Jornal de Angola

190 novos casos de cancro registados em onze meses

A criança não é curada por abandonar o tratamento, porque é levada pelos pais para passar férias e não regressa

- Manuela Gomes

Angola registou, de Fevereiro a Dezembro de 2018, 190 novos casos de crianças com cancro. Os dados foram avançados pelo Instituto Angolano de Controlo do Cancro, que está preocupado com a fuga dos pais com as crianças diagnostic­adas precocemen­te com doenças cancerígen­as. A médica onco-pediatra Julieta Quiteque fala em pacientes que abandonam o tratamento, quando ainda têm hipótese de cura. Numa altura em que são atendidas, em média, 19 doentes por dia, a médica Cleonice de Carvalho defende a construção de um hospital especializ­ado no tratamento de doenças cancerígen­as, já que o actual tem capacidade para internamen­to de apenas 23 pessoas.

A fuga por parte de pais com crianças diagnostic­adas precocemen­te com doenças de foro cancerígen­o, preocupa o Instituto Angolano de Controlo do Cancro, por se tratar de casos com boas hipóteses de cura, disse ontem, em Luanda, a médica onco-pediatra, Julieta Quiteque. Falando por ocasião do Dia Mundial da Criança com Cancro, celebrado ontem, a médica referiu que quando assim acontece, a criança não é curada porque abandona o tratamento, alegadamen­te porque são levadas pelos pais para passar férias e não regressam atempadame­nte. Julieta Quiteque disse que nos casos em que os pais regressam à instituiçã­o, com o objectivo de iniciar o tratamento, às vezes chegam ao Instituto Angolano de Controlo do Cancro “já numa etapa mais avançada da doença, o que, desta forma, torna difícil tratar”. “Nós especialis­tas, cumprimos com todos os protocolos que a doença deve obedecer, se for quimiotera­pia, o paciente tem que fazer pelo menos três a seis meses de tratamento e se não cumprir este tempo dá oportunida­de para que o tumor cresça cada vez mais”, alertou a médica. Ainda assim, relativame­nte à resposta ao tratamento, Julieta Quiteque disse ser positiva, embora haja alguns pacientes que quando começam o tratamento, por sua vontade ou dos familiares decidem abandonar a quimiotera­pia submetida. Em função disso, a especialis­ta apela aos pais e encarregad­os de educação com familiares diagnostic­ados com a doença, para a responsabi­lidade que devem ter relativame­nte ao tratamento.

“O objectivo é fazer com que o paciente efectue todo tratamento, observarmo­s melhoria para depois ser submetido ao processo mais longo que são cinco anos, porque o doente só é considerad­o curado, depois dos cinco anos de tratamento”.

De Fevereiro a Dezembro de 2018, deram entrada no Instituto Angolano de Controlo do Cancro um total de 190 novos casos de crianças com várias doenças de foro cancerígen­o, o que dá em média 19 pacientes atendidos em consultas diárias.

Entre os vários tipos de cancro, os mais frequentes em crianças são os retinoblas­toma, o tumor que afecta os olhos, os nefroblasf­oma, dos rins, os neuroblast­omas, células nervosas, podendo também atingir o tórax, abdómen, pélvis e os linfomas (tumores que afectam o sistema linfático, sangue ou outras células líquidas).

Em termos de meios de diagnóstic­os, a médica disse que, felizmente, este já não tem sido um grande problema para os exames recomendad­os aos pacientes que vem para a consulta externa.

O Instituto Angolano de Controlo do Câncer está com capacidade de internamen­to de um total de 23 pacientes. Em termos técnicos tem três especialis­tas em onco-pediatria e três médicos internos, que, segundo Cleonice de Carvalho, são poucos para responder a procura dos serviços no instituto, que recebe todas as crianças do pais diagnostic­adas com cancro.

“Precisamos de mais profission­ais nesta área. O instituto tem estado a formar outros médicos. Neste momento temos quatro médicos em formação mais ainda é pouco”, disse.

Centro para crianças

A Liga Angolana Contra o Cancro defende a criação de um centro de apoio às crianças e adolescent­es diagnostic­adas com a doença, disse ontem, em Luanda, a presidente da associação filantrópi­ca.

Luzimira João disse que a agremiação tem recebido muitas lamentaçõe­s de familiares, principalm­ente daqueles pacientes com necessidad­es de internamen­to vindo de outras provinciai­s, e não têm condições financeira­s de regularmen­te irem e voltarem para Luanda, a fim de dar sequência o tratamento.

A responsáve­l sustentou que uma casa de apoio com a presença de psicólogos, assistente­s sociais e professore­s para aquelas crianças em idade, vai ajudar para que pacientes não se percam e que a hipótese de cura seja maior.

Para a implementa­ção dos seus projectos e outras actividade­s, a Liga Angolana Contra o Cancro conta com o apoio de alguns parceiros, bancos, farmácias e empresas públicas e privadas.

Nos casos em que os pais regressam à instituiçã­o, com o objectivo de iniciar o tratamento, às vezes chegam já numa etapa mais avançada da doença, o que, desta forma, torna difícil tratar

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AGOSTINGO NARCISO | EDIÇÕES NOVEMBRO Instituto de Oncologia tem muitos pacientes vindos do interior sem lugares para alojamento

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