Emprego pode desencorajar a juventude no uso de drogas
“Os traficantes lucram facilmente”, disse o chefe de Departamento do Narcotráfico do SIC Namibe, referindo ser esta razão da adesão dos jovens e não só a este flagelo
A directora do Instituto Nacional de Luta Anti-Drogas (INALUD) alertou as autoridades para a necessidade da criação de emprego para os jovens, de modo a evitar que enveredem pelo consumo de substâncias entorpecentes.
Ana Graça, que falava na abertura da Conferência Internacional sobre as Drogas, realizada até sexta-feira, em Moçâmedes, província do Namibe, solicitou a intervenção da Ordem dos Advogados e das mulheres de carreira jurídica, a julgar pelo papel que desempenham na reconciliação e unidade das famílias.
A responsável considera fundamental a presença dos parceiros da sociedade civil, dos amigos e outros agentes que se identificam com esta “nobre causa”.
A directora do Inalud disse que existe um grupo de mulheres que, por falta de amor-próprio e afecto, permitem que no seio das famílias, crianças, adolescentes e jovens fiquem privados da presença diária dos seus pais, prejudicando-os a tal ponto que os mesmos se desviam para o mundo das drogas, com consequências de patologias de fórum mental.
O especialista do Inalud, Sucami André, revelou que o Instituto e seus parceiros controlam, um pouco por todo o país, 7922 toxicodependentes. Salientou que o centro de reabilitação e tratamento de toxicodependentes tem sobre o seu controlo 52 pacientes que passaram, primeiro, pelo gabinete de seguimento psicossocial para fazer o rastreio e a despistagem de outras patologias que ocorrem nesse tipo de pacientes.
O chefe do Departamento de Combate ao Narcotráfico do Serviço de Investigação Criminal (SIC) do Namibe, intendente Fernando Segunda, disse que a proliferação da produção, trafico e consumo de drogas constitui um flagelo universal, que tem levado à ruína milhares de vidas humanas, provocando desestabilização política e socioeconómica de muitos Estados, visto que a droga, a nível mundial, “está longe de ser controlada”, dentro das dimensões socialmente toleráveis.
“A droga constitui preocupação dos Governos e das sociedades no seu todo e Angola encontra-se no contexto dos países engajados nessa luta, sem dar trégua aos produtores, traficantes e consumidores, cujos índices já atingiram níveis preocupantes”, notou.
Fernando Segunda admitiu que o tráfico de consumo de droga tende a aumentar todos os anos, dada a extensão de fronteiras marítimas e terrestres, aliada à falta de meios técnicos e tecnológicos de ponta e o reduzido número de recursos humanos vocacionados ao combate do narcotráfico. Disse que a falta deste elemento, faz com que os traficantes se movimentem com facilidade, permitindo-lhe, desta feita, terem avultados lucros na venda de droga.
“Os traficantes lucram facilmente”, disse, referindo que, com isso, motiva a adesão por parte da juventude e não só a este flagelo que arrasta outros crimes, como o branqueamento de capitais, violações, prostituição, crimes transfronteiriços, imigração ilegal, tráfico de seres humanos e outros.
Indicou que dos vários estudos feitos, a província do Namibe é propensa a este flagelo, por possuir uma longa extensão marítima e comungar fronteiras com as regiões do Cunene, Huíla e Benguela, cujas rotas preferenciais são por terra, desviando-se do controlo da Polícia.
“Assiste-se o envolvimento de nacionais e estrangeiros no tráfico e consumo de drogas e de liamba, de produção local, tal como as importadas cocaínas, crackies e outros depressores. Estas últimas para a sua obtenção implica custos onerosos”, sustentou. O responsável considerou preocupante o fenómeno de droga, uma vez que o número registado aponta para uma reflexão premente sobre o assunto.
Dados estatísticos registados de Junho de 2018 ao mesmo período deste ano, pelo o SIC, no Namibe, apontam para 164 casos de droga, sendo 83 de consumo (destes dois de cocaína), o que resultou na detenção de 242 elementos, dos quais cinco do sexo feminino.
Neste período foram ainda apreendidas oito gramas de cocaína, 454 mil 458 gramas de canábis sativa, vulgo liamba e duas plantas do mesmo produto, liamba. A maior incidência no cometimento desses crimes, segundo o intendente Fernando Segunda, recai na camada jovem, da faixa etária de 16 a 55 anos.
Neste sentido e em função dos dados, o SIC, segundo o responsável, manifesta preocupação quanto ao flagelo na cidade de Moçâmedes, em particular, e garante tudo fazer para lutar contra as causas que motivam o consumo e a dependência química, primando pela acção pedagógica, no âmbito económico e até espiritual, que pode ser uma das chaves para encontrar as soluções.
A vice-governadora para Área Económica, Política e Social, Josefa Cangombe agradeceu ao Inalud pelo facto de ter escolhido a província do Namibe para a realização da Conferência internacional.
A proliferação da produção, tráfico e consumo de drogas constitui um flagelo universal, que tem levado à ruína milhares de vidas humanas