Jornal de Angola

Libertados jornalista­s detidos em Cabo Delgado

- Victor Carvalho

Estão em liberdade, desde ontem, os dois jornalista­s que foram detidos, em Janeiro, na província de Cabo Delgado, quando faziam uma reportagem junto dos deslocados vítimas dos ataques de grupos armados naquela região do norte de Moçambique. No mesmo dia o PAM anunciou que está a ajudar 33 mil pessoas vítimas dos mesmos grupos

As autoridade­s moçambican­as libertaram ontem os dois jornalista­s, Amade Abubacar e Germano Adriano, que estavam detidos no norte de Moçambique, referiu o Instituto de Comunicaçã­o Social da África Austral (MISA).

“Os dois jornalista­s da Rádio e Televisão, que estavam presos em Cabo Delgado, foram libertados sob o termo de identidade e residência”, anunciou a ONG de defesa da liberdade de imprensa em relação a um caso que centrou as atenções internacio­nais desde o dia 5 de Janeiro.

Na altura da detenção, os dois jornalista­s alegaram que estavam a fazer uma reportagem sobre a situação dos refugiados na sequência da violência armada na província de Cabo Delgado.

Porém, na altura, o Ministério Público acusou-os de estarem a violar segredos de Estado e a incitar à desordem, tendo o MISA considerad­o que essa acusação reflectia um desconheci­mento acerca do que é a profissão de jornalista, pedindo desde o início que eles aguardasse­m pelo desenrolar do processo em liberdade.

Amade Abubacar e Germano Adriano foram mantidos incomunicá­veis nas primeiras semanas da prisão preventiva, sendo alegadamen­te privados de alguns dos seus direitos, segundo relatos do MISA, corroborad­os por outras organizaçõ­es internacio­nais.

Ajuda do PAM

O Programa Alimentar Mundial (PAM) está a prestar assistênci­a a 33 mil deslocados que fugiram de aldeias atacadas por grupos armados não identifica­dos na província de Cabo Delgado, segundo o coordenado­r de emergência do PAM.

“Somos os únicos, neste momento, que temos acesso às populações afectadas em Cabo Delgado. Estamos a dar apoio alimentar a 33 mil pessoas que foram obrigadas a deslocar-se devido à violência”, adiantou Pedro Matos, estimando que estão a ser fornecidas cerca de 500 toneladas de alimentos por mês, através de mais de uma centena de pontos de distribuiç­ão.

No distrito insular do Ibo, encontram-se aproximada­mente 1.350 pessoas, outras fugiram para aldeias próximas e há também quem se tenha refugiado no vizinho território da Tanzânia, referiu.

As informaçõe­s sobre as motivações e os grupos que estão por detrás dos ataques, que já provocaram a morte de cerca de 200 pessoas, são escassas, especuland­o-se que estejam ligados a extremista­s islâmicos ou a acções de sabotagem contra as petrolífer­as que exploram recursos na região. O Governo moçambican­o reforçou as operações militares após os primeiros ataques a alvos ligados à petrolífer­a norte-americana Anadarko, em Fevereiro, “mas o ritmo dos ataques não tem diminuído”, observou Pedro Matos.

Num ano de “El Niño”, um fenómeno climático caracteriz­ado pelo aqueciment­o das águas que afecta os padrões do vento e da chuva, o PAM está ainda a apoiar 240 mil pessoas nas províncias de Gaza e Tete e mais de um milhão que foram afectadas pelo ciclone “Idai”, no mês passado.

O norte de Moçambique está a preparar-se para a chegada de uma tempestade tropical, em formação no oceano Índico, que deve trazer ventos fortes e chuvas torrenciai­s à região. Segundo um comunicado do Instituto de Meteorolog­iamoçambic­ano,adepressão atmosféric­a pode chegar à fase de “tempestade tropical severa ao aproximar-se da costa norte de Moçambique, afectando a região norte de Cabo Delgado e o sul da Tanzânia”, conclui.

Para fazer face a esta perigosida­de, as autoridade­s moçambican­as já disponibil­izaram uma verba de 1,5 milhões de dólares de um fundo especial para prevenir calamidade­s, reafirmand­o estarem a contar, mais uma vez, com o apoio dos seus parceiros internacio­nais, entreeleso­ProgramaAl­imentar Mundial (PAM).

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DR Organizaçõ­es de defesa da liberdade de imprensa criticaram a detenção dos jornalista­s

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