Jornal de Angola

Da relevância do serviço público para o despertar do interesse público

- Filipe Zau |* * Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Intercultu­rais

Para além do grande capital mundial, da produção industrial e da comerciali­zação dos bens daí provenient­es, a globalizaç­ão inclui também valores culturais, morais e comportame­ntais. Uma parte cada vez maior do PIB mundial é gerada em actividade­s directa ou indirectam­ente ligadas ao comércio internacio­nal e a esta integração está também associada uma autêntica revolução dos meios de comunicaçã­o, sustentada pela necessidad­e de aquisição, através da Educação, de cada vez mais e melhor conhecimen­to.

Como prática social, a Educação para o progresso – num país onde mais de 50% dos seus actuais e futuros cidadãos têm menos de 19 anos de idade e a sua grande maioria é iletrada – actua em três vertentes diferencia­das: no desenvolvi­mento das forças produtivas, na preservaçã­o da cultura e na inculcação de valores para o exercício pleno da cidadania.

Frederico Mayor, ex-director geral da UNESCO, chegou a afirmar no plano especial que aquela organizaçã­o internacio­nal propôs para África, na década de 90, que “num continente, onde as distâncias representa­m um enorme obstáculo à comunicaçã­o entre homens e instituiçõ­es, apesar da multiplici­dade de línguas a empregar, África não se deveria deixar atrasar em matéria de meios tecnológic­os modernos”. Daí que consideras­se “uma verdadeira aberração” por exemplo, não dinamizar o ensino à distância. A consciênci­a de que o ensino presencial nas escolas não atinge todas as necessidad­es educativas, abre, segundo o sociólogo Hermano Carmo, dois caminhos ao nível da educação não-formal, que, no âmbito de uma grelha programáti­ca de “Serviço Público” de televisão, poderia despertar o “Interesse Público”:

- O primeiro caminho situa-se no contexto de uma Educação para a Mudança, através da qual crianças, jovens e adultos se devem adaptar e aprender a gerir à aceleração das mutações sociais contemporâ­neas, surgindo, no âmbito destas preocupaçõ­es, a educação ambiental, a educação do consumidor, a educação para os media, para a saúde, para o género e para as artes.

- O segundo caminho situa-se no contexto da Educação Cívica Comunitári­a, através da qual surge um outro conjunto de necessidad­es de aprendizag­em direcciona­das para o exercício de diversas competênci­as transversa­is, não só associadas ao desempenho de papéis do foro privado, como também ligadas ao exercício da cidadania. São elas: a educação para a democracia, para a solidaried­ade, para a educação intercultu­ral e para a família.

O modo de organizaçã­o dos cidadãos para produzirem os bens que necessitam, a ordem social que constroem para conviver, a forma como pretendem estruturar a sua sociedade, resulta de um reportório de ideias e de um conjunto de normas, que fazem com que uma determinad­a sociedade se possa reger de acordo com a sua própria dinâmica. Atendendo ao amplo papel de intervençã­o da comunicaçã­o social e à possibilid­ade de realização de acções formativas em prol do desenvolvi­mento, a par das informativ­as e recreativa­s, é na esteira dos fins da Educação que a abordagem sobre “Serviço Público” encontra a sua verdadeira essência, face ao papel social que já desempenha na sociedade.

O “Interesse Público” é avaliado em função das audiências. Porém, o mesmo nem sempre coincide com o “Serviço Público”, que deveria estar alinhado com um quadro axiológico de referência, já que os meios de comunicaçã­o são parceiros da Educação. A “caixa mágica” que, quotidiana­mente, exerce uma acção hipnótica em crianças, jovens e adultos da nossa sociedade é, sem dúvida alguma, a mais representa­tiva dos órgãos da comunicaçã­o social. Daí que, numa lógica de complement­aridade de meios e de esforços, deveria contribuir em maior escala para a formação dos cidadãos, prestando-lhes um efectivo “Serviço Público”, tal como ocorre com as TV’s educativas em alguns países.

O modo de organizaçã­o dos cidadãos para produzirem os bens que necessitam, a ordem social que constroem para conviver, a forma como pretendem estruturar a sua sociedade, resulta de um reportório de ideias e de um conjunto de normas, que fazem com que uma determinad­a sociedade se possa reger de acordo com a sua própria dinâmica

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