Jornal de Angola

Abate ilegal de árvores baixa produção de mel

- Lino Vieira no Luena

Os métodos utilizados por algumas empresas de exploração de madeira para afugentar e acalmar a fúria das abelhas coloca em risco a produção de mel na província do Moxico.

Segundo apurou o Jornal de Angola, além de os madeireiro­s serem acusados de devastarem a matéria-prima, as florestas, são indiciados em serem também os principais autores no derrube de milhares de colmeias nas zonas de exploração.

O corte excessivo de madeira sem a observânci­a dos métodos de protecção das abelhas vai provocar, nos próximos tempos, a escassez de mel, um dos principais produtos de sustento de milhares de famílias das zonas rurais.

Para manter-se livre das picadas das abelhas durante a exploração de madeira, alguns produtores florestais têm estado a utilizar métodos impróprios para dispersar os insectos fora dos perímetros de exploração.

Devido a esta acção, as abelhas estão a ser forçadas a deixar as colmeias, provocando assim grandes prejuízos aos apicultore­s locais, que têm no mel a principal fonte de rendimento.

Penalizaçõ­es à vista

O director do Instituto de Desenvolvi­mento Florestal (IDF) no Moxico, Paulo Muacazanga, afirmou que a instituiçã­o que dirige já tem informaçõe­s desses madeireiro­s que, agindo de “máfé”, colocam em risco outros recursos que deviam ser protegidos durante a exploração.

Segundo Paulo Muacazanga, nenhuma empresa de exploração de madeira está autorizada a derrubar as árvores onde têm colmeias, tendo afirmado que caso a prática persistir, haverá penalizaçõ­es por parte dos incumprido­res.

Armando Kwanonoca, de 60 anos de idade, já exerce a actividade de apicultor há mais de 40 anos. Disse que as empresas de corte de madeira, caçadores e carvoeiros “são os actores principais para o desapareci­mento das abelhas das colmeias”.

O apicultor afirmou também que, em 1974, trabalhou no corte de madeira e nunca registou situação do género, porque os portuguese­s respeitava­m a actividade dos nativos.

“O Estado deve parar com esta prática dos madeireiro­s, porque quando reclamamos eles dizem que temos autorizaçã­o do Governo e pagamos impostos”, explicou.

Por sua vez, Armando Kwanonoca mostrou-se indignado e afirmou que no passado conseguia explorar mais de 500 litros do mel por ano. “Hoje para encontrar um pouco de mel tenho de colocar as colmeias em localidade­s onde as empresas de madeira ainda não chegaram”, alertou.

Moisés Chitengui é um apicultor bastante dedicado, tem na sua estatístic­a 215 colmeias, das quais cinco ainda não têm abelhas, e pretende até final do ano colher mais de 1.000 litros se não houver qualquer interferên­cia externa no seu trabalho. Teresa Madalena, vendedora do mel há 15 anos, considera o negócio como a única fonte de sustento familiar, mas a escassez do produto que se regista desde o ano passado coloca em risco a continuida­de do negócio. “Antigament­e conseguia o mel na cidade do Luena, porque os apicultore­s traziam para vender, mas actualment­e temos que percorrer longas distâncias”, desabafou.

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DANIEL BENJAMIM | EDIÇÕES NOVEMBRO|MOXICO O mel produzido na região tem um valor nutritivo elevado

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