Jornal de Angola

As visitas da mulher do Disa

A festa foi linda. Correu tudo bem. Houve sumos, gasosas e até caçungueno para os mais velhos. Como sempre, os candengues (miúdos), que já têm responsabi­lidade de kota (mais velho) com juízo só foram ferrar (dormir), quando todos os convidados e patos (nã

- Pereira Dinis

“De forma diplomátic­a, Mamungua explicou a filha, que, também, já teve problema igual com a nganvive (mãe) dela e até já lhe foi ao pescoço. Mas nunca foi a casa de ninguém”

Há visitas, de quem quer que seja, que às vezes incomodam, principalm­ente quando é fora de horas. Mamungua e os seus netos que vivem com ele, o Cimi, que tem a obrigação de ver quem é o militar que quer entrar no cúbico (casa), o Cig, com o papel de ver tudo o que está a acontecer nos arredores, o Teguefea, com a responsabi­lidade de não permitir a entrada de qualquer pessoa, e o Sinfo, cuja responsabi­lidade é relatar tudo o que viu e ouviu, deram uma pequena festa sábado passado.

A festa foi linda. Correu tudo bem. Houve sumos, gasosas e até caçungueno para os mais velhos. Como sempre, os candengues (miúdo), que já têm responsabi­lidade de cota (mais velho) com juízo só foram ferrar (dormir), quando todos os convidados e patos (não convidados) saparam (saíram).

Mas o Mamungua, depois de trancar os débitos (portas) preferiu campar (dormir) na sala. Quando passava da meia noite, alguém bateu à porta, o que não é normal. Mamungua assobiou e os netos acordaram e tomaram as suas posições.

O Cimi galou (viu) que não era um militar. O Cig domou (viu) que era uma pessoa inofensiva, o Teguefea deu a certeza de que quem estava a bater não tinha as condições de entrar naquela casa de pau-a-piqui e o Sinfo já tinha todo relatório e garantiu ao ngavive (o avó) que poderia ir ter com o visitante.

Quando o Mamungua abre a porta depara-se com a sua filha, a terceira, que zolou (casou) em Janeiro desse ano. Não lhe permitiu que entrasse e começou por perguntar o que é que se passava. A Difuba só dizia: - Aquele bandido. É aquele bandido.

Mamungua não estava a entender nada e voltou a perguntar: - Mais qual bandido? Este bandido não tem nome? A Difuba respondeu que era o seu marido, o Disa que sempre lhe chateia, quando sai não sei aonde e volta a meianoite as cinco. Mamungua voltou a perguntar: - Mas alguém te deu este marido? Não é você que escolheu?”

Diplomatic­amente, Mamungua explicou à filha, que, também, já teve problema igual com a nganvive (mãe) dela e até já lhe foi ao pescoço. Mas nunca foi a casa de ninguém. E aconselhou o seguinte. - Minha filha aqui não vais dormir. O que lhe aconselho é ir falar com as tuas tias, com as mamãs da OMA, da LIMA, do Ministério da Acção Social e Promoção das Mulheres, com as mulheres parlamenta­res e as mamãs das igrejas para te ensinarem como é que se resolve esse problema de casal a meia-noite e as cinco. Por isso deixa aqui o miúdo e pelo mesmo caminho em que vieste regressa para a tua casa. Ouviu bem!.

A Difuba entregou a criança ao Mamungua e a verdade é que as 10 horas, ela, toda sorridente, ligou para o nganvive a avisar para não sair, porque o Disa comprou uns bons vinhos e ela já tinha feito uns grelhados para almoçarem.

Mamungua respondeu que não havia maka nenhuma, mas que estava com os cambas (amigos) da sua pinha (de infância) e alguns candengues (miúdos), que de quando em vez lhe fazem companhia.

- Já estás a ser uma mulher. Já consegues resolver os teus problemas. Assim já é bom e isso de, qualquer coisa, vir na casa da mamoite, do papoite ou na daqueles que se acham sofisticad­os, eu do mbila (Sambizanga), filho de Caxito, comigo não.

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DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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