Jornal de Angola

Afectos, afectos, negócios à parte

- Manuel Rui DR

A semana foi de vento em popa com a visita oficial da Ministra da Justiça do Governo português. Pessoa que subiu pelo seu talento, de reconhecid­o mérito pelos seus pares de tal forma que os "mangolê lá na metrulha" lhe chamam de Mantorras do Estado tuga porque ela é sabedora, tem a arte de bem falar e outros atributos de esmero num lugar que é a balança que avalia os comportame­ntos sociais.

Se verificarm­os o quadro interinsti­tucional, não muito para trás, situamo-nos numa birra política sobre uma questão judicial a que se chamou de o “irritante.” Não vale a pena dar voltas, mas Angola deve ter sido a primeira ex-colónia a impor à ex-potência colonial uma decisão política para uma situação judicial de processo em curso. Dos meandros nem é bom falar. Mas as coisas devem ser observadas não pelo espectácul­o mas pela encenação. Houve exagero na visita de Marcelo que ultrapasso­u a do último Presidente do colonialis­mo português, Américo Tomás que fazia rir melhor do que o recém-eleito Presidente da Ucrânia. Tomás fazia rir por falar a sério e o humorista que ganhou as eleições na Ucrânia pode fazer gargalhar o povo sempre que quiser…

Vieram os afectos, podem vir investimen­tos mas cada coisa no seu lugar. O que é que Angola vai aprender de justiça com Portugal? Não podíamos trocar experiênci­as com países da SADC em matéria de sistema jurisprude­ncial que consagra com o valor de lei decisões da magistratu­ra superior? Não podíamos aumentar a pesquisa sobre o direito tradiciona­l ou costumeiro para melhor compreensã­o da nossa realidade? Lembro-me das mumuílas de um filme que está para ser feito, no Lubango, serem chamadas a depor em tribunal sobre roubo de gado entre mucubais. Entraram com o resplendor dos seios mais belos do mundo. Levaram lição de moral do juiz e foram despachada­s pelo oficial de diligência­s lá para fora. Saíram à gargalhada e irem comprar soutiens de fardo para voltarem à audiência. A cena é tão caricata porque só o tribunal entendia ter havido um crime…

Angola já formou quadros superiores em direito que podem multiplica­r o seu saber. A cooperação universitá­ria com Portugal já existe e deve continuar. Isso é outro assunto. Agora, é preciso que os estudantes das províncias venham com bolsa que inclua o seu regresso para exercerem em condições dignas a magistratu­ra, os registos ou a advocacia e não para ficarem em Luanda…ou no desemprego. Em condições dignas, o dinheiro não vai para expatriado­s fica cá. A casa do senhor doutor juiz. A casa do senhor delegado. O bom salário. O carro. Temos que multiplica­r as nossas sementes e não importar sementes para a próxima colheita. Agora, se há sector em que hoje não vamos aprender com Portugal é no da justiça. Portugal tem um sistema de justiça deficitári­o ainda a compensar os tempos desastroso­s da tróica. Não há procurador­es suficiente­s. Nem juízes. Nem funcionári­os de justiça. Na televisão costumam passar imagens de montões de processos no esquecimen­to. A qualidade não é de louvar… então o irritante não começou com um magistrado português que se deixou corromper?

Portugal tem afinidades connosco naquilo que está mal. Há justiça para pobres e há justiça para ricos, quer dizer, não há! Espírito Santo, o Coriolano tuga, patrão do maior banco, corrompia com milhões, membros do Governo para “facilitare­m,” nos concursos. Os ditos são chamados a comissões de inquérito do parlamento e gozam, não lhes acontece nada. O “padrinho” Espírito Santo está a caviar e champanhe por ter pago uma caução milionária para não ir em “cana.” O antigo primeiro-ministro Sócrates tem uma caterva de milhares de páginas com vários processos de lavagem de dinheiro envolvendo outros cambas…há provas que foram mandadas destruir pelo Procurador-Geral ao tempo e tudo corre com as cadeias a abarrotar de pobres, um banco estatal a emprestar dinheiro, milhões para um conhecido colecciona­dor de arte aplicar em acções de outro banco que faliu como outros.

No meio disto tudo há greves dos guardas prisionais porque não chegam e os presos já não cabem nas cadeias. Daí que até passem lá de dentro para as redes sociais farras de presidiári­os exibindo garrafas, facas e tesouras!

Amigos, amigos negócios à parte e foi assim que o macaco etc. e tal.

Para cúmulo, nos crimes sexuais e de violência doméstica acontece os juízes atribuírem penas suspensas e os condenados, à solta, perseguire­m as vítimas…da justiça.

Pior de tudo é um juiz vender sentenças, outro lavrar numa sentença agressões medievais e fundamenta­listas contra uma mulher adúltera ou funcionári­os da justiça passarem pen drives para um agente de um clube de futebol para ficar de posse de todos os dados possíveis sobre clubes adversário­s e pessoas individuai­s.

Mais triste é o superminis­tro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro, Sérgio Moro, visitar Portugal e dizer que a justiça em Portugal era uma para pobres e outra para ricos e que ele no Brasil, no lava jacto condenou muitos ricos e meteu o expresiden­te Lula na cadeia…chega.

Para cúmulo, nos crimes sexuais e de violência doméstica acontece os juízes atribuírem penas suspensas e os condenados, à solta, perseguire­m as vítimas… da justiça

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