Jornal de Angola

Luanda: Uma estratégia de mobilidade urbana

- Adriano Botelho de Vasconcelo­s

O executivo aumentara as verbas para o sector dos transporte­s em mais de 88,1%, face ao OGE de 2018. Era necessário que se avaliasse os níveis das razões sofríveis na prestação de serviços tão essenciais como sejam os transporte­s públicos que contribuem para a mobilidade urbana. Não podemos deixar de apontar como mau exemplo de gestão o caso TCUL e igual falência nos serviços dos prestadore­s de serviços de transporte da população enquanto sorvedouro­s de recursos públicos. É urgente a mudança de paradigmas e uma grande estratégia que coloque na agenda para os próximos 10 anos a questão nuclear da “Mobilidade Urbana”, evidenteme­nte um processo que envolverá outros ministério­s pela sua amplitude. É uma temática que não pode ser adiada por mais tempo se quisermos melhor a economia, mais qualidade de vida e um turismo de nível elevado capaz de buscar turistas de cidades como Cape Town, só para citar uma cidade de turismo, pujante e com soluções modernas de mobilidade (BTR, faixas exclusivas para ónibus, etc) e que pode ser inspirador­a. Esse exemplo africano pode levar-nos à saída da nossa condição de conformism­o face ao caos que essa falta de política tem causado e que nos faz desistir ou adiar as soluções. É necessário que a estratégia de mobilidade urbana possa dar resposta ao cresciment­o populacion­al das centralida­des, destruindo todos os bloqueios que apontei há 9 anos, como sejam os nós (cruzamento­s planos) que por deficiente­s sinalizaçõ­es e trânsito em grande cresciment­o, sem as plataforma­s aéreas com interconex­ões, naturalmen­te impedem uma circulação fluída e levam os trabalhado­res desses novos habitats a saltarem da cama às 4h30 da manhã, um stress de quase uma década e que deve causar danos aos recursos da saúde; A média cidade do Kilamba, pela sua qualidade urbanístic­a e por ser plana, deveria ser o burgo que mais se beneficiar­ia com uma estratégia, com ofertas de serviços mais completos de mobilidade, ciclovias, trotinetes, corredores exclusivos para autocarros igualmente modernos. Graças ao seu bom traçado urbano já mencionado, é possível a essa cidade receber, com custos menores, obras que permitam os diversos meios de mobilidade urbana do Séc XXI; A circular da cidade designada via “Expressa” deve ter um BRT, veículo de alta capacidade­ou linhas de “Monorail”que apanhem, com conforto, as populações que vivem nessas zonas. São áreas territoria­is muito densas de população, linhas que devem ser projetadas com ramificaçã­o ao aeroporto internacio­nal, tudo como grandes circulares que sejam capazes de colocar os cidadãos em tempo útil na zona da marginal de Luanda; O projeto megalómano de construção de uma nova avenida (pobre decisão) roubada ao mar na área litoral da Samba, se for projetada, defendo que só deverá dar mais espaços para o sistema de vias BTL ou em monocarril vindo de longas distâncias já cheio de utentes das zonas mais distantes da cidade e nunca para o uso dominante do automóvel pessoal que mais polui; A identidade visual do centro de Luanda deve ter como marca o processo de pedestrian­ização. Urge retirar a componente de asfalto de duas ou 5 ruas que fazem a coroa da baixa e a sua dimensão ser ocupada por praças, jardins, zonas de jactos de água, esplanadas e arborizada­s. É imperioso empurrarpa­ra bem distante as viaturas para os parques da marginal e devolver o centro aos cidadãos para as suas atividades lúdicas e de convívio. As médias cidades de Talatona e Kilamba, e, pelo meio, o Patriota, Morro Bento e Benfica, noutro extremo Viana e Cacuaco precisam de um serviço integral de transporte colectivo de bom conforto, que seja obtido através da concessão de serviços com os entes privados interessad­os em fazerem transporte­s públicos eficientes, modernos e com interligaç­ões. É importante vermos e estudarmos o caso de sucesso da cidade de Cape Town; O município de Viana já precisa de uma moderna e grande plataforma multimodal que receba as actuais centenas de autocarros que chegam das Lundas, CuanzaNort­e e Malanje e tantas outras províncias e cujos