O Mundo está a acabar, mas não temos nada a ver com isso
Os consecutivos alertas dos cientistas e organismos internacionais para os riscos que a Humanidade corre devido às mudanças climáticas e à depredação de recursos a que vimos assistindo no último quarto de século parece começarem a fazer eco nas mentes das elites acerca da necessidade de preservar o Planeta em que vivemos. Mas, dizer-se apenas que não de existe outro lugar onde deitar fora o lixo porque temos de fazê-lo aqui mesmo na Terra não basta: há que ensinar às pessoas o que é, de facto, lixo e o que pode ser reaproveitado.
Aos políticos tradicionais é, naturalmente, mais importante mostrar ao seu eleitorado que se está a cumprir determinadas promessas eleitorais, nomeadamente, no que toca ao emprego e à habitação, ainda que, para isso, se tenha que passar por cima de todos os estudos de impacto ambiental que apontem para os riscos de estarmos a provocar danos à Natureza. Esses não perdem tempo quando têm de expôr os podres de certos elementos de movimentos e partidos ecologistas que se deixam cair na tentação, recorrendo a shampoos e outros produtos de beleza prejudiciais ao meio para manterem a imagem de revolucionários.
Importa mais construir um conglomerado habitacional num curso de água porque, no de acto de lançamento da primeira pedra e, depois, no corte da fita e entrega das primeiras chaves pode chamar-se a televisão e fazer propagar que se está a construir, sem notar que se está a fazê-lo em cima de curso de água, a dificultar a sua passagem normal para o Mar, pondo em risco a qualidade da saúde. E se houver que derrubar florestas de eucaliptos que foram plantadas para ajudar a drenar os terrenos, ataca-se de motosserra.
Também importa dar o aval a uma fábrica de sacos, bacias, penicos, vassouras e escovas de dente de plástico, mostrando que tais unidades vão criar postos de trabalho, sem atender aos danos que esses materiais provocam ao meio. E tudo isso é acompanhado de uma postura derrotista, em que tudo está mal e, dentro de alguns anos, faz-se algo semelhante ou pior para acudir a uma situação de emergência criada por uma má decisão anterior.
Morros são derrubados, bairros construídos onde antes passavam linhas férreas e o que se vê e lê é que mais cimento foi fabricado e já pode ser exportado – para diversificar a economia (?) -, mais fogos habitacionais são construídos, sem dar guarida a milhares de pessoas que, retiradas das suas zonas de conforto, se vêem mergulhadas em verdadeiros antros de perdição, onde grassam o álcool e as drogas, onde galopa a delinquência, a polícia não vai e, na ausência total de Estado, o povo entrega a Deus todo o comando e culpa o demónio por todos os pecados.
A oposição política é uma autêntica vela quadrangular - só navega a bolina, sempre para o mesmo rumo. Quando lhe apetece, ameaça, uniformiza-se de xita só para mostrar que se tem novas calças, e faz menção à guerra. E a sociedade civil veleja à velocidade de um assopro, mas quase sempre lhe falta o ar.
Enquanto isso, ao povo falta a “paparoca”, a saúde e a educação. Os números, sempre errados, servem a uns e a outros, posição e oposição. Aos primeiros, para justificar isto, aos segundos, para apontar aquilo. Ninguém liga ao aqueloutro. A dita sociedade civil, à falta de ar para assoprar a vela triangula de que diz dipor, prefere navegar a motor e só lhe resta, afinal, reclamar dos preços dos combustíveis.
Bem, o Mundo está a acabar, e nós com isso? Temos filhos e netos, mas já não estaremos cá para vê-los desunharem-se. Quando muito, diremos que deviam usar camisinhas e depois jogálas ao Mar...
Importa mais construir um conglomerado habitacional num curso de água porque, no de acto de lançamento da primeira pedra e, depois, no corte da fita e entrega das primeiras chaves pode chamar-se a televisão e fazer propagar que se está a construir