Luanda: Uma estratégia de mobilidade urbana
O executivo aumentara as verbas para o sector dos transportes em mais de 88,1%, face ao OGE de 2018. Era necessário que se avaliasse os níveis das razões sofríveis na prestação de serviços tão essenciais como sejam os transportes públicos que contribuem para a mobilidade urbana. Não podemos deixar de apontar como mau exemplo de gestão o caso TCUL e igual falência nos serviços dos prestadores de serviços de transporte da população enquanto sorvedouros de recursos públicos. É urgente a mudança de paradigmas e uma grande estratégia que coloque na agenda para os próximos 10 anos a questão nuclear da “Mobilidade Urbana”, evidentemente um processo que envolverá outros ministérios pela sua amplitude. É uma temática que não pode ser adiada por mais tempo se quisermos melhor a economia, mais qualidade de vida e um turismo de nível elevado capaz de buscar turistas de cidades como Cape Town, só para citar uma cidade de turismo, pujante e com soluções modernas de mobilidade (BTR, faixas exclusivas para ónibus, etc) e que pode ser inspiradora. Esse exemplo africano pode levar-nos à saída da nossa condição de conformismo face ao caos que essa falta de política tem causado e que nos faz desistir ou adiar as soluções. É necessário que a estratégia de mobilidade urbana possa dar resposta ao crescimento populacional das centralidades, destruindo todos os bloqueios que apontei há 9 anos, como sejam os nós (cruzamentos planos) que por deficientes sinalizações e trânsito em grande crescimento, sem as plataformas aéreas com interconexões, naturalmente impedem uma circulação fluída e levam os trabalhadores desses novos habitats a saltarem da cama às 4h30 da manhã, um stress de quase uma década e que deve causar danos aos recursos da saúde; A média cidade do Kilamba, pela sua qualidade urbanística e por ser plana, deveria ser o burgo que mais se beneficiaria com uma estratégia, com ofertas de serviços mais completos de mobilidade, ciclovias, trotinetes, corredores exclusivos para autocarros igualmente modernos. Graças ao seu bom traçado urbano já mencionado, é possível a essa cidade receber, com custos menores, obras que permitam os diversos meios de mobilidade urbana do Séc XXI; A circular da cidade designada via “Expressa” deve ter um BRT, veículo de alta capacidadeou linhas de “Monorail”que apanhem, com conforto, as populações que vivem nessas zonas. São áreas territoriais muito densas de população, linhas que devem ser projetadas com ramificação ao aeroporto internacional, tudo como grandes circulares que sejam capazes de colocar os cidadãos em tempo útil na zona da marginal de Luanda; O projeto megalómano de construção de uma nova avenida (pobre decisão) roubada ao mar na área litoral da Samba, se for projetada, defendo que só deverá dar mais espaços para o sistema de vias BTL ou em monocarril vindo de longas distâncias já cheio de utentes das zonas mais distantes da cidade e nunca para o uso dominante do automóvel pessoal que mais polui; A identidade visual do centro de Luanda deve ter como marca o processo de pedestrianização. Urge retirar a componente de asfalto de duas ou 5 ruas que fazem a coroa da baixa e a sua dimensão ser ocupada por praças, jardins, zonas de jactos de água, esplanadas e arborizadas. É imperioso empurrarpara bem distante as viaturas para os parques da marginal e devolver o centro aos cidadãos para as suas atividades lúdicas e de convívio. As médias cidades de Talatona e Kilamba, e, pelo meio, o Patriota, Morro Bento e Benfica, noutro extremo Viana e Cacuaco precisam de um serviço integral de transporte colectivo de bom conforto, que seja obtido através da concessão de serviços com os entes privados interessados em fazerem transportes públicos eficientes, modernos e com interligações. É importante vermos e estudarmos o caso de sucesso da cidade de Cape Town; O município de Viana já precisa de uma moderna e grande plataforma multimodal que receba as actuais centenas de autocarros que chegam das