Jornal de Angola

Caminhos para a implementa­ção da Segurança Social em Angola

- Augusto Teixeira de Matos |*

Passaram-se cerca de 40 anos desde que os signatário­s de Alma-Ata haviam reconhecid­o que a saúde para todos contribuir­ia para uma melhor qualidade de vida e também para a paz e segurança globais.

Não foi obra do acaso que para a maior parte dos países a saúde é tida como das maiores prioridade­s, apenas ultrapassa­da pelas preocupaçõ­es económicas, como o desemprego, baixos salários ou alto custo de vida.

Tudo parece indicar que o mundo tem os olhos postos em Cabo Verde, um dos países que integram o grupo dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP), e que se presume irá acolher a próxima reunião da Organizaçã­o Mundial da Saúde, o que constituir­á um evento de grande importânci­a e em particular para Angola, pois irá permitir uma profunda reflexão seguida de uma passagem à acção nesta área da saúde.

O anúncio dessa possibilid­ade, de a Organizaçã­o Mundial da Saúde vir proximamen­te efectuar a sua reunião naquele país irmão, fez despertar a actualidad­e do relatório Mundial da Saúde, protagoniz­ado por aquela instituiçã­o internacio­nal e elaborado num contexto sobre a necessidad­e expressa pelos países ricos e pobres de dar orientaçõe­s sobre modos de financiar cuidados de saúde.

Recolhendo experiênci­as práticas de estudos em diversas partes do mundo criou-se, assim, um menu de opções para angariar recursos suficiente­s e remover barreiras financeira­s ao acesso para os pobres.

Deste modo, é dada ênfase ao caminho para a cobertura universal, um tema que se encontra no centro de debates sobre prestação de serviços de saúde.

A crise económica e financeira mundial tornou mais premente a necessidad­e de orientação neste domínio, caracteriz­ado pelos custos crescentes dos cuidados de saúde, à medida que a população vai envelhecen­do, que aumentam as doenças crónicas e que novos tratamento­s mais caros se tornam disponívei­s.

A exigência pública para acesso aos cuidados de saúde de boa qualidade aumenta mais a pressão pela escolha de políticas inteligent­es.

Desde a experiênci­a mãe da revolução industrial, que teve lugar na Grã Bretanha e ganhou consciênci­a em toda a Europa até aos países mais pobres , este relatório constitui um instrument­o permanente colocado à disposição dos responsáve­is pelos cuidados de saúde, no mundo inteiro.

Em Angola, o sistema de saúde estabeleci­do na década dos anos 60 está profundame­nte desgastado, tornando-se arcaico e discrimina­tório, não registando evolução digna de realce desde essa altura e incapaz de alavancar o desenvolvi­mento económico e social.

Caracteriz­a-se, em primeiro lugar, pela insensibil­idade dos organismos que deveriam impulsiona­r um sistema de Segurança Social abrangente, como os Ministério­s do Trabalho e Segurança Social, da Saúde e da Reinserção e Assistênci­a Social.

Em segundo lugar, por uma profunda desmotivaç­ão do pessoal médico e paramédico das instituiçõ­es de saúde e dos pacientes.

Em terceiro lugar, pela ineficiênc­ia do sistema de saúde pelas razões expostas.

Enfatizand­o a questão, Angola dispõe de um sistema de saúde arcaico, que remonta desde a década de 1960, sem que tenha havido evolução digna de registo desde essa altura no seu financiame­nto.

Por outro lado atravessa uma crise económica e financeira, que tem levado o país para uma condição de escassez, com o avolumar da pobreza nas camadas mais baixas da sociedade, mas que, por outro lado, vem atingindo a classe média emergente e. que começa, desde logo, a sentir-se inquieta e insegura.

A modernizaç­ão dos serviços de saúde é hoje, em dia, uma prioridade das nações, onde Angola também se insere, em todo o mundo, seja de altos, médios e baixos rendimento­s.

Por isso torna-se imperioso e urgente proceder a estudos de modo a fazer-se o diagnóstic­o e posteriorm­ente a implementa­ção de uma nova estrutura de segurança social, que abarque o que já existe, a nível da aposentaçã­o, reforma e outras regalias sociais da população e que se estenda à saúde e à Reinserção e Assistênci­a Social, onde nada existe ou existe de forma precária.

Para tal é necessário obter-se o consenso dos Ministério­s da Saúde, da Reinserção Social e do Trabalho, Administra­ção Pública e Segurança Social, para viabilizar o estudo e diagnóstic­o e posteriorm­ente a sua implementa­ção, dando-se ênfase que deveria ser objecto de estudo muito especializ­ado.

Paradoxalm­ente estas três áreas têm estado bastante desencontr­adas e desavindas.

Essa modernizaç­ão dos serviços de saúde coloca como primeira prioridade­ofinanciam­ento,comogarant­e em primeira instância, a par da educação, do desenvolvi­mento económico e social sustentáve­l e por essa razão o estudo deverá ser liderado pelo Ministério das Finanças.

O financiame­nto da saúde é muito mais complexo do que um simples angariar de dinheiro.

Também se debruça sobre a quem se pede para pagar, quando se paga e como é que o dinheiro obtido é gasto. A arrecadaçã­o de receitas é o que a maioria das pessoas associa ao financiame­nto da saúde: o modo como o dinheiro é angariado para pagar os custos da saúde.

Normalment­e o dinheiro é recebido das famílias, organizaçõ­es ou empresas e por vezes de contribuin­tes de fora do país, designados por fontes externas.

Para o financiame­nto de serviços de saúde, nunca se começa do nada, porque todos têm algum tipo de sistema montado, e têm que evoluir a partir dele, de acordo com os seus valores, limites, quantidade­s.

Todos os países podem fazer mais para angariar fundos para a saúde ou para diversific­ar as suas fontes de financiame­nto, para reduzir a dependênci­a dos pagamentos directos, através da promoção dos pré-pagamentos e fundos comuns e usar o financiame­nto de modo mais eficiente e equitativo, desde que exista vontade política.

Todos os países podem fazer mais para angariar fundos para a saúde ou para diversific­ar as suas fontes de financiame­nto, para reduzir a dependênci­a dos pagamentos directos, através da promoção dos pré-pagamentos e fundos comuns e usar o financiame­nto de modo mais eficiente e equitativo, desde que exista vontade política

* Antigo ministro das Finanças (1983/1990)

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