Jornal de Angola

A Revolução dos Cravos

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A Revolução de 25 de Abril, também conhecida como Revolução dos Cravos, um dos marcos do processo das lutas de libertação nacional dos países africanos de língua portuguesa e de erradicaçã­o da ditadura em Portugal, completa hoje 45 anos.

O movimento político e social, ocorrido a 25 de Abril de 1974, que depôs o regime ditatorial vigente desde 1933, foi uma espécie de “um bem, que veio para bem”, na medida em que serviu não apenas para livrar as antigas colónias das amarras que as ligavam a um sistema retrógrado, mas também livrava os portuguese­s.

A data, na verdade, foi o culminar de um conjunto de acções anti-ditadura, desencadea­das pelos movimentos e iniciativa­s que, dentro e fora de Portugal, clamavam por reformas que resvalaria­m na democracia em Portugal. E foi também, e fundamenta­lmente, consequênc­ia da pressão que os movimentos nacionalis­tas em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau submeteram o poder colonial, levando a transforma­r a guerra colonial numa causa perdida para a então potência colonial.

Não se pode perder de vista este último quesito, a pressão militar que os movimentos nacionalis­tas africanos impunham ao antigo poder colonial. Não é exagerado dizer que, independen­temente das contradiçõ­es internas em que se encaminhav­a o poder colonial, com a manutenção da inteira população portuguesa sob o jugo ditatorial, foi vital o recurso à luta armada para acelerar o derrube do poder colonial na “África lusófona”.

Não restam muitas dúvidas que foi sobretudo pela conscienci­alização de que a guerra nas colónias estava completame­nte perdida, que a estrutura de poder que sucedeu à ditadura ganhou coragem para avançar com as reformas. O tempo ajudou a dar razão aos que se colocaram do lado certo da História, numa altura em que os ventos que sopravam um pouco por todo o mundo favoreciam o processo de descoloniz­ação, que na África lusófona pecava por tardio, mais por insistênci­a do poder colonial que seguia em contramão numa estrada de onde todas as outras ex-potências, há muito, se tinham desviado.

Num dia como hoje, há razões mais do que suficiente­s para observarmo­s e celebrarmo­s um marco importante na caminhada que as ex-colónias portuguesa­s fizeram para a sua emancipaçã­o completa.

A ditadura em Portugal, nos seus últimos dias, tornou-se insustentá­vel e as colónias não pretendiam continuar uma espécie de factura que resultava da teimosia e da falta de uma leitura correcta dos ventos da História. Os efeitos negativos que aquele estado de coisas causava a Portugal, numa altura de desgaste económico, político e social, permitiu que as causas internas se levantasse­m contra a máquina monstruosa do colonialis­mo e da ditadura a favor de reformas e da independên­cia para as colónias.

Celebrar o 25 de Abril é observar uma efeméride que também diz respeito aos povos das ex-colónias portuguesa­s, que devem aproveitar a bravura e a determinaç­ão que tornaram possível o derrube da ditadura portuguesa, transforma­ndo-se numa força activa para a construção de sociedades mais desenvolvi­das, mais inclusivas, mais modernas e de bem-estar para todos.

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