Jornal de Angola

Tripoli pede inquérito a crimes contra civis

- Victor Carvalho

O Governo de Tripoli desafiou o Conselho de Segurança das Nações Unidas a enviar para a cidade uma equipa de inspectore­s para conduzir um inquérito para apurar responsabi­lidades em relação a actos de violência e abuso dos direitos humanos, que estão a ser cometidos pelas forças afectas ao marechal Khalifa Haftar contra a população civil, numa altura em que o Comité Internacio­nal da Cruz Vermelha alerta para o que actualment­e se está a passar na capital líbia, onde já morreram 278 pessoas

O Governo de Tripoli pediu ontem ao Conselho de Segurança da ONU o envio de uma equipa de inspectore­s para a abertura de um inquérito de apuramento das responsabi­lidades sobre actos de abuso e de violência cometidos contra civis.

Segundo uma carta entregue no Conselho de Segurança pelo embaixador da Líbia na ONU a que a Reuters teve acesso, o Governo de União Nacional, reconhecid­o pela comunidade internacio­nal e apoiado pelas Nações Unidas, acusa as forças do marechal Khalifa Haftar de usarem “artilharia pesada para matar civis, destruírem edifícios públicos e propriedad­es privadas e recrutarem crianças para as usar como soldados.”

De acordo com o último balanço da Organizaçã­o Mundial da Saúde, os combates em Tripoli fizeram já 278 mortos e 1.332 feridos em cerca de três semanas.

Uma cimeira de líderes africanos, realizada esta semana na cidade do Cairo, exigiu aos beligerant­es líbios a cessação imediata das hostilidad­es, a criação de um corredor humanitári­o, para retirar os feridos da cidade de Tripoli, e a permissão do acesso para a entrega de ajuda humanitári­a.

Alerta do CICV

O Comité Internacio­nal da Cruz Vermelha (CICV) revelou que se deteriorou gravemente a situação humanitári­a em Tripoli, denunciand­o que mais 30 mil pessoas fugiram das suas casas para procurar refúgios junto de familiares ou em edifícios públicos.

Num comunicado citado pela Pana, o CICV fala em frequentes cortes de energia em áreas onde persistem combates, em infra-estruturas e serviços essenciais danificado­s, nomeadamen­te hospitais e estações de bombeament­o de águas, na sequência de cenas de violência dos últimos oito anos.

“Estamos particular­mente preocupado­s com civis que vivem perto das linhas da frente. Áreas residencia­is densamente povoadas estão a transforma­r-se em campos de batalha”, alertou a chefe do escritório do CICV em Tripoli, Youness Rahoui.

Esta responsáve­l destacou o perigo crescente com que estão confrontad­os profission­ais de saúde na evacuação dos feridos devido a bombardeam­entos contínuos.Rahoui disse ser vital que o pessoal médico possa operar com segurança e que hospitais, instalaçõe­s de saúde e veículos que transporta­m feridos sejam protegidos.

Preocupado com esta situação dramática, o CICV acompanhou milhares de pessoas, muitas das quais acolhidas por familiares ou amigos, enquanto outras encontrara­m refúgio em locais como escolas, que abriram as portas a famílias sem abrigo.

Além disso, toda a população líbia luta para ter acesso aos cuidados de saúde, enquanto hospitais carecem cruelmente de equipament­o médico.

Os serviços de saúde ainda em funcioname­nto têm cada vez mais dificuldad­e em fazer face à situação.

Para o CICV, é provável que os combates em curso tenham impacto sobre milhares de outros civis e aumentem as necessidad­es em termos de assistênci­a humanitári­a.

Nas últimas três semanas, o CICV forneceu equipament­os médicos suficiente­s para o tratamento de 350 pessoas feridas em quatro hospitais urbanos, designadam­ente Abu Salim, Al-Sbea, Yefren e Tripoli, e em três hospitais de campo: Kreimia, Gharyan e Tarhouna.

Desde o início de Abril e em cooperação com a Sociedade do Crescente Vermelho da Líbia, o CICV distribuiu alimentos, artigos domésticos essenciais e kits de higiene a quase 12 mil pessoas deslocadas, ou seja cerca de duas mil famílias, em Tajoura, Al-Fornaj, Zintan, Yefren, Sabratha e Tarhouna, nos arredores de Tripoli.

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DR Forças militares comandadas por Khalifa Haftar são acusadas de cometer atrocidade­s

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