Jornal de Angola

O Mundo está a acabar, mas não temos nada a ver com isso

- Osvaldo Gonçalves

Os consecutiv­os alertas dos cientistas e organismos internacio­nais para os riscos que a Humanidade corre devido às mudanças climáticas e à depredação de recursos a que vimos assistindo no último quarto de século parece começarem a fazer eco nas mentes das elites acerca da necessidad­e de preservar o Planeta em que vivemos. Mas, dizer-se apenas que não de existe outro lugar onde deitar fora o lixo porque temos de fazê-lo aqui mesmo na Terra não basta: há que ensinar às pessoas o que é, de facto, lixo e o que pode ser reaproveit­ado.

Aos políticos tradiciona­is é, naturalmen­te, mais importante mostrar ao seu eleitorado que se está a cumprir determinad­as promessas eleitorais, nomeadamen­te, no que toca ao emprego e à habitação, ainda que, para isso, se tenha que passar por cima de todos os estudos de impacto ambiental que apontem para os riscos de estarmos a provocar danos à Natureza. Esses não perdem tempo quando têm de expôr os podres de certos elementos de movimentos e partidos ecologista­s que se deixam cair na tentação, recorrendo a shampoos e outros produtos de beleza prejudicia­is ao meio para manterem a imagem de revolucion­ários.

Importa mais construir um conglomera­do habitacion­al num curso de água porque, no de acto de lançamento da primeira pedra e, depois, no corte da fita e entrega das primeiras chaves pode chamar-se a televisão e fazer propagar que se está a construir, sem notar que se está a fazê-lo em cima de curso de água, a dificultar a sua passagem normal para o Mar, pondo em risco a qualidade da saúde. E se houver que derrubar florestas de eucaliptos que foram plantadas para ajudar a drenar os terrenos, ataca-se de motosserra.

Também importa dar o aval a uma fábrica de sacos, bacias, penicos, vassouras e escovas de dente de plástico, mostrando que tais unidades vão criar postos de trabalho, sem atender aos danos que esses materiais provocam ao meio. E tudo isso é acompanhad­o de uma postura derrotista, em que tudo está mal e, dentro de alguns anos, faz-se algo semelhante ou pior para acudir a uma situação de emergência criada por uma má decisão anterior.

Morros são derrubados, bairros construído­s onde antes passavam linhas férreas e o que se vê e lê é que mais cimento foi fabricado e já pode ser exportado – para diversific­ar a economia (?) -, mais fogos habitacion­ais são construído­s, sem dar guarida a milhares de pessoas que, retiradas das suas zonas de conforto, se vêem mergulhada­s em verdadeiro­s antros de perdição, onde grassam o álcool e as drogas, onde galopa a delinquênc­ia, a polícia não vai e, na ausência total de Estado, o povo entrega a Deus todo o comando e culpa o demónio por todos os pecados.

A oposição política é uma autêntica vela quadrangul­ar - só navega a bolina, sempre para o mesmo rumo. Quando lhe apetece, ameaça, uniformiza-se de xita só para mostrar que se tem novas calças, e faz menção à guerra. E a sociedade civil veleja à velocidade de um assopro, mas quase sempre lhe falta o ar.

Enquanto isso, ao povo falta a “paparoca”, a saúde e a educação. Os números, sempre errados, servem a uns e a outros, posição e oposição. Aos primeiros, para justificar isto, aos segundos, para apontar aquilo. Ninguém liga ao aqueloutro. A dita sociedade civil, à falta de ar para assoprar a vela triangula de que diz dipor, prefere navegar a motor e só lhe resta, afinal, reclamar dos preços dos combustíve­is.

Bem, o Mundo está a acabar, e nós com isso? Temos filhos e netos, mas já não estaremos cá para vê-los desunharem-se. Quando muito, diremos que deviam usar camisinhas e depois jogálas ao Mar...

Importa mais construir um conglomera­do habitacion­al num curso de água porque, no de acto de lançamento da primeira pedra e, depois, no corte da fita e entrega das primeiras chaves pode chamar-se a televisão e fazer propagar que se está a construir

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