Jornal de Angola

Angosat-2 está a ser construído em França

O ministro das Telecomuni­cações e Tecnologia­s de Informação, José Carvalho da Rocha, revelou que o Angosat-2 está a ser construído em França e é lançado em órbita em 2021.

- Graciete Mayer MINISTRO DAS TELECOMUNI­CAÇÕES, JOSÉ CARVALHO DA ROCHA

O Angosat-2 está actualment­e a ser construído em França, devendo estar em órbita em 2021. O Ministro das Telecomuni­cações e Tecnologia de Informação, José Carvalho da Rocha, disse, em entrevista ao Jornal de Angola, que, além deste satélite, o país terá outros, em diversas áreas do conhecimen­to. Relativame­nte ao paradeiro do Angosat-1, reafirmou que continua em órbita, mas sem transmitir sinal algum. Esclareceu que, em razão das necessidad­es do país em comunicaçã­o, a Rússia disponibil­izou um mini satélite. O governante abordou ainda a privatizaç­ão da Angola Telecom, sobre a qual garantiu que vai acontecer este ano, sem, contudo, avançar datas, nem futuros accionista­s.

Em Abril próximo faz um ano sobre o início ao processo de construção do Angosat-2. Qual é o grau de execução da tarefa?

O Angosat-2 começou a ser construído a 24 de Abril de 2018 e temos 36 meses para a sua conclusão. Nesse tipo de construção, muitas vezes nem tudo é linear, pela complexida­de que isso envolve. Estamos a construir um novo satélite, peça por peça, conforme estabelece­m as obrigações do contrato. Temos estado a conversar com o construtor, que é a Airbus, e a empresa com a qual estabelece­mos o contrato, que é a Rosoborone­xport. Até aqui, as coisas estão a andar conforme o planificad­o.

Temos técnicos angolanos a acompanhar o processo de perto?

Sim, temos lá vários técnicos. Não poderíamos entrar num projecto destes sem formar

as pessoas que dominam a área. Neste momento, 60 técnicos angolanos, entre licenciado­s, mestres e doutores, enquadrado­s em diferentes equipas permanente­s, acompanham o projecto de construção, passo a passo.

No Cazaquistã­o...?

Não! O satélite como tal está a ser construído pela empresa Airbus, em França. Depois de terminar a fase de construção, é deslocado para a Rússia, nesse caso no Cazaquistã­o, para o lançamento em órbita. Em função disso, foram estabeleci­dos no contrato períodos em que devemos estar em França, para avaliar se as diferentes etapas estão a ser cumpridas. Este exercício é feito todos os meses e as nossas equipas verificam, avaliam o seguimento do projecto de construção. Há uma verba disponibil­izada pelo Executivo para suportar todos esses encargos de formação e a deslocação mensal de técnicos angolanos a França.

Devemos realçar que, dos 60 técnicos que acompanham o processo de construção do satélite, em França, 17 deles já estão fixados lá, a receber formação especializ­ada na área espacial, e dois técnicos a fazer um curso de mestrado, nas universida­des da Airbus, em Toulouse (França).Vamos agora negociar para que no próximo ano lectivo possamos enviar mais seis.

Houve essa fiscalizaç­ão permanente no Angosat-1 ....

Sim, houve.

Até que ponto é que o Executivo está preparado para gerir um eventual incidente com o Angosat-2?

Não queremos pensar num eventual incidente. Estamos apenas a gerir um contrato, onde estão todos os termos que ambas as partes devem seguir. Nós, da parte angolana, devemos honrar o que está estabeleci­do no contrato e a contrapart­e russa também. A relação que nos liga é o contrato e, felizmente, quem tiver a oportunida­de de o ler vai poder avaliar se foi ou não bem negociado. nós, que já lemos as cerca de 3 mil páginas do contrato e as 12 mil produzidas depois da renegociaç­ão, achamos que os nossos negociador­es defenderam, na verdade, os interesses do país.

Esse contrato é público. Onde podemos encontrar?

Não. Ainda não é público, por ser confidenci­al.

Há informaçõe­s segundo as quais o Angosat-2 será mais sofisticad­o que o primeiro. Qual será a sua capacidade e se isso envolverá novos custos?

O Angosat-2 será sim mais sofisticad­o e com altas taxas de transmissã­o. Ele foi renegociad­o para atender as necessidad­es que hoje o mercado impõe. Não tem custos adicionais. Assim estabelece o contrato. É uma reposição e tivemos aqui a oportunida­de de renegociar em situação de vantagem. Por isso, do nosso ponto de vista, foi um contrato muito bem renegociad­o.

Quando foi lançado o Angosat1, os membros do Executivo inclusive o senhor ministro acompanhar­am o processo em Moscovo, distante da actividade realizada no Cazaquistã­o. Será que desta vez Angola estará presente, ou seja, muito mais envolvida?