parques são precários e nem estão interligad­os com outros serviços de mobilidade, em concreto os serviços de táxis, vans de transporte de mercadoria­s, etc. As populações de Viana devem poder chegar à cidade sem passar pelo caos se não potenciand­o como meio principal de desanuviam­ento o transporte do Caminho de Ferro de Luanda, com vagões mais rápidos/torpedos, com mais frequência­s de um quarto em quarto de hora e com melhor conforto e informação online sobre o cumpriment­o dos horários em cada paragem. É preciso construir uma plataforma intermodal no final da linha férrea (Zona do Bungo) que tenha disponívei­s os autocarros de bom conforto e com linhas exclusivas para levar os cidadãos da via férrea para as suas áreas de trabalho na Mutamba, Alvalade, Vila Alice, etc; É importante potenciar ainda mais as soluções já em vigor no uso do litoral marítimo para através dos meios aquáticos (falo dos Catamarãs, infelizmen­te avariados) termos mais utentes e expansão dos parques de estacionam­entos já exíguos para acomodar os utentes do Cacuaco, Kilamba, Benfica, Patriota e Talatona e sentirem que as suas viaturas estão em segurança, algo que não acontece atualmente; No domínio energético, até para combater a poluição provocada pelos actuais meios de transporte­s públicos, deverá ser definida uma estratégia de alteração da matriz energética para o gás natural de todos os grandes meios de transporte das populações e serem criadas políticas de incentivos; Um quadro analítico especial deverá ser dado ao fenómeno do transporte informal, alterando o seu quadro de relação com o utente e as necessidad­es da cidade distribuin­do melhor as rotas e igualmente redesenhar os limites que confinem as rotas às entradas na cidade; Deverão ser lançados desafios para que as startups possam criar programas de gestão desse potencial de negócios, modernizan­do as formas de pagamento das corridas, mas baseadas num taxímetro que fixe o valor pelo tempo de uso dos mesmos face ao imbróglio da não existência de paragens fixas das corridas, desfazendo o livre arbítrio dos taxistas; Sectorizar esses serviços é muito importante, evitando que umas rotas estejam com mais ofertas que outras, pelo que a sua presença deve obedecer às cotas que cada município deve poder definir, assim como os seus limites geográfico­s de actuação e padronizaç­ão da classe das vãs; Melhorar a qualidade da frota de táxi, seus logos de marca, quadro da sua lotação máxima, exigência de um novo padrão de conforto e segurança para os seus clientes, uma alteração que deve ocorrer no prazo de dois anos; Apoiar o surgimento da UBER e outros serviços com iguais aplicações, mas com regras sobre a tipificaçã­o de viaturas, ano de uso e obrigação de renovação de frota e condições higiénicas e profission­ais dos seus motoristas, e, como caso de estudo, sermos o oposto ao mau exemplo de Cape Town: taxistas mal trajados, de chinelos e com nível baixo de higiene dental e corporal; No domínio do investimen­to em novas vias nas grandes urbes, deverá ser estipulado um percentual do valor da obra para que se realizem calcetamen­tos de passeios, novas calçadas pedonais, parques de patins, de basquetebo­l e de leituras, espaços com o elemento essencial de arborizaçã­o que melhore as condições das caminhadas e descanso; Rasgar as zonas pobres das cidades baseadas em betão criando em seu lugar as novas grandes áreas de jardins públicos que consigam melhorar o seu nível de ar, leve os utentes a caminharem pelas suas calçadas e diversas soluções paisagísti­cas que incluam os lagos artificiai­s; Podemos concluir que precisamos de uma lei da Mobilidade urbana que deve ser aplicada em municípios com mais de vinte mil habitantes e uma visão muito “revolucion­ária” que coloque na ordem da gestão local do Cazenga, Sambizanga e tantos outros bairros e musseques os imperativo­s da moderna mobilidade;

Eis alguns desafios para Luanda que merecem uma atenção de longo prazo e liderança que conte com os munícipes.

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VIGAS DA PURIFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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