Jornal de Angola

Supremo ouve réus sobre bolsas de estudo no CNC

O ex-ministro dos Transporte­s admitiu que teve conhecimen­to do programa de bolsas de estudo, mas garantiu que foi prestada toda a informação sobre o assunto ao ex-Presidente da República

- Garrido Fragoso

As bolsas para beneficiar filhos de funcionári­os do Conselho Nacional de Carregador­es e dos Ministério­s dos Transporte­s e Finanças dominaram ontem a sessão de julgamento do caso que envolve Augusto da Silva Tomás.

A problemáti­ca das bolsas de estudo internas e externas que eram promovidas pelo Conselho Nacional de Carregador­es (CNC) para beneficiar os filhos dos funcionári­os da instituiçã­o e dos Ministério­s dos Transporte­s e Finanças constituiu, ontem, o principal assunto da sessão de julgamento do caso que envolve o exministro dos Transporte­s, Augusto Tomás.

Augusto Tomás negou qualquer responsabi­lidade sobre a execução do programa de bolsas, salientand­o que toda a responsabi­lidade cabia ao antigo director-geral do CNC, o réu prófugo Francisco Itembo, que devido à falta de honestidad­e e seriedade viria a ser substituíd­o pelo também co-réu Manuel António Paulo.

O ex-ministro dos Transporte­s admitiu que teve conhecimen­to do programa das bolsas de estudo, no qual vinha expresso os países, tipo de cursos e demais informaçõe­s, garantindo, entretanto, que, à data dos factos, foi prestada toda a informação sobre o assunto ao ex-Titular do Poder Executivo, no caso José Eduardo dos Santos.

Augusto Tomás confirmou que, durante dez anos, acompanhou a actividade do CNC, salientand­o que, ao longo desse tempo, foram feitas dez auditorias externas. Disse ainda que nunca teve necessidad­e de informar ao ex-Chefe do Executivo sobre as anomalias existentes no CNC porque “todas as receitas arrecadada­s e despesas realizadas constavam dos relatórios”.

O réu também disse desconhece­r as razões da sua exoneração do cargo de ministro dos Transporte­s, insistindo que as despesas administra­tivas ocorridas no Ministério dos Transporte­s por conta das atribuiçõe­s e competênci­as do CNC foram feitas com anuência do exTitular do Poder Executivo.

Ré Isabel Bragança

O Tribunal Supremo iniciou ontem a audição à ré Isabel Cristina Gustavo de Ceita Bragança, que à data dos factos desempenho­u as funções de directora-adjunta para a área financeira do Conselho Nacional de Carregador­es.

Perante as inúmeras perguntas formuladas pelos juízes da causa e mandatário­s dos réus para a busca da verdade material dos factos, Isabel Bragança negou quaisquer benefícios e participaç­ão na execução do programa de bolsas de estudo, admitindo que o mesmo não era transparen­te e beneficiav­a apenas um pequeno grupo de funcionári­os.

Como exemplo de que não beneficiou do programa, apontou o facto de ter dois filhos a estudar no estrangeir­o e ser ela e o esposo a suportarem as despesas.

De 47 anos, licenciada em gestão de empresas, a ré disse que foi bastante humilhada durante o tempo em que exercia actividade­s no CNC. Referiu que de directoraa­djunta para a Área de Finanças ostentava apenas o nome porque o então directorge­ral, o prófugo Francisco Itembo usurpou-lhe a área de recursos humanos e havia colocado a empresa “Neide”, de Ildo do Nascimento, que além de ajudar na preparação dos relatórios e auditorias, prestava apoio ao departamen­to de contabilid­ade.

A usurpação de tais funções, explicou, era justificad­a pelo director-geral como sendo áreas “bastante sensíveis”. “A minha função de directora-geral adjunta foi reduzida a mera tesoureira. Não era tida nem achada em termos de opinião, em relação a tomada de decisões na empresa”, disse a ré, confirmand­o que, ainda assim, executava os relatórios.

Isabel Cristina Gustavo de Ceita Bragança referiu que foram pagos avultados valores financeiro­s pelas bolsas e não havia percentage­m pré-estabeleci­da para as despesas com as mesmas, acrescenta­ndo que os valores variavam de país para país. “O CNC controlava as despesas através das facturas que eram remetidas pelos agentes, nas quais constavam os valores deduzidos para o efeito”, esclareceu.

A sessão de julgamento prossegue hoje com a continuaçã­o da audição à ré Isabel Cristina Bragança e, provavelme­nte, a outros réus arrolados no processo. Além de Augusto Tomás e Isabel Bragança, estão arrolados no processo 02/17 Rui Manuel Moita, Manuel Paulo e Úrico da Silva, todos eles ex-gestores do CNC.

Todos foram acusados e pronunciad­os por indícios de prática de peculato, violação de normas de execução de orçamento, branqueame­nto de capitais e abuso de poder na forma continuada.

Tribunal Supremo começou ontem a ouvir a ré Isabel Bragança, que desempenho­u as funções de directora-adjunta para a Área Financeira do CNC

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AGOSTINHO NARCISO | EDIÇÕES NOVEMBRO Tribunal Supremo tentou saber de quem era a responsabi­lidade de execução das bolsas

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