Tripoli pede inquérito a crimes contra civis
O Governo de Tripoli desafiou o Conselho de Segurança das Nações Unidas a enviar para a cidade uma equipa de inspectores para conduzir um inquérito para apurar responsabilidades em relação a actos de violência e abuso dos direitos humanos, que estão a ser cometidos pelas forças afectas ao marechal Khalifa Haftar contra a população civil, numa altura em que o Comité Internacional da Cruz Vermelha alerta para o que actualmente se está a passar na capital líbia, onde já morreram 278 pessoas
O Governo de Tripoli pediu ontem ao Conselho de Segurança da ONU o envio de uma equipa de inspectores para a abertura de um inquérito de apuramento das responsabilidades sobre actos de abuso e de violência cometidos contra civis.
Segundo uma carta entregue no Conselho de Segurança pelo embaixador da Líbia na ONU a que a Reuters teve acesso, o Governo de União Nacional, reconhecido pela comunidade internacional e apoiado pelas Nações Unidas, acusa as forças do marechal Khalifa Haftar de usarem “artilharia pesada para matar civis, destruírem edifícios públicos e propriedades privadas e recrutarem crianças para as usar como soldados.”
De acordo com o último balanço da Organização Mundial da Saúde, os combates em Tripoli fizeram já 278 mortos e 1.332 feridos em cerca de três semanas.
Uma cimeira de líderes africanos, realizada esta semana na cidade do Cairo, exigiu aos beligerantes líbios a cessação imediata das hostilidades, a criação de um corredor humanitário, para retirar os feridos da cidade de Tripoli, e a permissão do acesso para a entrega de ajuda humanitária.
Alerta do CICV
O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) revelou que se deteriorou gravemente a situação humanitária em Tripoli, denunciando que mais 30 mil pessoas fugiram das suas casas para procurar refúgios junto de familiares ou em edifícios públicos.
Num comunicado citado pela Pana, o CICV fala em frequentes cortes de energia em áreas onde persistem combates, em infra-estruturas e serviços essenciais danificados, nomeadamente hospitais e estações de bombeamento de águas, na sequência de cenas de violência dos últimos oito anos.
“Estamos particularmente preocupados com civis que vivem perto das linhas da frente. Áreas residenciais densamente povoadas estão a transformar-se em campos de batalha”, alertou a chefe do escritório do CICV em Tripoli, Youness Rahoui.
Esta responsável destacou o perigo crescente com que estão confrontados profissionais de saúde na evacuação dos feridos devido a bombardeamentos contínuos.Rahoui disse ser vital que o pessoal médico possa operar com segurança e que hospitais, instalações de saúde e veículos que transportam feridos sejam protegidos.
Preocupado com esta situação dramática, o CICV acompanhou milhares de pessoas, muitas das quais acolhidas por familiares ou amigos, enquanto outras encontraram refúgio em locais como escolas, que abriram as portas a famílias sem abrigo.
Além disso, toda a população líbia luta para ter acesso aos cuidados de saúde, enquanto hospitais carecem cruelmente de equipamento médico.
Os serviços de saúde ainda em funcionamento têm cada vez mais dificuldade em fazer face à situação.
Para o CICV, é provável que os combates em curso tenham impacto sobre milhares de outros civis e aumentem as necessidades em termos de assistência humanitária.
Nas últimas três semanas, o CICV forneceu equipamentos médicos suficientes para o tratamento de 350 pessoas feridas em quatro hospitais urbanos, designadamente Abu Salim, Al-Sbea, Yefren e Tripoli, e em três hospitais de campo: Kreimia, Gharyan e Tarhouna.
Desde o início de Abril e em cooperação com a Sociedade do Crescente Vermelho da Líbia, o CICV distribuiu alimentos, artigos domésticos essenciais e kits de higiene a quase 12 mil pessoas deslocadas, ou seja cerca de duas mil famílias, em Tajoura, Al-Fornaj, Zintan, Yefren, Sabratha e Tarhouna, nos arredores de Tripoli.