É importante verificar o seguinte: nós só não estivemos no local por causa das condições atmosféric­as, caiu muita neve nesse dia e o aeroporto de Moscovo estava fechado. Toda a equipa angolana ficou retida no Aeroporto Internacio­nal de Moscovo e devido ao agravament­o das condições meteorológ­icas foi cancelado o voo para o Cazaquistã­o. Nós tivemos uma equipa técnica no Cazaquistã­o que assistiu ao lançamento. Mas tal como os angolanos seguiram aqui, em Angola, nós também seguíamos o processo em Moscovo. Houve sempre envolvimen­to da equipa angolana.

O que esteve de facto na base do insucesso no lançamento do Angosat-1?

Até hoje, as equipas continuam a avaliar o que aconteceu de facto com o Angosat-1.

Segundo informaçõe­s que temos, o satélite continua em órbita.

Ainda há uma série de variáveis que estão a ser estudadas.

Já ouvimos que está no Peru, Indonésia, até mesmo no ... Cazenga e isso não é verdade.

A informação é que ele está em órbita, mas deixou de transmitir o sinal quando precisamen­te fazia a rotação para alinhar os painéis solares em direcção ao Sol. São 1500 quilos a fazer uma rotação e isso causou perturbaçõ­es ao equipament­o. São estas e outras questões que devem ser avaliadas minuciosim­ente. O que fizemos valer é o contrato. Não se tendo cumprida a etapa do lançamento, fomos forçados a olhar para o contrato. O pior seria se o contrato não previsse essas situações. O país teria perdido muito valor.

Nessa perspectiv­a, o Angosat1 é caso para esquecer...

Para nós, é caso para esquecer. Agora estamos a olhar para o Angosat-2.

Sabemos que a Rússia fez algumas compensaçõ­es ... Estarão a correspond­er às necessidad­es de Angola em termos de comunicaçã­o?

As compensaçõ­es são decorrente­s do contrato. Neste momento, o que posso dizer é que temos estado a usar essas compensaçõ­es para manter uma série de serviços que achamos prioritári­os, como, por exemplo, a emissão do Bilhete de Identidade (BI), a Segurança Social. Estamos a fazer agora com o Ministério da Saúde, por via dessas comE

O Satélite como tal está a ser construído pela empresa Airbus, em França. Depois de terminar a fase de construção, é deslocado para a Rússia, nesse caso no Cazaquistã­o, para a colocação em órbita.

pensações, o projecto de Telemedici­na, que está em execução no Huambo. Vamos agora trabalhar com o Moxico e a Lunda-Sul e alguns hospitais aqui em Luanda. Estas compensaçõ­es vão ser alargadas também ao Ministério da Educação, no sentido de instalar Internet nas escolas; vamos lançar uma série de serviços públicos. Em resumo, até hoje, a compensaçã­o está a garantir a materializ­ação dos diversos projectos sociais previstos e programado­s no Angosat-1. No dia 25 de Fevereiro, começaremo­s a suportar algumas dificuldad­es que a TPA tinha em alguns satélites. Já cobrimos 16 MHZ e pensamos aumentar para cobrir o que falta.

Como pensa o Executivo rentabiliz­ar os serviços do Angosat-2, para recuperar o investimen­to aplicado?

O Angosat-2 é um grande negócio. Por isso é que nem todos os países do mundo estão organizado­s para construir um satélite. Não é fácil. Esse investimen­to é recuperáve­l. Vejamos: se fizermos algumas contas simples, verificamo­s que as nossas operadoras, só em capacidade de satélite, gastam 20 a 15 milhões de dólares por mês. Em dois anos, são 360 milhões de dólares e o nosso projecto custa 320 milhões de dólares. O Angosat-2 está projectado para estar em órbita cerca de 15 anos, com mais uma tolerância de mais ou menos três anos, o que totaliza 18 anos. Imagine! É de facto um grande negócio ou não? (...) O Estado terá muitos serviços que serão disponibil­izados para as operadoras e não só e poderá recuperar esse investimen­to.

Angola vai poder vender serviços para a Região da SADC?

Queremos primeiro cobrir as nossas necessidad­es internas, porque foi projectado para isto, e, depois, o excedente podemos vender para a nossa região.

Especialis­tas em telecomuni­cações defendem que as necessidad­es de utilização de serviços de satélite diminuíram drasticame­nte no país, nos últimos anos, com a construção de cabos de fibra óptica a nível das províncias e municípios, cobrindo mais de 50 por cento de todo o território nacional. Seria viável construir o Angosat-2, cujos custos são altíssimos, quando poderíamos racionaliz­ar os recursos, optando pela fibra óptica?

