“Comandante Imperial” sofre onda de assaltos
Adirectora da escola primária, Filomena Ramos, caracteriza como difícil o quadro actual e considera triste, vergonhosa e humilhante a situação no estabelecimento de ensino.Além da onda de assaltos, há outros problemas graves
A escola, que leva o nome de um nacionalista que se bateu em defesa da pátria e que viveu boa parte da sua vida no Rangel, merecia uma especial atenção
Assaltos à mão armada, violações sexuais à luz do dia, pilhagem das infra-estruturas e do mobiliário de escritório são algumas das marcas deixadas por marginais na Escola Primária Comandante Imperial Santana nº 1523, conhecida por “Escola Cinco”, na Comissão do Rangel, distrito com o mesmo nome.
Construída na época colonial, a escola primária está junto ao mercado das Corridas, actual paraça do Tunga Ngó, na rua P40, da Comissão do Rangel. Com 28 salas de aula, correspondentes a 56 turmas, o empreendimento escolar acolhe, neste ano lectivo, cerca de três mil alunos, subdivididos em dois turnos: manhã e tarde.
“Por aqui, passaram muitos estudantes. Muitos deles ocupam hoje cargos de destaque na nossa sociedade. São muitos”, explica a directora da escola, Filomena Ramos, aparentemente agastada com o quadro actual que a instituição enfrenta.
Filomena Ramos caracteriza como difícil o momento que a escola vive, que considera triste, vergonhoso e humilhante. “Além dos assaltos, há outros problemas, como o difícil acesso, o que torna ainda mais complicada a vida de quem aqui dá o litro para manter intacta esta estrutura.” A estes problemas, juntam-se outros, que preferiu não mais enumerá-los. Filomena Ramos recua no tempo e recordase de ter assistido a episódios tristes e chocantes que ocorreram na escola. “Algumas alunas foram forçadas pelos marginais a manterem relações sexuais. Foi duro e arrepiante”, conta com a voz embargada de tristeza.
Directora da escola há mais de 20 anos, Filomena Ramos, com o rosto desconsolado, quando contava a tragédia da violação sexual, disse que na altura ninguém conseguiu travar o ignóbil acto, todos tinham medo de sofrer represálias. “Não é que não havia vontade, mas não tínhamos como, o pânico era enorme.”
Lamenta o facto de a Administração Municipal e a Polícia do distrito remeterem-se ao silêncio. Para ela, a aproximação com o mercado do Tunga Ngó e o Caminho-de-Ferro de Luanda faz com que os marginais transformem a escola num refúgio. Filomena Ramos não tem dúvidas de que muitos pais e encarregados de educação retiraram os filhos da escola devido às constantes ondas de violência. “Não há segurança e ninguém gostaria vde er o seu descendente a ser molestado, por isso, quando assim acontece, devo é apenas colaborar, ou seja, passar a transferência.”
A escola, que tem o nome de um nacionalista que se bateu em defesa da pátria e que viveu boa parte da vida no Rangel, de seu nome Imperial Santana, devia merecer uma especial atenção, como diz a directora da instituição, que se queixa de haver pouco interesse das autoridades administrativas em garantir segurança no local.
Talvez por receio de represálias por parte dos marginais, alunos da escola se negaram pa restar informações à reportagem do
Jornal de Angola. Foram apenas acompanhando à distância a conversa com a directora Filomena Ramos, que não se cansava de apelar ao apoio das autoridades.
Ao redor da escola, há muita gente que estudou na instituição. Joana Domingas, 58 anos, é uma delas. Com o semblante revoltado, mostra-se aberta ao diálogo e diz: “esta já foi uma escola de verdade. Foi aqui que eu e os meus manos estudámos e, hoje, quando passo por ela não acredito no estado em que se encontra. É lamentável…”
João Domingos, 56 anos, nem quer ouvir falar da escola por onde passou e fez-se o homem que é hoje, tudo devido ao estado lastimável em que se encontra. Apela à ajuda de antigos colegas para unirem forças e salvar a instituição, considerada um emblema do município do Rangel.
A periferia
A Escola Comandante Imperial Santana nº 1523 não está muito distante de uma das zonas que no passado era considerada das mais críticas em termos de delinquência. Trata-se da área do México. Provavelmente, muitos ainda se lembram desse período.
Há ainda relatos de que, nos dias de hoje, a zona continua a ser o potencial fornecedor de estupefacientes. Maria Domingas, moradora da área, diz que não domina a informação, mas admite que por lá existem muitos jovens vadios com conduta duvidosa.“Não quero com isso a dizer que os actos de vandalismo têm sido praticados, exactamente, por esses rapazes, mas podem ser vistos como os primeiros suspeitos”, disse.