Grito indígena chega à Brasília
Grito dos povos indígenas chega à Brasília e à sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque
Milhares de indígenas provenientes de várias comunidades indígenas do Brasil iniciaram ontem, em Brasília, a capital do país, uma mega manifestação contra o que consideram política “trágica” do Presidente Jair Bolsonaro, que ameaça a sua existência.
As manifestações, que terminam amanhã, são apoiadas por ambientalistas norte-americanos e têm por objectivo denunciar as políticas do actual Presidente brasileiro, que consideram estar a colocar em causa a existência dos povos mais antigos do Brasil.
Terça-feira, cerca de cinquenta representantes da comunidade indígena entregaram, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, Estados Unidos, uma denúncia, com 12 mil assinaturas, a pedir maior protecção para os seus membros e o meio habitat, ameaçado pelos projectos devastadores do actual Executivo brasileiro.
“É urgente que o mundo ouça a voz, o grito dos povos indígenas. Somos ameaçados pelo agronegócio, hidroelectricidade, desmatamento e indústria mineira”, disse a coordenadora nacional da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sónia Guajajara, num fórum indígena da ONU.
Para Sónia Guajajara, o Governo de Bolsonaro, que defende a exploração da floresta e dos recursos nacionais, “representa uma tragédia para o povo brasileiro.”
“Mas nós já resistimos há cinco séculos, por que não resistir a quatro anos de fascismo?”, questionou.
“Atacar os nativos da Amazónia é atacar os pulmões da Terra, o coração do nosso Planeta”, sustentou também a directora executiva da organização não-governamental “Amazon Watch”, Leila Salazar López.
Em entrevista à agência de notícias France-Press, a relatora especial da ONU para os Direitos dos Povos Indígenas, Vicky Tauli-Corpuz, disse estar “muito preocupada” com os nativos que vivem no Brasil.
No centro-oeste do país, as pessoas são deslocadas por causa das plantações de soja, lembrou Vicky Tauli-Corpuz.
“Eles sempre foram objecto de violência pelos serviços de segurança das plantações, mas são cada vez mais alvo das autoridades estatais”, lamentou.
Dados oficiais indicam que, dos 209 milhões de habitantes, há cerca de 800 mil indígenas de 305 etnias no Brasil, que beneficiam da protecção do Estado em apenas 13 por cento do vasto território brasileiro.
Desde que chegou ao poder no início de Janeiro, Jair Bolsonaro diminuiu o financiamento de organizações de protecção indígena.
“O ano de 2019 começou num contexto gravíssimo. Logo no primeiro dia após o acto de posse, o Presidente Jair Bolsonaro editou a Medida Provisória 870, que desmonta a Funai, órgão responsável pela política indigenista do Estado brasileiro, transferindo o mesmo do Ministério da Justiça para o recémcriado Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, comandado pela ministra Damares Alves”, denunciou a APIB na sua página na Internet.
A APIB acrescentou que “essa mesma medida retirou as atribuições de demarcação de terras indígenas e licenciamento ambiental nas terras indígenas da Funai e entregou-as à Secretaria de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, sob o comando da bancada ruralista.”