Agitação estudantil ameaça as eleições
Vinte estudantes foram detidos no decorrer de uma manifestação de protesto contra a actual greve dos professores que faz perigar o ano lectivo, criando um clima de agitação que compromete o processo eleitoral quando falta apenas um mês para a votação
A detenção de 20 estudantes que participavam sexta-feira numa manifestação de protesto nas ruas da capital da Guiné-Bissau contra a greve dos professores, que ameaça anular o ano lectivo em curso, continua a ter repercussões e começa a comprometer o clima de estabilidade necessário quando o país está a um mês da realização das eleições legislativas.
Acusados da prática de “actos ilícitos” nas manifestações, com a Polícia a garantir que foram cortadas estradas, queimados pneus e vandalizadas as instalações do segundo maior partido político do país, o PRS, os estudantes demarcam-se da violência e acusam as autoridades de terem reagido de modo “inapropriado”.
Celso de Carvalho, comandante da Polícia, afirmou que tentou demover os alunos a não realizarem as manifestações, mas ao perceber da sua determinação colocou os agentes nas ruas e lamentou o rumo que os acontecimentos tomaram a partir de um certo momento.
Na verdade, os alunos das escolas públicas ocuparam as principais avenidas da capital da Guiné-Bissau para exigir o fim da greve dos professores, que mantêm um braço de ferro com o Governo quanto ao pagamento de salários em atraso, mas, o que se passou depois ainda está verdadeiramente por se apurar.
O presidente do Partido de Renovação Social (PRS), Alberto Nambeia, garantiu ter havido uma “mão invisível” no protesto dos estudantes.
O presidente do PRS, segunda força política do país, sublinhou ontem que há muita gente que não quer eleições e que tentam arranjar bodes expiatórios para adiar o escrutínio.
Alberto Nambeia não apontou directamente os responsáveis pelo assalto à sede do seu partido em Bissau, mas disse que “compete à Polícia garantir a segurança das pessoas e das instalações e não de ser um factor de instabilidade através da promoção da violência”.
Após duas vagas de greves, os professores das escolas públicas anunciaram à semana uma nova paralisação laboral de 30 dias, a partir de hoje, para reclamar do Governo o cumprimento de uma série de acordos que possibilitaram o levantamento da última greve em Dezembro.
Entre os pontos do referido acordo, figura o pagamento de salários em atraso a várias categorias de professores, nomeadamente os contratados e novos ingressos, bem como a aplicação efectiva do Estatuto da Carreira Docente.
Três sindicatos que representam os professores acusam o Primeiro-Ministro guineense, Aristides Gomes, de ordenar o bloqueamento, nas Finanças, do pagamento aos docentes que estiveram em greve no mês de Dezembro.
Consulta dos cadernos eleitorais
Preocupado com o que diz serem “determinadas omissões verificadas no decurso da afixação dos cadernos eleitorais provisórios”, a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) sugeriu um prazo até quinta-feira para que o Gabinete Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral (GTAPE) tome todas as diligências técnicas necessárias de forma a corrigir em tempo útil as eventuais irregularidades.
Os partidos políticos têm referido que os cadernos eleitorais ainda não estão afixados em todas as zonas do país e na diáspora e que, por isso mesmo, as pessoas não têm conseguido apresentar atempadamente as suas reclamações.
Face a estes constrangimentos, o GTAPE aceitou a sugestão do CNE e decidiu prolongar por mais dez dias o período de reclamações por ainda não se terem concluído algumas operações no terreno.
Esta preocupação das entidades responsáveis pela organização das eleições de 10 de Março surge numa altura em que a cidade de Bissau está a ser palco de alguma agitação estudantil por parte de alunos que protestam contra a greve dos professores, que ameaça anular o actual ano lectivo.
Ao mesmo tempo e para precaver eventuais contratempos, o presidente da CNE, juiz José Pedro Sambu, disse ontem que está preocupado com a segurança eleitoral e pediu com urgência a nomeação de um ministro do Interior.
No início de Novembro, o Presidente José Mário Vaz exonerou o ministro do Interior, Mutaro Djaló, a pedido do Primeiro-Ministro, depois da violência usada pela Polícia do país para dispersar uma manifestação de estudantes, com recurso a bastões e granadas de gás lacrimogéneo, não tendo até agora sido indicado um substituto.
A campanha para as eleições legislativas inicia no próximo dia 16.