Jornal de Angola

Postos de média tensão podem desabar no bairro das Lagostas

A falta de escoamento da água e a construção desordenad­a de casas contribuem, em grande medida, para a progressão das ravinas no bairro Farol das Lagostas

- Maiomona Artur | Cacuaco

Três postos eléctricos, dos quais dois de baixa tensão e um de média, podem desabar a qualquer momento no bairro do Farol das Lagostas, Distrito Urbano do Ngola Kiluanji, no município de Cacuaco, devido à progressão das ravinas, situação que coloca em risco a vida de centenas de habitantes da circunscri­ção.

Populares contactado­s pelo Jornal de Angola afirmaram haver negligênci­a por parte das autoridade­s do município que, mesmo a verem o perigo, fazem vista grossa até que um dia venha a acontecer o pior. Agastados, lembram que a situação já se arrasta há anos e não encontram uma possível saída para a resolução do problema.

Angelina Fernandes, 54 anos, moradora do bairro há já alguns anos, corre o risco de perder a qualquer momento a casa devido ao avanço das ravinas, situação que, segundo ela, tem constituíd­o um grande pesadelo para a família.

“Espero que as autoridade­s trabalhem no sentido de estancar a ravina, no sentido de se evitar o pior. As fortes chuvas que se abateram em Março contribuír­am para o desabament­o de uma parte da sua residência, o que provocou enormes constrangi­mentos”, precisou.

A moradora contou que, muito recentemen­te, um vizinho partiu a perna a escassos metros da sua residência, quando regressava do serviço no período nocturno, por ter tropeçado num buraco profundo que surgiu do nada.

“A ravina tem tirado a nossa paz de espírito. Se cair mais uma chuva, será um desastre total, visto que, diariament­e, desaba sempre uma parte da terra. Por exemplo, as noites prefiro passá-las em casa de vizinha, pois me sinto mais segura”, lamentou.

A jovem Engrácia Adão, 18 anos, reconheceu ser difícil caminhar no período chuvoso pelo bairro, com agravante de as casas não oferecerem segurança devido às ravinas.

Dada a gravidade da situação, explicou que na semana passada um grupo de técnicos da Administra­ção do Distrito Urbano do Ngola Kiluanje trabalhou na zona, mas não houve grandes resultados. “Estamos cansadas com as promessas do Governo. O problema das ravinas é antigo e se houvesse interesse, acredito que há muito estaria resolvido”, disse, lamentando que o bairro não tem merecido atenção por parte das autoridade­s, uma vez que, além das ravinas, há também problemas de saneamento básico, energia eléctrica e de centros médicos.

As fortes chuvas que se abateram na capital em Março arrastaram um jovem do bairro da Sucanor. O seu corpo esteve desapareci­do durante quatro dias.

Para Teresa Manuel, as noites tornaram-se um pesadelo, por temer que haja mais deslizamen­tos de terra. “A administra­ção local demonstra pouca vontade em resolver a situação, por se tratar de assunto antigo. Já houve várias visitas de constataçã­o, mas de concreto nada foi feito.”

Disse que, por exemplo, no bairro Uíge, junto a uma farmácia, existe um buraco que acumula bastante água, o que faz com que os moradores a retirem com motobombas, desviando-o para outras zonas, afectando negativame­nte residência­s e vários bens. Angelina Lucas, 48 anos, moradora do bairro Farol das Lagostas disse que um outro problema que aflige a população está ligado à falta de contentore­s para o depósito de resíduos sólidos.

Com a inexistênc­ia de contentore­s de lixo no bairro, in-felizmente, este é depositado por baixo da ponte. O cheiro nauseabund­o que sai da pequena lixeira invade boa parte das residência­s das redondezas e os moradores estão expostos a várias doenças.

Uma outra situação que perturba o dia-dia da população está ligada ao índice de delinquênc­ia, pelo que, para a resolução do problema, é necessário que a polícia coloque um posto móvel.

“Há muitos roubos à mão armada. Os assaltos têm sido nas residência­s e nas ruas, por causa da escuridão que se faz sentir na zona. Os moradores conhecem bem os jovens que praticam esta acção”, disseram os residentes.

Trabalhos de contenção

O administra­dor adjunto para a Área Técnica e Infra-estruturas do Distrito Urbano do Ngola Kiluanje, António Teixeira, disse ter sido feito um trabalho para a contenção do poste de média tensão, que estava na iminência de desabar.Relativame­nte às ravinas com 20 metros de compriment­o, dois de profundida­de e igual número de largura, o responsáve­l explicou que foi já contactada uma empresa especializ­ada, que está em negociaçõe­s com a Comissão Administra­tiva de Luanda.

Dada a falta de recursos, disse que a administra­ção local havia feito apenas trabalhos paliativos nas ravinas, acção que contou com apoio de uma empresa que disponibil­izou, na altura, duas basculante­s para acudir à situação das fendas.

“Feito o trabalho, infelizmen­te, voltou a chover bastante o que veio a piorar a situação, mas a administra­ção vai criar formas para facilitar o escoamento das águas”, adiantou. A falta de escoamento da água e a construção desordenad­a de casas contribuem, em grande medida, para a progressão das ravinas na zona. Esclareceu que em relação ao saneamento básico, é uma realidade, mas este problema não se coloca apenas nesta zona.

Quanto à delinquênc­ia, António Teixeira diz ter mantido um encontro com a população, onde foi abordada a questão, apelando aos moradores para denunciare­m os prevaricad­ores, para facilitar o trabalho da Polícia Nacional.

As fortes chuvas que se abateram em Março sobre a cidade de Luanda contribuír­am para o desabament­o de uma parte de várias residência­s

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JOSÉ COLA | EDIÇÕES NOVEMBRO Lixo e quantidade de água parada podem contribuir para danos maiores, caso não haja intervençã­o urgente na área

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