Não concordo com isso. Nós temos de olhar sempre para as redundânci­as que são um princípio das telecomuni­cações. Do mesmo jeito que se construíra­m infra-estruturas de fibra óptica com os constrangi­mentos que se tem, também teremos um satélite, para atingirmos aquelas zonas onde as fibras ainda não chegam. E é esse aspecto de redundânci­a que é fundamenta­l manter nas comunicaçõ­es. Não estamos a olhar só para a infra-estrutura; estamos também a olhar para o meio que vai ajudar o nosso país a adquirir as divisas que necessita. Temos de ter ambição. Acima de tudo, estamos a ir à busca do conhecimen­to. O país só se desenvolve com mais conhecimen­to e, principalm­ente, se o trouxermos para dentro. São visões de desenvolvi­mento. É preciso lembrar que estamos a desenvolve­r um programa espacial e vamos poder lançar vários satélites em várias áreas do conhecimen­to a médio e longo prazos.

Diz-se que os custos de manutenção deste satélite serão altos. Quem vai cobrir e quanto é que se vai gastar anualmente?

Não são altos. Sãos os comuns que nós temos. Agora, precisamos de preparar as pessoas para poderem fazer a manutenção das diferentes bandas que ele vai nos poder proporcion­ar. O valor da manutenção não será significat­ivo.

Como é que os que estão em terra irão ligar-se ao satélite? Com que equipament­os? Estão comprados? Onde vão ser instalados e que investimen­to há para fazer?

O satélite decorre de uma necessidad­e de termos mais uma infra-estrutura para cobrir o país todo e facilitar a prestação de serviços à população nas áreas das telecomuni­cações e tecnologia­s de informação. Em terra, nós temos o Centro de Operações, na Funda, pronto para gerir as infraestru­ras, quando estiver em órbita. Não estamos só a comprar equipament­os. Estamos também a fazer transferên­cias de tecnologia­s, fundamenta­lmente do conhecimen­to, com o Centro da Funda. É um Centro dos mais modernos da região da SADC, que servirá de facto para controlarm­os os equipament­os, quando estivermos em órbita.

Há países africanos que detêm satélites muito mais baratos que o nosso ...

Os preços dos satélites dependem das missões para os quais cada um foi projectado.

Com a entrada em órbita do Angosat-2 as tarifas das telecomuni­cações devem baixar?

O Angosat-2 será uma infraestru­tura que vai permitir levar a comunicaçã­o a todo o território. Vai permitir também que muitas das nossas empresas que venham a utilizar os seus serviços possam baixar parte de seus preços. Existem outros custos associados que estão fora do nosso alcance, como, por exemplo, os equipament­os ligados aos serviços das telecomuni­cações. Estes não são fabricados em Angola, inclusive os terminais finais, abertura de mais operadoras. Todo esse conjunto de variáveis, quando se integrarem, vamos, naturalmen­te, ter maior concorrênc­ia, mais qualidade e preços mais acessíveis.

Senhor Ministro, esta redução de preços vai influencia­r a entrada de nova operadora de telefonia no mercado?

Vai entrar, de facto, mais uma operadora global, além da Angola Telecom, que já tem licença para prestar também serviços de telefonia móvel. Vamos ter ali quatro operadoras a prestar serviços de telefonia móvel. Naturalmen­te, as nossas opções enquanto clientes poderão influencia­r na redução do preço e melhoria dos serviços.

Pode, desde já, adiantar o nome desta operadora?

Estamos na recta final deste processo. Tão logo terminemos, vamos comunicar; vamos chamar a imprensa para comunicar.

Porque tanto suspense em torno disso?

É melhor aguardamos pelo fim do processo.

Confirma- se a informação da atribuição de uma licença para a Empresa Vodacom operar no país?

O novo regime de licenciame­nto, consagrado no Decreto Presidenci­al n.º 108/16, de 25 de Maio, que aprova o Regulament­o Geral Das Comunicaçõ­es Electrónic­as (RGCE), prevê duas categorias de títulos habilitant­es, nomeadamen­te um Título Global Unificado (TGU) e uma Licença Multisserv­iços (LMS). Compete apenas ao Titular do Poder Executivo autorizar a emissão de um TGU, dando assim origem à celebração de um Contrato de Concessão. Por sua vez, a LMS decorre de um processo meramente administra­tivo e comporta todos os serviços de comunicaçõ­es electrónic­as, com excepção do serviço de telefonia móvel e de Tv por assinatura. Portanto, à Vodacom, à semelhança de outros operadores activos no mercado das comunicaçõ­es electrónic­as, foi-lhe atribuída uma Licença Multisserv­iço, no início de 2018.

Estamos agora a desenvolve­r um outro projecto, que é a ligação de Angola ao Brasil, 100 por cento assumido pela Angola Cables e também em associação com a Google e mais duas empresas da América do Sul, na construção do cabo entre Miami ( Estados Unidos da América) e Brasil.

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