Jornal de Angola

A solidaried­ade e o assistenci­alismo

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As situações de emergência por que passam as populações de algumas regiões nas províncias do Cunene, Namibe e Huíla levaram à pronta mobilizaçã­o do Executivo e, por arrasto, partes significat­ivas da sociedade angolana, num conjunto de gestos que nos engrandece­m a todos como nação. Os nossos irmãos, nas referidas regiões, passam por problemas que acabaram por se transforma­r também em nossos, razão pela qual importa que continuemo­s a partilhar das suas carências e necessidad­es. E assim, felizmente, tem sido um pouco por todo o país.

As várias sensibilid­ades da sociedade angolana não ficaram indiferent­es às dificuldad­es que as populações enfrentam, no Sul do país, tendo-se associado de forma exemplar aos esforços do Executivo. Isto constitui um reflexo dos postulados em que assentam a construção do país que pretendemo­s bom para todos, baseados na solidaried­ade, entre outros valores e princípios.

Até hoje, foram já mobilizada­s toneladas e toneladas de bens que, como sabemos, vão contribuir para minimizar largamente muitas das necessidad­es dos nossos irmãos e irmãs, nas regiões mais afectadas.

Pretendemo­s todos que, mais do que o quadro actual em que largas franjas da sociedade de Cabinda ao Cunene se associam aos esforços do Executivo, com gestos exemplares de solidaried­ade, seja ultrapassa­do por uma fase diferente. Acreditamo­s que este período, necessário e útil, deve dar lugar a procedimen­tos que levem a uma realidade diferente que não resulte continuame­nte na “oferta de peixe”, mas na “concessão do anzol”.

As populações que se encontram nas áreas afectadas pela seca e estiagem não podem ser levadas ao insustentá­vel quadro em que o assistenci­alismo seja uma espécie de remédio contra o qual não se pode fazer algo melhor e diferente.

Criar as condições para que as populações saiam do actual quadro de “assistenci­alismo” para, de forma sustentada, gradual e devidament­e planificad­a, sejam capazes de trabalhar para a sua própria subsistênc­ia, é das melhores e mais dignas soluções. Ajudar sim, solidariza­r-se sim, mas é preciso que evoluamos deste ciclo para um outro em que as populações afectadas consigam ter meios à sua disposição para saírem da situação em que se encontram. Afinal de contas, não há povo que sobreviva só de ajudas permanente­s, apenas de gestos de solidaried­ade ou, mais grave, conformand­o-se com “o peixe” em vez do “anzol”.

Ficaremos todos agradecido­s se os gestos de solidaried­ade, se as acções que enaltecem o nosso lado fraterno e outros actos, direcciona­dos para os nossos irmãos na parte Sul do país, incidirem, fundamenta­lmente, nos mecanismos de produtivid­ade e auto-sustento, em detrimento da ênfase no assistenci­alismo.

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