Lundas, CuanzaNorte e Malanje e tantas outras províncias e cujos parques são precários e nem estão interligados com outros serviços de mobilidade, em concreto os serviços de táxis, vans de transporte de mercadorias, etc. As populações de Viana devem poder chegar à cidade sem passar pelo caos se não potenciando como meio principal de desanuviamento o transporte do Caminho de Ferro de Luanda, com vagões mais rápidos/torpedos, com mais frequências de um quarto em quarto de hora e com melhor conforto e informação online sobre o cumprimento dos horários em cada paragem. É preciso construir uma plataforma intermodal no final da linha férrea (Zona do Bungo) que tenha disponíveis os autocarros de bom conforto e com linhas exclusivas para levar os cidadãos da via férrea para as suas áreas de trabalho na Mutamba, Alvalade, Vila Alice, etc; É importante potenciar ainda mais as soluções já em vigor no uso do litoral marítimo para através dos meios aquáticos (falo dos Catamarãs, infelizmente avariados) termos mais utentes e expansão dos parques de estacionamentos já exíguos para acomodar os utentes do Cacuaco, Kilamba, Benfica, Patriota e Talatona e sentirem que as suas viaturas estão em segurança, algo que não acontece atualmente; No domínio energético, até para combater a poluição provocada pelos actuais meios de transportes públicos, deverá ser definida uma estratégia de alteração da matriz energética para o gás natural de todos os grandes meios de transporte das populações e serem criadas políticas de incentivos; Um quadro analítico especial deverá ser dado ao fenómeno do transporte informal, alterando o seu quadro de relação com o utente e as necessidades da cidade distribuindo melhor as rotas e igualmente redesenhar os limites que confinem as rotas às entradas na cidade; Deverão ser lançados desafios para que as startups possam criar programas de gestão desse potencial de negócios, modernizando as formas de pagamento das corridas, mas baseadas num taxímetro que fixe o valor pelo tempo de uso dos mesmos face ao imbróglio da não existência de paragens fixas das corridas, desfazendo o livre arbítrio dos taxistas; Sectorizar esses serviços é muito importante, evitando que umas rotas estejam com mais ofertas que outras, pelo que a sua presença deve obedecer às cotas que cada município deve poder definir, assim como os seus limites geográficos de actuação e padronização da classe das vãs; Melhorar a qualidade da frota de táxi, seus logos de marca, quadro da sua lotação máxima, exigência de um novo padrão de conforto e segurança para os seus clientes, uma alteração que deve ocorrer no prazo de dois anos; Apoiar o surgimento da UBER e outros serviços com iguais aplicações, mas com regras sobre a tipificação de viaturas, ano de uso e obrigação de renovação de frota e condições higiénicas e profissionais dos seus motoristas, e, como caso de estudo, sermos o oposto ao mau exemplo de Cape Town: taxistas mal trajados, de chinelos e com nível baixo de higiene dental e corporal; No domínio do investimento em novas vias nas grandes urbes, deverá ser estipulado um percentual do valor da obra para que se realizem calcetamentos de passeios, novas calçadas pedonais, parques de patins, de basquetebol e de leituras, espaços com o elemento essencial de arborização que melhore as condições das caminhadas e descanso; Rasgar as zonas pobres das cidades baseadas em betão criando em seu lugar as novas grandes áreas de jardins públicos que consigam melhorar o seu nível de ar, leve os utentes a caminharem pelas suas calçadas e diversas soluções paisagísticas que incluam os lagos artificiais; Podemos concluir que precisamos de uma lei da Mobilidade urbana que deve ser aplicada em municípios com mais de vinte mil habitantes e uma visão muito “revolucionária” que coloque na ordem da gestão local do Cazenga, Sambizanga e tantos outros bairros e musseques os imperativos da moderna mobilidade;
Eis alguns desafios para Luanda que merecem uma atenção de longo prazo e liderança que conte com os munícipes.