Troca de sexo forçado por comida sob investigação
A Organização NãoGovernamental Human Rights Watch instou ontem as autoridades de Moçambique a investigarem, com urgência, os relatos sobre sexo forçado de vítimas do ciclone Idai por líderes locais, em troca de comida.
Num comunicado intitulado “Moçambique: vítimas do ciclone forçadas a trocar sexo por comida - Líderes comunitários exploram mulheres vulneráveis”, a HRW garantiu que vítimas, residentes e trabalhadores humanitários disseram que “líderes comunitários locais exigiram dinheiro das pessoas afectadas pelo ciclone em troca da inclusão dos nomes na lista de distribuição de ajuda”.
“Em alguns casos, mulheres sem dinheiro eram coagidas a fazer sexo com líderes locais em troca de uma bolsa de arroz”, pode ler-se na nota.
“A exploração sexual de mulheres que lutam para alimentar as famílias após o ciclone Idai é revoltante e cruel e deve ser interrompida imediatamente”, disse o director da HRW na África Austral, Dewa Mavhinga. “As autoridades devem investigar prontamente as denúncias de mulheres coagidas a trocar sexo por comida e punir apropriadamente qualquer pessoa que use a sua posição de poder para explorar e abusar de mulheres”, acrescentou Mavhinga, citado no comunicado.
O ciclone Idai, que atingiu o centro de Moçambique a 14 de Março, causou 603 vítimas mortais, tendo afectado mais de 1,5 milhões de pessoas.
Trabalhadores humanitários citados pela HRW denunciaram o facto de as listas de distribuição de alimentos excluírem famílias chefiadas por mulheres e a existência de relatos de abuso sexual de mulheres, não apenas nas suas aldeias, mas também em campos para deslocados.
A 18 de Abril, responsáveis daquela ONG falaram por telefone com três mulheres na cidade de Mbimbir, distrito de Nhamatanda, onde a ajuda humanitária não chegou até 5 de Abril porque as inundações tinham deixado a área inacessível por estrada. “As três disseram que as autoridades locais as coagiram a trocar sexo por ajuda alimentar”, denunciou a HRW.
A 22 de Abril, elementos da mesma ONG conversaram com duas jovens do distrito de Nhamatanda que alegaram que um líder local de Tica as coagiu a terem sexo para que os nomes fossem adicionados à lista de distribuição.
Relatos levam a ONG a defender que “o Governo moçambicano deve urgentemente adoptar medidas para prevenir a exploração sexual e abuso de vítimas do ciclone e criar um ambiente, no qual as mulheres possam denunciar os abusos”.
A HRW sustentou que “os parceiros internacionais, particularmente a ONU, devem garantir maior supervisão da conduta das autoridades locais durante a distribuição.