25 de Abril: um marco na história de Portugal e das ex-colónias
Embora continue a dividir a sociedade portuguesa, o 25 de Abril de 1974 é tido, na generalidade, como um marco na História de Portugal e das ex-colónias
Relatos de sobreviventes daquela época e estudos sobre a imprensa da altura dão conta da enorme confusão que se formou em Angola, nos dias imediatamente a seguir ao 25 de Abril de 1974, da mesma forma que a Revolução dos Cravos e acontecimentos que se lhe seguiram em Lisboa foram recebidos de modo distinto por pessoas de diferentes faixas etárias, grupos sociais e profissionais, assim como nas regiões do país, conforme se localizavam em relação aos centros urbanos ou tinham acesso aos meios de comunicação social estrangeiros, mormente as rádios.
Num artigo publicado em 2010, o Jornal de Angola referia que, no território da então Província Ultramarina, expressão por que passaram a ser designadas as colónias portuguesas depois da reforma constitucional de 1951 em Portugal, “a madrugada do dia 25 de Abril foi igual a tantas outras”, pois “os órgãos de informação(...), na sua esmagadora maioria controlados pelas autoridades coloniais ou propriedade de ricos colonos, silenciaram tudo o que se passava em Lisboa, enquanto lhes foi possível”. Em 2017, o jornal português “Expresso” mencionava que “Três dias depois da Revolução dos Cravos, que acabou com a guerra colonial, o matutino “Província de Angola” ainda tinha escrito na 1ª página “Visado pela Censura”. Ou seja, a 28 de Abril, ainda era assim que as coisas funcionavam em Angola.
Aquele periódico notava então que, no dia 25 de Abril, uma quinta-feira, o “Diário de Luanda” publicava no topo da primeira página uma nota informativa do governador-geral da Província Ultramarina, Santos e Castro, onde se lia que “notícias naturalmente confusas, chegadas de Lisboa, dão conta de ter eclodido um movimento cujas características não se conhecem ainda”.
Mas, tal não invalida que o 25 de Abril seja, “antes de mais, um acontecimento histórico de extraordinária importância internacional e também para Angola, pelas repercussões, pela relevância e âmbito, mas também pelo que significou na mudança do regime, com o resgate da liberdade para o povo português e para os povos das colónias”, como afirmou, em entrevista ao JA, em 2013, Manuel Pedro Pacavaira (MPP).
“O25deAbrilde1974mudou o curso da história dos povos que estavam ainda na condição de colonizados. Foi uma interacção de factos e acontecimentospolíticosqueenvolveram Portugal, como potência colonizadora, e os movimentos de libertaçãodascolóniassobdenominação portuguesa”, disse o já finado nacionalista.
Algumas correntes políticas de agora teimam em menosprezar a importância da guerra colonial para o eclodir dos acontecimentos em Portugal, mas, e ainda recordando as palavras de MPP, “os movimentos de libertação das colónias, em particular aqueles que se encontravam de armas na mão, na Guiné-Bissau, Moçambique e em Angola, envolvidos numa intensa guerra de guerrilha, de vida ou morte, do tudo ou nada, influíram muito positivamente para que os jovens oficiais militares portugueses fizessem o 25 de Abril”. Estes “Já estavam cansados e perceberam que a guerra não tinha objectivo nenhum”. Ao se rebelarem contra o poder colonial, eles criaram premissas para um novo contexto na luta dos povos pela liberdade.
O Movimento das Forças Armadas (MFA), que liderou a Revolução dos Cravos em Portugal, era composto na maioria por capitães que tinham participado na guerra colonial e tiveram o apoio de oficiais milicianos. O MFA surgiu em 1973, com base nas reivindicações corporativas, como a luta pelo prestígio das Forças Armadas, mas o resultado foi um amplo movimento político e social que depôs o regime ditatorial do Estado Novo, vigente desde 1933, e iniciou um processo que viria a terminar com a implantação em Portugal de um regime democrático.
É de notar que a ditadura que se vivia em Portugal surgira na sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926, que culminou na eleição do general Óscar Carmoca, em 1928, o qual em 1933 fez aprovar uma nova constituição, instituindo o Estado Novo, de inspiração fascista.
Foi nessa base que António de Oliveira Salazar passou a controlar o país até 1968, ano em que o poder lhe foi retirado, na sequência de uma queda da cadeira, da qual sofreu lesões graves, sendo substituído por Marcelo Caetano, que ficou à frente dos destinos de Portugal até ao 25 de Abril de 1974.