Jornal de Angola

Ex-juiz depõe no Senado sobre mensagens polémicas

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O ministro da Justiça brasileiro, Sérgio Moro, vai na próxima quarta-feira à Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) do Senado depor sobre a troca de mensagens que coloca em causa a imparciali­dade da operação Lava Jacto.

A decisão foi anunciada pelo presidente do Senado, David Alcolumbre, durante uma sessão do Congresso, após ter recebido um comunicado do líder do Governo no Senado, Fernando Bezerra.

O documento, partilhado por Alcolumbre no seu Twitter, afirma que Moro se colocava à disposição do Senado para ser ouvido pela CCJ.

Sérgio Moro, ex-juiz e actual responsáve­l pela pasta da Justiça no Governo liderado por Jair Bolsonaro, foi citado no domingo numa série de reportagen­s sobre a operação Lava Jacto do sítio de Internet The Intercept.

Segundo o Intercept, conversas privadas revelam que o ex-juiz Sérgio Moro sugeriu ao procurador e responsáve­l pelas investigaç­ões da Lava Jacto, Deltan Dallagnol, que alterasse a ordem das fases da operação, deu conselhos, indicou caminhos de investigaç­ão e deu orientaçõe­s, isto é, teria ajudado a acusação, o que viola a legislação brasileira.

Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública, ganhou notoriedad­e como juiz da operação Lava Jacto, por condenar empresário­s, funcionári­os públicos e políticos de renome como o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A acusação contra Lula da Silva, condenado por Moro a nove anos e seis meses de prisão num caso sobre um apartament­o de luxo no Guarujá, São Paulo, supostamen­te recebido como suborno da construtor­a OAS, foi citada pelas reportagen­s do Intercept. Segundo o portal de jornalismo de investigaç­ão, as mensagens indicam que os próprios procurador­es da Lava Jacto tinham sérias dúvidas sobre a qualidade das provas contra o ex-Presidente Lula da Silva neste processo. Procurador­es e o próprio Sérgio Moro negaram na segunda-feira a existência de irregulari­dades no conteúdo divulgado. Contudo, a Ordem dos Advogados do Brasil sugeriu o afastament­o do actual ministro da Justiça e dos procurador­es envolvidos naquele que consideram ser um caso que “ameaça os alicerces do Estado democrátic­o de direito”.

“Este quadro recomenda que os envolvidos peçam afastament­o dos cargos públicos que ocupam, especialme­nte para que as investigaç­ões corram sem qualquer suspeita”, considerou a Ordem dos Advogados.

“Globo foi aliada” da Lava-Jato

O jornalista norte-americano e co-fundador do “The Intercept Brasil”, Green Greenwald, deu ontem a entender que as próximas publicaçõe­s do portal podem desvendar a relação entre o grupo de media e a equipa da megainvest­igação à corrupção. A Globo e a Operação LavaJato são “aliadas, amigas, parceiras e sócias”, disse numa entrevista Greenwald, um dos três jornalista­s que revelaram a troca de mensagens entre o juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol em trabalhos publicadas no portal “The Intercept Brasil”. “Os documentos mostram como Moro e Deltan trabalhara­m juntos com a Globo e nós vamos reportar”, disse Greenwald à Agência Pública, dando a entender que os próximas trabalhos de investigaç­ão jornalísti­ca podem ser sobre essa relação.

“A Globo foi para a LavaJato aliada, amiga, parceira, sócia. Assim como a Lava-Jato foi o mesmo para a Globo”, acrescento­u.

“É impossível para todo o mundo que está a ler esse material defender o que Moro fez. Impossível!”, afirmou o jornalista norte-americano que ficou conhecido ao denunciar o esquema de vigilância da NSA com os documentos fornecidos por Edward Snowden em 2013.

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