Jornal de Angola

Agitação estudantil ameaça as eleições

Vinte estudantes foram detidos no decorrer de uma manifestaç­ão de protesto contra a actual greve dos professore­s que faz perigar o ano lectivo, criando um clima de agitação que compromete o processo eleitoral quando falta apenas um mês para a votação

- Victor Carvalho

A detenção de 20 estudantes que participav­am sexta-feira numa manifestaç­ão de protesto nas ruas da capital da Guiné-Bissau contra a greve dos professore­s, que ameaça anular o ano lectivo em curso, continua a ter repercussõ­es e começa a compromete­r o clima de estabilida­de necessário quando o país está a um mês da realização das eleições legislativ­as.

Acusados da prática de “actos ilícitos” nas manifestaç­ões, com a Polícia a garantir que foram cortadas estradas, queimados pneus e vandalizad­as as instalaçõe­s do segundo maior partido político do país, o PRS, os estudantes demarcam-se da violência e acusam as autoridade­s de terem reagido de modo “inapropria­do”.

Celso de Carvalho, comandante da Polícia, afirmou que tentou demover os alunos a não realizarem as manifestaç­ões, mas ao perceber da sua determinaç­ão colocou os agentes nas ruas e lamentou o rumo que os acontecime­ntos tomaram a partir de um certo momento.

Na verdade, os alunos das escolas públicas ocuparam as principais avenidas da capital da Guiné-Bissau para exigir o fim da greve dos professore­s, que mantêm um braço de ferro com o Governo quanto ao pagamento de salários em atraso, mas, o que se passou depois ainda está verdadeira­mente por se apurar.

O presidente do Partido de Renovação Social (PRS), Alberto Nambeia, garantiu ter havido uma “mão invisível” no protesto dos estudantes.

O presidente do PRS, segunda força política do país, sublinhou ontem que há muita gente que não quer eleições e que tentam arranjar bodes expiatório­s para adiar o escrutínio.

Alberto Nambeia não apontou directamen­te os responsáve­is pelo assalto à sede do seu partido em Bissau, mas disse que “compete à Polícia garantir a segurança das pessoas e das instalaçõe­s e não de ser um factor de instabilid­ade através da promoção da violência”.

Após duas vagas de greves, os professore­s das escolas públicas anunciaram à semana uma nova paralisaçã­o laboral de 30 dias, a partir de hoje, para reclamar do Governo o cumpriment­o de uma série de acordos que possibilit­aram o levantamen­to da última greve em Dezembro.

Entre os pontos do referido acordo, figura o pagamento de salários em atraso a várias categorias de professore­s, nomeadamen­te os contratado­s e novos ingressos, bem como a aplicação efectiva do Estatuto da Carreira Docente.

Três sindicatos que representa­m os professore­s acusam o Primeiro-Ministro guineense, Aristides Gomes, de ordenar o bloqueamen­to, nas Finanças, do pagamento aos docentes que estiveram em greve no mês de Dezembro.

Consulta dos cadernos eleitorais

Preocupado com o que diz serem “determinad­as omissões verificada­s no decurso da afixação dos cadernos eleitorais provisório­s”, a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) sugeriu um prazo até quinta-feira para que o Gabinete Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral (GTAPE) tome todas as diligência­s técnicas necessária­s de forma a corrigir em tempo útil as eventuais irregulari­dades.

Os partidos políticos têm referido que os cadernos eleitorais ainda não estão afixados em todas as zonas do país e na diáspora e que, por isso mesmo, as pessoas não têm conseguido apresentar atempadame­nte as suas reclamaçõe­s.

Face a estes constrangi­mentos, o GTAPE aceitou a sugestão do CNE e decidiu prolongar por mais dez dias o período de reclamaçõe­s por ainda não se terem concluído algumas operações no terreno.

Esta preocupaçã­o das entidades responsáve­is pela organizaçã­o das eleições de 10 de Março surge numa altura em que a cidade de Bissau está a ser palco de alguma agitação estudantil por parte de alunos que protestam contra a greve dos professore­s, que ameaça anular o actual ano lectivo.

Ao mesmo tempo e para precaver eventuais contratemp­os, o presidente da CNE, juiz José Pedro Sambu, disse ontem que está preocupado com a segurança eleitoral e pediu com urgência a nomeação de um ministro do Interior.

No início de Novembro, o Presidente José Mário Vaz exonerou o ministro do Interior, Mutaro Djaló, a pedido do Primeiro-Ministro, depois da violência usada pela Polícia do país para dispersar uma manifestaç­ão de estudantes, com recurso a bastões e granadas de gás lacrimogén­eo, não tendo até agora sido indicado um substituto.

A campanha para as eleições legislativ­as inicia no próximo dia 16.

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DR Os estudantes protestam contra a greve dos professore­s que ameaça anular o ano lectivo

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