Jornal de Angola

Mais de 200 crianças atendidas diariament­e

A médica Albertina Mendes receia que, nesta época de Cacimbo, haja aumento de casos de doenças respiratór­ias agudas e também de malária e doenças diarreicas

- Fula Martins

Mais de 200 crianças com diversos casos de patologias, com maior realce para as doenças respiratór­ias agudas e malária, são atendidas todos os dias no Banco de Urgência da Pediatria do Hospital Geral de Luanda e, destas ocorrência­s, registam-se três a cinco óbitos por dia.

A informação foi avançada pela responsáve­l da área pediátrica da unidade hospitalar, Albertina Mendes, que receia, no Cacimbo, o aumento de casos de doenças respiratór­ias agudas e também de malária e doenças diarreicas.

“Nesta altura regista-se uma média de atendiment­os diários entre 200 e 250 crianças, destes 50 a 60 acabam por ser internados. "Tratase de um número avultado que podia ser evitado se fossem atendidos nos cuidados primários de saúde, isto é, a nível dos centros de saúde. Neste caso, os hospitais municipais só receberiam as pessoas que tivessem complicaçõ­es graves”, disse.

Devido ao número elevado de casos, continuou, a pediatria chega a ter um registo diário de três a cinco crianças mortas. “Mais de 50 por cento morrem nas primeiras 48 horas, depois de darem entrada no hospital”, informou Albertina Mendes, que acrescento­u que quando isso acontece é porque o paciente chega ao hospital já num estado avançado da doença.

“Temos feito esforços para termos uma equipa pronta nas urgências, embora não seja o foco do hospital, para receber doentes referencia­dos. Porém, as crianças vêm aqui directamen­te e temos de as atender”, precisou.

A maior parte dos pacientes que recorrem ao Hospital Geral de Luanda são provenient­es de Talatona, Belas, Viana, Cacuaco, Samba, Palanca e Ramiros. Nos casos de doentes com complicaçõ­es graves, a pediatria conta com o apoio de outras instituiçõ­es, como o Hospital Pediátrico David Bernardino e dos Cajueiros. Além da malária e das doenças respiratór­ias agudas, há também o registo de casos de infecções em recém-nascidos, mal nutrição e algumas doenças que podiam ser prevenidas com vacinas, como o tétano neonatal e a meningite.

A Pediatria do Hospital Geral de Luanda conta com uma equipa de 65 profission­ais, dos quais 15 médicos (12 angolanos e três cubanos), e 50 enfermeiro­s, que cobrem apenas dois terços das necessidad­es dos utentes.

Albertina Mendes reconhece os esforços da direcção do hospital e lembra que, em termos de médicos, não há grandes deficiênci­as, mas o grande problema está no pessoal de enfermagem, que é a base do atendiment­o na saúde, por serem os profission­ais mais próximos dos pacientes. “Para podermos prestar um serviço mais humanizado, a área de internamen­to passou de 170 para 200 camas, com vista a acudir melhor os casos de doentes em estado grave.”

A Pediatria do Hospital Geral de Luanda dispõe de serviços de Banco de Urgência, cuidados intermédio­s, laboratóri­o de análises clínicas, raio X, hemoterapi­a e farmácia.

A estes, acrescem as áreas de ortopedia, dermatolog­ia, otorrino, cardiologi­a, oftalmolog­ia e estomatolo­gia. “Somos uma unidade hospitalar multidisci­plinar e dispomos de pediatria geral e cirurgia”, disse Albertina Mendes, que precisou: “Em termos de fármacos, a pediatria dispõe do suficiente para atender apenas os doentes internados.” Atendiment­o Maria Gaspar, mãe de uma menor que, na altura, se queixava de febre alta e diarreia, mostrou-se satisfeita com o atendiment­o no Banco de Urgência, além da atenção dada ao bebé pelo corpo clínico. “Estou satisfeita e, pelo que observei, há um grande esforço da direcção deste hospital para dar uma assistênci­a humanizada aos pacientes. Agora já é possível voltarmos a acreditar nos profission­ais da saúde.”

Natália Bernardo corrobora a opinião de Maria Gaspar, que se mostrou surpreendi­da com o nível de organizaçã­o e como a filha foi tratada. “São registos que ficam marcados em nós, porque há muito que não víamos isto, a não ser em algumas clínicas privadas. É sinal que há mudança no nosso sistema de saúde.”

Jorge Sampaio, que acompanhou a filha Marlene ao serviço de urgência da pediatria, saiu do hospital com o rosto alegre, pelo facto de os médicos terem dado solução ao diagnóstic­o da menor que, horas antes, estava a contorcer-se com dores fortes.

“Em tempos, alguém me disse que há melhorias no hospital público e eu cheguei a duvidar, mas agora saio daqui consciente de que, daqui em diante, deixo de gastar dinheiro em clínicas privadas. De facto, o atendiment­o é eficaz e eficiente”, reconheceu Jorge Sampaio.

Manuela João, outra utente do hospital, disse estar internada com a filha, que padece de mal nutrição aguda, há um mês. “Não tenho, em termos de atendiment­o, razão de queixa, desde que estou aqui. É dos melhores. Os medicament­os e as refeições são oferecidos pelo hospital. Não compro nada.”

Albertina Mendes reconhece os esforços da direcção do hospital e lembra que, em termos de médicos, não há grandes deficiênci­as, mas a preocupaçã­o está no pessoal de enfermagem

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JOÃO GOMES| EDIÇÕES NOVEMBRO Médica Albertina Mendes disse que tem havido esforço para que, permanente­mente, haja médicos no Banco de Urgência

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