundo inteiro, incluindo os próprios EUA. Eles afirmam que, tal como acontece com muitas outras pessoas, o Presidente confunde dois conceitos: clima e tempo, que têm significad­os diferentes na meteorolog­ia.

O tempo, esclarecem, refere-se às condições atmosféric­as registadas num período de tempo curto. Varia no diaa-dia. Já o clima é um panorama mais prolongado e completo dos padrões de tempo. Referese às condições que prevalecem numa região ou em toda a Terra, e pode ser estudado com uma análise das tendências históricas.

O que o Presidente norteameri­cano não lê - mas devia - é a página na Internet que a NASA dirige a crianças. Nela, a Agência Espacial Norte-Americana explica, entre muitas outras coisas, que devemos esperar tempos frios, mesmo que as temperatur­as do planeta aumentem de forma geral.

“O caminho até um Mundo mais quente terá muitos episódios de tempos extremamen­te quentes e extremamen­te frios”, refere o “site”.

A NASA explica ainda que as mudanças climáticas alteram a forma como correntes marítimas, correntes de vento e outros fenómenos meteorológ­icos funcionam ao redor do Mundo, gerando eventos meteorológ­icos extremos, tanto de frio quanto de calor.

Como exemplo, refere que o aqueciment­o do Ártico pode fazer com que as correntes de vento polar gelado se desloquem para o Sul, causando ondas de frio em lugares onde elas não costumavam ocorrer. É o que acontece actualment­e com a frente fria nos EUA, prevista pelos cientistas, que apontaram para o aqueciment­o do Ártico como causa.

Do outro lado do planeta, na Austrália, o calor é tanto que os morcegos caem das árvores com os cérebros fritos e as cobras refugiam-se dentro das sanitas.

Calor derrete asfalto

Dezembro passado foi o mês mais quente de sempre na Austrália e a situação crítica prosseguiu. Especialis­tas apontam que aquele país vive a maior onda de calor da sua história, com os termómetro­s a baterem recordes seguidos em Janeiro.

Toda a vasta área continenta­l da Austrália foi afectada pela onda de calor. Em Wauchope, cerca de 370 quilómetro­s a norte de Sydney, o diário local “Argus” relatou que o asfalto estava a derreter na rodovia principal e que operários da cidade tiveram de espirrar água para resfriar a superfície e evitar que ela ficasse presa nos pneus de carros.

O que o Presidente dos EUA não lê mas devia - é a página na Internet que a NASA dirige a crianças. Nela explica, que devemos esperar tempos frios, mesmo que as temperatur­as do planeta aumentem de forma geral

O mesmo acontece no Leste do país, onde os recordes de calor foram quebrados com temperatur­as próximas dos 50 graus Celsius.

Os cientistas são muito claros quanto ao tema. Dizem que o aqueciment­o da água do mar é o equivalent­e à explosão de uma bomba atómica por segundo, já que mais de 90 por cento do calor armazenado devido às emissões de gases de estufa foi absorvido pelos oceanos.

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DR Cidades norte-americanas registam baixas temperatur­as a rondarem os 50 graus negativos

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