Da relevância do serviço público para o despertar do interesse público
Para além do grande capital mundial, da produção industrial e da comercialização dos bens daí provenientes, a globalização inclui também valores culturais, morais e comportamentais. Uma parte cada vez maior do PIB mundial é gerada em actividades directa ou indirectamente ligadas ao comércio internacional e a esta integração está também associada uma autêntica revolução dos meios de comunicação, sustentada pela necessidade de aquisição, através da Educação, de cada vez mais e melhor conhecimento.
Como prática social, a Educação para o progresso – num país onde mais de 50% dos seus actuais e futuros cidadãos têm menos de 19 anos de idade e a sua grande maioria é iletrada – actua em três vertentes diferenciadas: no desenvolvimento das forças produtivas, na preservação da cultura e na inculcação de valores para o exercício pleno da cidadania.
Frederico Mayor, ex-director geral da UNESCO, chegou a afirmar no plano especial que aquela organização internacional propôs para África, na década de 90, que “num continente, onde as distâncias representam um enorme obstáculo à comunicação entre homens e instituições, apesar da multiplicidade de línguas a empregar, África não se deveria deixar atrasar em matéria de meios tecnológicos modernos”. Daí que considerasse “uma verdadeira aberração” por exemplo, não dinamizar o ensino à distância. A consciência de que o ensino presencial nas escolas não atinge todas as necessidades educativas, abre, segundo o sociólogo Hermano Carmo, dois caminhos ao nível da educação não-formal, que, no âmbito de uma grelha programática de “Serviço Público” de televisão, poderia despertar o “Interesse Público”:
- O primeiro caminho situa-se no contexto de uma Educação para a Mudança, através da qual crianças, jovens e adultos se devem adaptar e aprender a gerir à aceleração das mutações sociais contemporâneas, surgindo, no âmbito destas preocupações, a educação ambiental, a educação do consumidor, a educação para os media, para a saúde, para o género e para as artes.
- O segundo caminho situa-se no contexto da Educação Cívica Comunitária, através da qual surge um outro conjunto de necessidades de aprendizagem direccionadas para o exercício de diversas competências transversais, não só associadas ao desempenho de papéis do foro privado, como também ligadas ao exercício da cidadania. São elas: a educação para a democracia, para a solidariedade, para a educação intercultural e para a família.
O modo de organização dos cidadãos para produzirem os bens que necessitam, a ordem social que constroem para conviver, a forma como pretendem estruturar a sua sociedade, resulta de um reportório de ideias e de um conjunto de normas, que fazem com que uma determinada sociedade se possa reger de acordo com a sua própria dinâmica. Atendendo ao amplo papel de intervenção da comunicação social e à possibilidade de realização de acções formativas em prol do desenvolvimento, a par das informativas e recreativas, é na esteira dos fins da Educação que a abordagem sobre “Serviço Público” encontra a sua verdadeira essência, face ao papel social que já desempenha na sociedade.
O “Interesse Público” é avaliado em função das audiências. Porém, o mesmo nem sempre coincide com o “Serviço Público”, que deveria estar alinhado com um quadro axiológico de referência, já que os meios de comunicação são parceiros da Educação. A “caixa mágica” que, quotidianamente, exerce uma acção hipnótica em crianças, jovens e adultos da nossa sociedade é, sem dúvida alguma, a mais representativa dos órgãos da comunicação social. Daí que, numa lógica de complementaridade de meios e de esforços, deveria contribuir em maior escala para a formação dos cidadãos, prestando-lhes um efectivo “Serviço Público”, tal como ocorre com as TV’s educativas em alguns países.
O modo de organização dos cidadãos para produzirem os bens que necessitam, a ordem social que constroem para conviver, a forma como pretendem estruturar a sua sociedade, resulta de um reportório de ideias e de um conjunto de normas, que fazem com que uma determinada sociedade se possa reger de acordo com a sua própria dinâmica